domingo, 21 de agosto de 2011

E MINHAS ÁGUAS ORDENARÃO SEU CURSO


Foto por Gaëtan Bourque, do Flickr.

Deixa-me beber do liberado vinho
entoar meu íntimo canto
que a opressão dentro de mim dói
e quero a plenitude dos campos
dos gansos de arribação

que me fique o espaço para ouvir o vento
e o silêncio que o vento assopra
nos interstícios das águas

- não quero asas desjuntas-
deixa-me o corpo em vida, e a fantasia ,
para que das vias torpes não desfolhe eu
apenas as pétalas frias

deixa-me ser o que somos , amplamente,
na multidão dissonante dos eus

deixa-me assim até que te perceba
e apaziguado te toque

e minhas águas ordenarão seu curso
e minhas ilhas já não serão sem braços.

(Fernando Campanella, 1988)