Foto by Fernando Campanella
Já não tento reter do dia
a luz que, por exata, concede
a chama alquímica dos amantes
a doçura de pétalas breves.
O tempo tem o galope das Fúrias
ventos que jamais enternecem.
Melhor correr, da memória, o labirinto,
drenar os aquíferos fundos
e aguardar: o que restar
será na noite a forma intáctil,
o espectro redivivo.
(Mais no mundo me tardo,
mais no comando de sombras
me esmero.)
Deus conceda que me baste
este último apelo de náufrago:
a metáfora,
pétala incorpórea com que me visto.
Fernando Campanella (Julho de 2006)