domingo, 10 de outubro de 2010

O PÁSSARO AZUL (A CHARLES BUKOWSKI)


(Charles Bukowski)

o pássaro azul -
que saibam as putas,
os estafetas,
os solitários do bar -
o pássaro azul não vai foder
com meu emprego
ou me enlouquecer

nem a venda de meus livros
(que não editei) irá na Europa
arruinar

porque o soltei, não se fez abutre,
ave do terror
ou qualquer esfinge alada,
odiosa e indecifrável,
que desde a idade do homem
vive para me atormentar


o pássaro azul
quis apenas território próprio,
voo alçado
entre meu encantamento
e sina,
a solidão de poder tantas vezes
torcer o nariz ao mundo -


a prerrogativa,
me entenda, Bukowski,
de enternecer, de chorar.

Fernando Campanella


Poema Blue Bird, Pássaro Azul, de Charles Bukowski:

há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados do bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois ,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morre de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?
(Charles Bukowski)