terça-feira, 7 de maio de 2013

LIMBO

Foto por Fernando Campanella


...E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca...
(T. S. Eliot, “A terra desolada”,
tradução de Ivan Junqueira)

E quando dei por mim
vi um molusco
arrastando nos ombros
o tempo da casa.

Vi um monge rondando em ócio
– o hábito
a chama
e a mariposa alucinada

folhas caducas
espectros
(os ecos, os ecos)
a roda tocada à memória.

Vi a turbulências das moscas
a lava
e a concha sonhando a asa.

Quando cheguei ao limbo de mim
e o vento seguiu
senti um abandono
uma distância sem-fim.

Pesei o silêncio
e o mundo certo
que perdi –

vi a pedra chamando a água.