sábado, 25 de abril de 2009

(E O AMOR QUE AGUARDE)


Tela de minha amiga Horleni
Foto by Fernando Campanella

Quero-te inteira, impossível, e nua
No ruído
Na sonância das harpas

No silêncio
Dos passos da noite na rua

Quero teu corpo, teu retrato
Teu astro

- gênese e posfácio -

Quero o templo absoluto de teu quarto

- E Tua memória,
Dor de minha ausência,
Pedra angular de minha estória -

Quero-te como ninguém assim quis
Como um moinho de ventos
Como sombra feliz

Com o sortilégio dos deuses
Com furor
Com a subserviência dos santos
Com pudor

Na fartura, na insolvência

Com a senha da morte
Com o desencanto
Com a estrela do norte

Quero-te carne em arte

(E o amor que aguarde -
O amor é coisa outra:
É trégua ou sorte)


Fernando Campanella








quinta-feira, 23 de abril de 2009

ANIMA


Foto by Fernando Campanella

Há um momento de errância
da distância que abres nos ventos.
É quando te chamo
E não me atentas.

Há este tempo em que me deixas,
tua sombra espúria
singrando a dormência dos lagos.

Mas meu sol de novo te acende
em algum instante
quando a alma de novo
consentes.

Não vês que mudo a sorte
que tenho a senha dos tempos

e que os gansos de longe
agora em teu verão adentram?

Então,
de teu cinza- morte
tua paisagem
é toda agora canto
e procriação.
Fernando Campanella

ANIMA (MILTON NASCIMENTO)


http://images.amazon.com/images/
P/B0000046J5.01._SCLZZZZZZZ_.jpg


Ouça 'Anima' , música de José Renato
e letra de Milton Nascimento:

http://www.youtube.com/watch?v=lRGMJiB6O8o

Lapidar
Minha procura toda
trama lapidar
o que o coração
com toda inspiração
achou de nomear
gritando: alma
Recriar
cada momento belo já vivido
e ir mais
atravessar fronteiras do amanhecer
e ao entardecer
olhar com calma
entãoAlma, vai além de tudo
o que o nosso mundo ousa perceber
casa cheia de coragem, vida
tira a mancha que há no meu ser
te quero ver
te quero ser
alma
Viajar nessa procura toda
de me lapidar
neste momento agora de me recriar
de me gratificar
de busto, alma, eu sei
casa aberta
onde mora o mestre, o mago da luz
onde se encontra o templo que inventa a cor
Animará o amor
Onde se esquece a paz
Alma, vai além de tudo
o que o nosso mundo ousa perceber
casa cheia de coragem, vida
todo o afeto que há no meu ser
te quero ver, te quero ser
alma
(Milton Nascimento)

A VIDA, ENFIM


Foto by Fernando Campanella

Se nascemos para o amor
para a celebração, não oficial, da vida,
não deixe, Deus, que eu me afogue
nas emboscadas de meus dissídios.
Venha a mim, a centelha exata
que relumbra , atravessa os pântanos
e inebria os párias.

Um mundo, enfim,
sem cifras nem mágoas.

Fernando Campanella, 1986

terça-feira, 21 de abril de 2009

POEMAS ANTIGOS


Julio César*
http://marius70.no.sapo.pt/julio%20cesar.gif



Olhai os animais do campo
que não torturam
nem vilipendiam
e lembrai aos ditadores
que não obstante seu fausto
jamais tiveram um sono pleno
como o deles.

Fernando Campanella, 1985


*" Na Roma antiga, quando a república enfrentava situações muito graves, os cônsules designavam um ditador que assumia todos os poderes até que se restabelecesse a normalidade...Modernamente, o conceito de ditadura aproxima-se mais da idéia de tirania da antiguidade do que da ditadura romana...Platão e Aristóteles enfatizaram que a marca da tirania é a ilegalidade -- o exercício do poder pela vontade absoluta de uma pessoa ou grupo ou a violação da legislação em vigor. Suas descrições de tiranias na Grécia antiga e na Sicília têm características muito próximas das formas que as ditaduras modernas adotam. Como os tiranos descritos, os ditadores ganham o controle social e político despótico pelo uso da força e da fraude. A intimidação, o terror e o desrespeito às liberdades civis estão entre os métodos usados para conquistar e manter o poder. A sucessão nesse estado de ilegalidade é sempre dificil."

Texto retirado do site: http://www.sosestudante.com/historia/ditadura.html

segunda-feira, 20 de abril de 2009

ANTÍQUA (I)


Foto by Fernando Campanella

Meu coração tem o lirismo rude
das charnecas (acridoce palavra).
Chegam os ceifeiros e o cortam -
arrancam –lhe os capins e os piolhos -
mas traz a teimosia,
a suave resistência dos restolhos
(bela palavra) : tosa-me o tempo ,
retrocedo, tudo me desaba
mas o que me podam é o que cresço.

Fernando Campanella

ANTÍQUA (II)


Foto by Fernando Campanella

Ali entre os juncais
a face de um deus esquecido
reberverava na tarde –
tua alma é antiga, junta-te a nós –
chamavam -me os juncos,
e tremiam
ao meu silêncio que era um vento
que eriçava a memória da água.

Fernando Campanella