São Domingos, foto by Fernando Campanella
“Sou um recém-cogumelo
No pasto-Minas brotado,
Chuvas que caem pra onde se alongam,
Olhos que vêem, o que enxergarão?”
São Domingos, mais uma parcela infinitesimal de Minas que almejo. Indago a uma senhora pelo caminho certo, e sorridente ela me aponta a estradinha de terra e pergunta “Vai rezar lá em cima meu filho?"
São Domingos é uma serra, um paredão de matas verdes, cachoeiras, um bairro e sua gente. E uma igreja construída por devotos. Há alguns anos um rapaz teve visões de Nossa Senhora naqueles altos. Teria recebido revelações apocalípticas e conselhos sobre a urgência da fé e da oração para um rearranjo espiritual do mundo.
No pasto-Minas brotado,
Chuvas que caem pra onde se alongam,
Olhos que vêem, o que enxergarão?”
São Domingos, mais uma parcela infinitesimal de Minas que almejo. Indago a uma senhora pelo caminho certo, e sorridente ela me aponta a estradinha de terra e pergunta “Vai rezar lá em cima meu filho?"
São Domingos é uma serra, um paredão de matas verdes, cachoeiras, um bairro e sua gente. E uma igreja construída por devotos. Há alguns anos um rapaz teve visões de Nossa Senhora naqueles altos. Teria recebido revelações apocalípticas e conselhos sobre a urgência da fé e da oração para um rearranjo espiritual do mundo.
Aquele lugar é tudo da Terra e mais uma aquarela dos deuses. Hospeda e transcende toda inquietação humana. Região mais fria, de ar mais rarefeito, a temperatura cai seis ou sete graus quando lá subimos. Campos de cultivo de milho, de batata, pastos, vacas de leite, bares perdidos à beira da estrada ... Tão acostumado deve estar a gente dali à natureza que não sei se consegue enxergar a beleza de suas araucárias, suas luas e seus pássaros encantados.
Ali vacas mastigam ad aeternum os pastos e, em minha curta visita, eu as mirava contra a paisagem de um sol caindo à boca de um monte, em algum buraco da noite, suave momento em que a terra recolhia a luz.
Passei pela sua igreja lá em cima mas a modernidade forçada de sua arquitetura não me estimulou a entrar. Meu coração se abriga em capelas mais simples, despojadas, onde corujas pousam à noite, em cujo interior imagens de santos são depositadas.
No caminho de volta, pintado entre montanhas, em singelas pinceladas, surgiu um povoado de onde partiam sons – matracas, algum canto sacro, uma litania - naquele entardecer de uma sexta -feira santa. Fiéis portando velas, preparavam-se para uma recomendação das almas.
Passamos por eles , porém ninguém nos olhou. Graves, temerosos de maus espíritos, não se atreveriam, talvez, a distrair os olhos do intuito que ali os reunia. Já deles a uma certa distância, ousei olhar para trás. E vi a alma de Minas, toda misteriosamente clara, tão antiga, entre aquela gente, orbitando aqueles montes.
Fernando Campanella, 5 de abril de 2007