quinta-feira, 12 de novembro de 2009

DESIDERATA


Foto by Fernando Campanella


A poesia, se um dia de mim se for,
que eu não a renegue, nem de meus poemas
eu diga, ‘ah um dia isto tresloucado eu fiz’.

Quando o tempo da mais morna sensatez
ao chão me puxar , como um laivo de razão
a ensombrar os deuses, e as horas
vierem despidas, desfolhados na vastidão ,
que eu não cerre as pálpebras
e mumure, ' consummatum est,
foi tudo desvio e dissipação’.

E se não mais me vibrarem os tímbalos
e de mim restarem tão somente
o silêncio imune e a cinza amorfa,
que de mim eu me lembre
como um acendedor de palavras,

e que eu me leia, na noite,
como se lêem os mosaicos dos sonhos,
os versos, o melhor de meus atos,
a mais sublime, libertária , rendição.

Fernando Campanella, Novembro de 2008