domingo, 2 de maio de 2010

DÚBIO


Foto by Fernando Campanella

Um dia, alma criança,
ao vento indaguei a idade
e foi o tempo de meus ouvidos
o que obtive como verdade.

Do sol, a mesma questão lançada,
como solução veio-me o tempo
de meus olhos, de minha pele
ao calor e à luz exposta.

Estranhas, dúbias respostas:
o universo a um estalar de minha finitude
então se desmancha, e passa?

Ou trago, dos cumes da criação,
de tudo que brota, rebrota,
a mais irrestrita,
a mais eterna proposta?

Fernando Campanella, Fevereiro de 2008.

Poesia também nasce de circunstâncias, de acontecimentos. O poema acima veio-me após um acidente, uma situação quase limítrofe. Em uma viagem, o carro, desgovernado, chocou-se contra um barranco e capotou. Perdi a consciência por uns dez minutos segundo as pessoas que nos socorreram.

Naqueles minutos desacordado, meu eu, minhas emoções, o universo, tudo perdeu existência. Mas era uma fase feliz a que eu vivia. Se tudo findasse para mim naqueles momentos, findaria em plenitude, e eu nem saberia.

O carro teve que ser guinchado. No retorno à cidade mais próxima, no táxi providenciado pela companhia de seguros, tirei ainda algumas fotos (uma delas acima). Nunca eu vislumbrara o entardecer tão belo como naquele dia, ou talvez eu o estivesse enxergando com os olhos de uma criança em início de contemplação do mundo, e agradecendo pelo que via.

Escolhi para esta postagem uma das músicas que tocava no rádio do carro antes do acidente, 'Bend and Break', uma de minhas preferidas. A banda Keane, com o vocalista Tom Chaplin, faz parte da novíssima geração de astros pops britânicos de grande sensibilidade, ao lado da Coldplay, que, com uma roupagem moderna em suas canções, são mais um elo na corrente do romantismo eterno.