O menino da casa ao lado solta uma pipa vermelha - descarrega, puxa, assovia. Testa a liberdade ao vento como se com uma lua, agora cheia, brincasse.
Já quase noite, a mãe, da janela, o chama várias vezes para o lanche e a rotina dos deveres escolares.
Esse casulo, sob o acalanto da lua, reminiscências de minha infância, totalmente feliz me poria, não fossem meus pensamentos de outras pipas, outras janelas, não tão longe, de geografias mais desprovidas, onde mães em pavor invocam seus santos, chamando os filhos para dentro, para o incerto abrigo embaixo da mesa, atrás do sofá, sob a ameaça de balas perdidas de um tiroteio a começar.
Meninos voam com sonhos, talvez de um Einstein, um Mandela, ou mesmo de um cidadão do bem, como seu pai, quando infantes. Porém, às vezes, cordéis se envenenam, as pipas desgarram e vão, sabe lá Deus aonde, à revelia da infância, pousar.
(Certas ruas certas ruas têm um bosque - armadilhas - que se chamam que se chamam exclusão...)
Percebo neste inverno, no meu jardim, que um broto de ixora (Ixora Coccinea) recebe a luz do sol diretamente sobre seu corpo pouco depois das 4 da tarde. São alguns minutos de uma transformação que corteja o milagre. A planta parece namorar aqueles raios tão fugazes, ainda que intensos.
E a simbiose se afirma, tudo fica mais bonito, embora a sombra logo se imponha, com o peso do frio das noites de julho.
Acredito que, passada a estação das águas, a raiz fincada na terra, este broto encontra na gratidão, na plena entrega à luz por tão rápidos minutos, a força e a alegria para medrar por aqui.
Esta é a expressão da beleza a que consigo chegar. Gostaria de ir mais adiante, entender as razões, os porquês desta alquimia arbórea, porém, como diz o poeta norte-americano, Robert Frost, "alguma coisa tem que ser deixada para Deus".
Rodrigo amava Diogo que amava Bruna que amava Raissa que amava Bianca e Thiago que não amavam ninguém. Rodrigo foi para Miami, Diogo para Caracas. Bruna morreu de overdose, Raissa, vítima de assalto. Bianca converteu-se crente, Thiago, transexual, virou Yasmin e entrou em união estável com P. J. Collins, empresário americano que não tinha entrado na história. Fernando Campanella
(Com a licença do mestre Drummond, um aggiornamento que fiz de seu poema "Quadrilha", publicado em 1930)