Automat, 1927, tela por Edward Hopper
A minha musa fechou o tempo -
eu canto um blues e não me invento
eu miro o lago e só me lembra
a funda ausência -
sem meus fantasmas
não finco pés
não me sustento.
( Poema da série 'O Eu Confesso',
Fernando Campanella)
Ao buscar uma ilustração para esta postagem, deparei-me com o blog de Andréa, 'Por um triz', onde vi este texto, assinado por ela, que, acredito, de alguma forma enquadra-se no poema acima:
"Para os antigos gregos, Mnemósyne era a deusa da memória, a mãe das nove musas que inspiraram os artistas. Seu simbolismo define que a memória precisa ser criada pelas artes. Numa civilização oral, como foi a grega, nada mais compreensível que a divinização da memória.
A memória é a mãe das artes, por meio delas é que mantém sua existência. Por isso ela presidia a poesia, permitindo ao poeta saber e dizer o que os "outros" não sabiam.
Que a memória seja mãe das musas significa que a lembrança é a mãe da criatividade. Na filosofia dinstinguiam-se dois modos de rememoração: Mneme, arquivo disponível que se pode acessar a qualquer momento e Anamnese, memória que está guardada em cada um e pode ser recuperada com certo esforço. A primeira envolve um registro consciente, enquanto a segunda manifesta o que há de inconsciente. A memória era a deusa que permitia a conexão com os mortos, com o que passou, inclusive com o que poderia ter sido, com o que, para sempre, não mais nos pertence... "
Vídeo: Nina Simone, I put a spell on you.