quinta-feira, 7 de maio de 2009

METÁFORA


Foto by Fernando Campanella

Já não tento reter do dia
a luz que, por exata, concede
a chama alquímica dos amantes
a doçura de pétalas breves.
O tempo tem o galope das Fúrias
ventos que jamais enternecem.

Melhor correr, da memória, o labirinto,
drenar os aquíferos fundos
e aguardar: o que restar
será na noite a forma intáctil,
o espectro redivivo.

(Mais no mundo me tardo,
mais no comando de sombras
me esmero.)

Deus conceda que me baste
este último apelo de náufrago:
a metáfora,
pétala incorpórea com que me visto.

Fernando Campanella (Julho de 2006)