sábado, 22 de agosto de 2009

POEMAS ANTIGOS*


Foto by Fernando Campanella

REPASTOS

Penso nas vacas como em um mundo enrolado
- a cosmogonia circunscrita das vacas.
Mas que sei de universos cifrados?
Eu, que suposta ciência tenho da alma,
cultivo angústias do contextualizar.
Sei que os bezerros às vezes param
e me observam
quando por sobre o muro de silêncio os contemplo
- é quando uma súbita luz corta o tempo.

Depois nada mais acontece
a não ser um delicado ruminar de filhotes
absolvendo a tarde das metafísicas inúteis.

Fernando Campanella, 1993.

*Mais algumas palavras sobre meus poemas antigos, focalizando a questão: alterá-los ou deixá-los como estão?
No poema acima optei pela primeira alternativa. Substituí alguma palavra aqui, ali, acrescentei um verso inteiro, o qual acredito ter contribuído para uma iluminação, uma leveza, no tema da incomunicabilidade do poema. O título só foi dado agora, também.

Deixo aqui, as palavras do poeta Yeats quanto ao assunto 'refazer um poema':

The friends that have it I do wrong
Whenever I remake a song
Should know what issue is at stake
It is myself that I remake.

"Aqueles que acham um problema
Quando refaço algum poema
Saibam por que problema eu passo:
É a mim mesmo que refaço."

(Versos de William Butler Yeats em tradução
de Antonio Cicero,