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A notícia sobre Tibetanos manifestando-se, na Índia e no Nepal, contra a ocupação de seu território pela China, aos cinqüenta anos de uma fracassada sublevação que levou o Dalai Lama e autoridades do Tibet ao exílio na Índia, motiva-me a releitura de um livro dentre os definitivos em minha vida, ‘Liberdade no Exílio – Uma autobiografia do Dalai Lama do Tibet’, Editora Siciliano, 1992.
O relato completo, dramático, pelo líder político e espiritual, desta saga, sua fuga para a Índia, em 1959, assim como da deterioração da cultura e das condições de vida do povo tibetano pós- invasão, é apresentado no livro de uma maneira objetiva, com honestidade histórica, ao lado de uma grande demonstração de amor por sua tradição e sua gente, e de uma defesa da livre determinação dos povos.
Por ser uma autobiografia, fatos de seu nascimento, sua infância, passando pelo processo de escolha e de sua unção como décimo quarto Dalai Lama, sua adolescência e treinamento na palácio Potala em Lhassa, e sua fase adulta como governante, são o fio condutor destas memórias que nos desvendam mistérios e belezas das tradições e rituais budistas.
E é no pensamento, na visão budista do mestre que se encontra o maior encanto deste seu relato. O Dalai Lama, em uma bela, poética, narrativa, nos revela toda sua simplicidade, sua compaixão a todos os seres vivos, por um lado. Em outra vertente, mostra-se aberto a um diálogo entre o Budismo e a Ciência e a outras religiões. Firmado na tolerância, acredita que diferentes culturas, crenças, etc., possam encontrar um denominador comum e cooperarem para o progresso espiritual da humanidade.
O Budismo, com seu conhecimento sobre os vários níveis de consciência, suas técnicas de meditação para um maior autocontrole e uma percepção mais afinada com a realidade espiritual, tem muito a ensinar para um ocidente extremamente polarizado na competição e no conforto material. O princípio do respeito como condição para nossa evolução e aperfeiçoamento, a compaixão a tudo que vive, de plantas, insetos, a seres humanos, vivos e mortos, faz também desta doutrina milenar uma precursora das idéias ecológicas que os ocidentais vêm tomando consciência a partir do século passado. Tudo isso emana das palavras e atitudes de Sua Santidade o décimo quarto Dalai-Lama do Tibet, neste livro.
Por sua luta pacífica incansável pela libertação de seu povo e pelo entendimento entre os homens, inspirada em Mahatma Gandhi, o Dalai- Lama recebeu, merecidamente, o prêmio Nobel da Paz em 1989. Seu discurso de aceitação termina com a reafirmação de seu propósito desde que exilou-se do Tibet:
“... O prêmio reafirma nossas convicções de que, com a verdade, a coragem e a determinação como nossas armas, o Tibet será libertado”.
De uma amiga, que o viu pessoalmente no Brasil, ouvi o seguinte: “ O Dalai-Lama é para mim o maior líder espiritual da terra. Ao vê-lo passando, senti um ventinho de Deus”.
Fernando Campanella, 10.03.2009
http://indiagestao.blogspot.com/2009/01/mantra-om.html