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O mundo apagou as luzes no sábado passado, 28 de Março. Monumentos, marcos históricos, edifícios famosos das grandes cidades do mundo tiveram a iluminação desligada por uma hora em protesto contra o aquecimento global, aderindo à proposta ‘Hora do Planeta’ da ONG ambientalista Worldwide Fund for Nature (WWF).
Tal iniciativa em nível mundial, assim como outras voltadas para a preservação do meio-ambiente, sempre traz à tona a indagação urgente, crucial, sobre o futuro da humanidade na terra. E as perspectivas da sustentabilidade de nosso planeta são um tanto quanto sombrias, como avisam cientistas e ambientalistas, uma vez que os focos nevrálgicos de sua depredação crescem em alarmante proporção geométrica.
A inquirição sobre o destino global faz, assim, com que ativemos nossa imaginação, projetando cenários, alguns apocalípticos, outros um pouco mais otimistas. Entretanto, são tantas as variáveis envolvidas quando se questiona nosso futuro que tais projeções não podem passar mesmo de especulações.
Sobreviveria nossa espoliada Terra aos malefícios que lhe são causados, ou seria ela , com tudo que comporta, que nela vive, restituída ao nada, à condição de partícula, de poeira existencial? Ou colonizaríamos outros mundos, uma vez esgotada a viabilidade, e os recursos, de sobrevivência neste ambiente em que ora vivemos?
Em ‘2001, Uma Odisséia no Espaço’, de 1968, aclamado por muitos críticos de cinema como o melhor filme de ficção científica de todos os tempos, o diretor Stanley Kubrick e o escritor e roteirista Arthur Clarke se reuniram para nos apresentar, em ficção, essa alternativa de povoamento de nosso satélite, a lua, e de outros planetas do sistema solar.
Porém, o que engrandece tal filme não são suas projeções de colonização de outros mundos, nem seus efeitos especiais revolucionários, ganhadores do Oscar à época. Seu conteúdo filosófico é o que o torna referência como grande obra do cinema. Kubrick e Clarke propõem uma alteração da consciência do homem para que empreendamos a viagem cósmica a que parecemos estar pré-destinados.
Essa alteração implicaria, a meu ver, em uma percepção mais profunda de nossa insignificância e solidão perante o universo e da grandeza que podemos adquirir na cooperação, no respeito à existência de tudo que nos precede, nos deu origem, e conosco convive. Imbuídos dessa consciência não mais desbravaremos mundos para posteriormente os depredarmos, os destruirmos.
Com a consciência afinada aos postulados da ética, à quintessência das religiões, da poesia, dos ideais mais nobres da humanidade, será possível cruzaramos o portal das estrelas, atendendo ao chamado do poeta Yeats:
“... Vem embora, ó criança humana,
Para as águas, para esta natureza,
Com uma fada, de mãos dadas,
Pois, mais do que possas compreender,
O mundo é crivado de lágrimas."
(W.B.Yeats, Infância Roubada*, livre tradução de Fernando Campanella)
Neste, ou em outros mundos, teremos, assim, o essencial encanto, essa nossa infância restituída , talvez já sem o nosso corpo físico, vibrando em outros níveis de energia, como filhos renascidos das estrelas, do universo.
Fernando Campanella, 01 de Abril de 2009.
Loreena Mckennit sings 'Stolen Child', lyrics by W.B. Yeats
http://www.youtube.com/watch?v=Q7TkyxVIfuk
STOLEN CHILD
WHERE dips the rocky highland
Of Sleuth Wood in the lake,
There lies a leafy island
Where flapping herons wake
The drowsy water rats;
There we've hid our faery vats,
Full of berrys
And of reddest stolen cherries.
Come away, O human child!
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than you can understand.
Where the wave of moonlight glosses
The dim gray sands with light,
Far off by furthest Rosses
We foot it all the night,
Weaving olden dances
Mingling hands and mingling glances
Till the moon has taken flight;
To and fro we leap
And chase the frothy bubbles,
While the world is full of troubles
And anxious in its sleep.
Come away, O human child!
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping
than you can understand.
Where the wandering water gushes
From the hills above Glen-Car,
In pools among the rushes
That scarce could bathe a star,
We seek for slumbering trout
And whispering in their ears
Give them unquiet dreams;
Leaning softly out
From ferns that drop their tears
Over the young streams.
Come away, O human child!
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than you can understand.
Away with us he's going,
The solemn-eyed:
He'll hear no more the lowing
Of the calves on the warm hillside
Or the kettle on the hob
Sing peace into his breast,
Or see the brown mice bob
Round and round the oatmeal chest.
For he comes, the human child,
To the waters and the wild
With a faery, hand in hand,
For the world's more full of weeping than he can understand.
(Literature Network » William Butler Yeats » The Stolen Child)