Foto by Ana GonzálezFoto by Ana González
Foto by Ana González
Foto by Ana González
Foto by Ana González
(Acima, as fotos que minha amiga do Orkut, Ana González, paraguaia, residente em Portugal, gentilmente cedeu para esta especial postagem de um poema que fiz ( Capela dos Ossos) sobre o Alentejo.)
MARES NUNCA D' OUTREM NAVEGADOS
Escrever sobre o Alentejo sem nunca ter estado em Portugal, como seria isso possível? Seria como falar do outono de New England sem nunca ter visto in loco as tonalidades de suas folhas nessa específica estação do ano. Ou como falar dos ursos que em nosso inverno nunca vieram hibernar.
E no entanto falamos. E como poetas, cantamos, em nosso ritmo próprio, tanto as paisagens que nos são peculiares, tão nossas, como as que são de outros. Cantamos nossas montanhas, se as temos, nossas planícies, se as desbravamos, nossa gente com quem convivemos. Mas também escrevemos sobre longos desertos que nunca percorremos, divagamos sobre galáxias que jamais viremos a conhecer: os tais 'mares' nunca d'antes, nunca d'outrem navegados.
"Para conhecer o mundo/ Não é necessário viajar pelo mundo..."*, dizia Lao Tsé. Concordo com o pensamento do lendário sábio taoísta, sem tirar o mérito das viagens, que tanto me agradam e infinitos horizontes me abrem. Com esses versos, o velho mestre nos leva a refletir sobre o verdadeiro conhecimento, tão difícil como necessário, do eu mais profundo com seus mitos.
E especialmente quando escrevemos sobre o nosso e os outros mundos, é o espaço mítico que adentramos, a nossa realidade interna, apossando-nos da geografia própria, ou alheia, apenas para transformá-la em símbolos, em matéria de sonho.
Um alentejano poderia escrever sobre Minas sem jamais minha região ter visitado. Eu o entenderia: o imaginário não se limita ao tempo-espaço, tem a sua característica dinâmica por onde transita todo o universo.
O mito é recorrente, eterno, ultrapassa o humano. Independente, caminha com as próprias, teimosas, pernas, é de todos, e ainda não se fixa, não é prerrogativa do Alentejo, nem de Minas, nem de ninguém.
Fernando Campanella
* POEMA 47
A SABEDORIA INTERNA
Para conhecer o mundo
Não é necessário viajar pelo mundo.
Posso conhecer os segredos do mundo
Sem olhar pela janela do meu quarto.
Quanto mais longe alguém divaga,
Menor é seu saber.
O sábio atinge a sabedoria
Sem erudição;
(Lao Tsé, Tao Te Ching)
( O Alentejo) "...é uma saudade sem dor, um sentimento que traz a cada dia esforçado um secreto sabor, a sensação inebriante de que, bem perto de nós, é possível encontrar o paraíso perdido.À vista de todos, o Alentejo é cofre fechado com chave no coração." (http://www.visitalentejo.pt/vpt )
Veja o lindo vídeo sobre o Alentejo: