Foto by Fernando Campanella
Revisito, pela manhã, o conservatório de música da cidade. Em seus recintos, deixo, como sempre, meu espírito vagar, divagar, em eras passadas, ao som de flautas, pianos... A música eterna, a alma ritmada dos mestres, pairando nos corredores, escoando pelos beirais.
Escolas de música, assim como as bibliotecas, sempre exerceram um fascínio sobre mim, lembrando-me o trabalho dos copistas que preservaram o tesouro do pensamento clássico da total destruição pelos bárbaros. Nelas também se resguarda uma tradição, uma memória cultural que acolhe as almas sensíveis, sedentas do que o espírito da arte nos legou.
Quando me desgastam os ruídos da modernidade, do cotidiano, ali me refugio, por uns instantes, forjando, sempre, alguma desculpa a mim mesmo, como rever algum amigo que lá trabalhe, farejar alguma exposição de arte. Mas sei que o que realmente me motiva é a necessidade de uma suave , mais sadia alienação.
Na visita de hoje, algum aluno tocava ‘Clair de Lune’ ao piano, outro esforçava-se em uma peça de Lully, adaptada para flauta. Um coral ensaiava um madrigal do século XV. Diferentes estilos, um só espírito, uma só intenção: tocar, cantar, celebrar a vida, como o ofício das ancestrais, incorrigíveis, cigarras.
Visitar esses templos da música sempre me traz essas já conhecidas surpresas: a harmonia sempre reencontrada. Isso já seria mais que suficiente para reabastecer meu dia.
Mas eis que sem aviso, na visita de hoje, um bem-te-vi pousou na janela do corredor da escola, perto da sala de aulas de flauta doce. Demorou-se ali por alguns segundos, coçou as penas com o bico e de repente fez gracioso movimento que, à minha percepção, mais pareceu uma cena de bucólica dança.
Talvez, como eu, atraído pelos ecos de longínquos pastores, viria o bichinho ali, ocasionalmente, bebericar daquelas fontes, daqueles doces sonoros festivais. Ou, quem sabe, também como eu, a ave se sentisse esgotada , ás vezes, com a poluição sonora, os fios e a agitação das cidades modernas, ali buscando conforto.
Quem sabe? Mas não importa. A atmosfera do local, a convivência entre as eras musicais, a serenidade possível de minha alma, o som da flauta, e mais o bem-te-vi a ouvir, a dançar, tudo transformou-se em minha mente, na manhã, em uma roda holística, encantada.
Escolas de música, assim como as bibliotecas, sempre exerceram um fascínio sobre mim, lembrando-me o trabalho dos copistas que preservaram o tesouro do pensamento clássico da total destruição pelos bárbaros. Nelas também se resguarda uma tradição, uma memória cultural que acolhe as almas sensíveis, sedentas do que o espírito da arte nos legou.
Quando me desgastam os ruídos da modernidade, do cotidiano, ali me refugio, por uns instantes, forjando, sempre, alguma desculpa a mim mesmo, como rever algum amigo que lá trabalhe, farejar alguma exposição de arte. Mas sei que o que realmente me motiva é a necessidade de uma suave , mais sadia alienação.
Na visita de hoje, algum aluno tocava ‘Clair de Lune’ ao piano, outro esforçava-se em uma peça de Lully, adaptada para flauta. Um coral ensaiava um madrigal do século XV. Diferentes estilos, um só espírito, uma só intenção: tocar, cantar, celebrar a vida, como o ofício das ancestrais, incorrigíveis, cigarras.
Visitar esses templos da música sempre me traz essas já conhecidas surpresas: a harmonia sempre reencontrada. Isso já seria mais que suficiente para reabastecer meu dia.
Mas eis que sem aviso, na visita de hoje, um bem-te-vi pousou na janela do corredor da escola, perto da sala de aulas de flauta doce. Demorou-se ali por alguns segundos, coçou as penas com o bico e de repente fez gracioso movimento que, à minha percepção, mais pareceu uma cena de bucólica dança.
Talvez, como eu, atraído pelos ecos de longínquos pastores, viria o bichinho ali, ocasionalmente, bebericar daquelas fontes, daqueles doces sonoros festivais. Ou, quem sabe, também como eu, a ave se sentisse esgotada , ás vezes, com a poluição sonora, os fios e a agitação das cidades modernas, ali buscando conforto.
Quem sabe? Mas não importa. A atmosfera do local, a convivência entre as eras musicais, a serenidade possível de minha alma, o som da flauta, e mais o bem-te-vi a ouvir, a dançar, tudo transformou-se em minha mente, na manhã, em uma roda holística, encantada.
Síntese divina? Talvez. Natureza e arte: belos extremos que se tocam.
Fernando Campanella, 10 de setembro de 2008