Muchoco, Foto by Fernando Campanella
Meu itinerário neste sábado frio de Julho é uma visita a uma paineira que vi há exatamente um ano, ao lado da cachoeira da Usina. Naquele julho passado, ela erguia-se grandiosa, desprendendo suas painas, um suave lençol de algodão a seus pés, evocando tempos de maturidade e desapego no final de tarde.
E hoje saio na tarde para registrar em foto aquele mesmo branco, seus flocos , alguns soprando ao vento, outros cobrindo o chão. Mas a estrada, aquele meu particular caminho de Santiago em Minas, me detém em suas outras belezas... Não há pressa, o sol vai lento. Ipês já se cobrindo de roxos e amarelos, as onipresentes flores de São João, as pombas do campo, as legítimas, como dizem, e as enigmáticas árvores secas tomam minha atenção, distraindo-me satisfatoriamente de meu intento.
No meio do caminho, uma árvore toda bordada de flores vermelhas, que eu já vira antes, certamente, mas a que nunca pusera a merecida atenção. Que exuberante paisagem para um foto! Preciso passar por uma porteira para uma maior proximidade dela, e peço licença ao dono da terra, o senhor Tarcísio, que se encontra por perto. Permissão concedida, tiro as fotos, e pergunto ao senhor o nome da árvore. – O povo daqui chama ela de Muchoco, ou Patinho – amigavelmente me diz.
Que nome exótico, misterioso , Muchoco, que me lembra algo em som de x, bochecha, ou muxoxo.... E que também me traz as chaves de um segredo árabe, de um jardim japonês . Não sei se a árvore é nativa, ou se foi trazida da África, como as espatódias, ou do Oriente... Mas absolutamente não importa.
Quando finalmente chego à paineira da Usina, esperando encontrar o mesmo espetáculo daquelas sementes se desprendendo, o que experimento é uma grande decepção. A paineira completamente dissipada, um esqueleto de galhos frios, nenhum fruto, nenhum tapete de painas no chão.
O que acontecera com a cronologia das estações? Voaram aquelas sementes mais cedo? Algum efeito do aquecimento global? O Sr. Luís, dono das terras da cachoeira, me informa que este ano a paineira floresceu em Março e se esvaiu mais cedo. Acontece. Para as árvores não deve haver calendários fixos como, para nós, os aniversários e os natais. Dissipa-se quando sente chegado seu tempo.
Pena não ter eu fotografado a paineira na ocasião da visita anterior . Azar meu que não vivo no campo , que sou um vaga-lume urbano, um romântico tardio. Bastante frustrado, só me resta enfiar a viola no saco e retornar à cidade.
Mas ao sol cadente naquele finalzinho de tarde houve uma súbita revolução de cores no céu, tudo tão intenso, luz sorvendo luz, tons explodindo em tons. E, maravilhado , então mais precavido, captei o possível daquele espetáculo natural em fotos. Depois uma meia-lua brilhou num azul de um quase noturno manto. Outros momentos, outros encantos. Aqueles momentos, assim como o Muchoco, estavam muito bem guardados em minha câmera, essas alegrias agora não me escapam.
Fernando Campanella, 21 de Julho de 2007