domingo, 29 de novembro de 2009

CLAIR DE LUNE


Foto by Fernando Campanella


A casa com seus enredos
e hábitos
é um caracol em si mesma
dobrada
tão à luz do sol omissa
vedada
onde a torneira do tempo
respinga os silêncios
de cotidianos fantasmas

abriga a tácita ordem -
medos, trancas e trincados -

mas sob a magia da noite
na poeira deixada
ela se isenta da mecânica do dia
e se sonha um blues
ou um Clair de lune...
e resvala pelo cansaço dos poros
pelos desvãos do telhado.

Fernando Campanella

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

EXÍLIO


Foto by Fernando Campanella


...por que fiz eu dos sonhos
a minha única vida?
(Fernando Pessoa, Cancioneiro)

Meus olhos devem ser faróis
de alguma ilha perdida -
por que faço da imagem
a pátria da minha vida?

Fernando Campanella

domingo, 22 de novembro de 2009

A ARTE DOS OCIOSOS*


Exoesqueleto da cigarra
Foto by Fernando Campanella

(Crônica dedicada ao meu caríssimo amigo poeta José Carlos Brandão)

Tão antiga a lenda da cigarra e a formiga, traduzida e recontada mundo afora... E eu nunca vi uma cigarra ao vivo. Só escutava seu canto tão denotativo do verão.

Das onipresentes formigas, eu sei: na pia da cozinha, nos rodapés, nas árvores, em toda terra, atarefadíssimas, sem pausas para a fruição pura e simples da existência.

Nunca vi uma cigarra ao vivo, ou melhor, hoje quase as vi. Imóveis nas árvores, inúmeras, com seus ferrões como estiletes, semelhantes a escaravelhos de ouro. Ocas, secas... e mortas, seus esqueletos dourados nos troncos.

Em meu desconhecimento desses bichos, um tanto apavorantes à primeira vista, imaginei-as tendo morrido, ali, subindo os troncos, devoradas pelas incansáveis formigas, só lhes restando a carcaça. Haviam morrido de tanto cantar, imaginei. Mas fui às enciclopédias descobrir sobre o mecanismo e processo vitais desses mitológicos insetos.

Ah, então as cigarras põem seus ovos em troncos de árvores, os quais eclodem em ninfas que descem ao subsolo, ali vivendo, na escuridão , por anos e anos. Depois, ainda ninfas, retornam ao ar, subindo pelas árvores . Desfazem-se dos exoesqueletos, tornando -se adultas, em um processo denominado ‘ecdise’, ou ‘muda’.

As cigarras que observei nos troncos haviam me enganado. Não estavam mortas, nem secas. O que eu presenciara foram suas ‘casacas’, seus invólucros dourados. Lá em cima, nos galhos, as espertinhas cantavam, ou melhor, estridulavam , os machos, para atrair as fêmeas.

Melhor ter como respaldo a conhecimento científico, que lança certa luz sobre os mistérios e ciclos vitais da natureza. E é a ciência que, a meu ver, mais enobrece as cigarras. Seres que das masmorras, da escuridão de anos, anseiam pela luz, sofrem metamorfoses, e, na fase final de breves dias, cantam para a glória do amor. Verdade que um canto irritante, a longo prazo, proveniente de seus tímbalos com potentes decibéis.

É fato, também, que, contradizendo o fabulário, esses insetos, na longa fase de ninfas, buscam incansavelmente por raízes para sua subsistência, jamais recorrendo a outros insetos para alimentação.

As formigas, movidas por um inerente mecanismo biológico trabalham, trabalham... Transportam das cigarras as carcaças, porém nem sequer lhes emulam o canto, passam longe de sua magia, de sua graça.

(Fernando Campanella, 14 de novembro de 2008)

Observação: Vejam um complemento a esta crônica em duas postagens anteriores a esta.

*'A arte dos ociosos' é um título de um livro de crônicas de Hermann Hesse.

*Um ano após escrever esta crônica, tive a feliz oportunidade de presenciar e fotografar uma cigarra deixando seu exoesqueleto, ou invólucro, e, em seguida, subir o tronco da árvore, para o acasalamento.

REFABULANDO


Cigarra que já deixou o exoesqueleto e agora sobe
à copa da árvore.
Foto by Fernando Campanella

Estas cigarras toantes
flutuam na sã inconsciência
de um sono.

Estas belezas -
não as perturbes, não as toques -
crepitam em líquidas texturas
de sonho.

Mas se buscares que despertem
afina os ouvidos, achega-te,
imperceptível, leve, e mais leve
e como elas, enquanto verão,
arde então, e canta.

Fernando Campanella

LABORIOSAS


Foto by Fernando Campanella


... onipresentes: na pia da cozinha, nos rodapés, nas árvores, na terra toda, atarefadíssimas, sem pausas para a fruição pura e simples da existência...
Fernando Campanella

sábado, 21 de novembro de 2009

REVELAÇÕES



Recebi da amiga ANA TAPADAS o desafio de completar estas cinco frases:

Eu já....
Eu nunca....
Eu sei...
Eu quero...
Eu sonho...

Estas são minhas respostas:
-
EU JÁ... CHOREI, E MUITO.
- EU NUNCA... ESTIVE NA IRLANDA, MAS GOSTARIA MUITO DE CONHECER ESSE PAÍS.
- EU SEI... QUE HÁ ALGO ALÉM DA EXISTÊNCIA, MAS É UM SABER INTUITIVO, POR ASSIM DIZER.
- EU QUERO...SER LEVE, TRANQUILO, FELIZ.
- EU SONHO... COM UM MUNDO ONDE HAJA COOPERAÇÃO, ONDE TODOS TRABALHEM POR UM, E UM POR TODOS.

As regras são designar cinco blogs, que devem indicar de quem receberam o convite.

São eles:
JOSÉ CARLOS BRANDÃO - www.poesiacronica.blogspot.com

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

MANTIQUEIRA MOUNTAINS


Foto by Fernando Campanella


Do alto destes montes, posso sentir a terra mais quieta, as cidades sem ruídos, as árvores desenhadas em antigas porcelanas chinesas lá embaixo. Destes cumes necessito para abstrair certa leveza da vida, uma energia menos carregada do humano.

Aqui, o silêncio é interrompido apenas pela canção interna do vento, ou por um pio rarefeito de um pássaro, sua mística atravessando o ar.

O mundo visto daqui é uma aquarela cambiando cores ao longo do dia. Ao longe, às vezes, alguma tempestade se encorpa, confunde céus e terra, e passa.

Quando desço destes refúgios, novamente sinto o arsenal das cores carregadas de nossos conflitos. Paciência, não trago ainda a vibração dos santos.

Bênção minha que no silêncio de minhas nascentes me inspiro, que em seus úmidos arcos de cores sobre os montes vez em quando me refrato.

Fernando Campanella

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

IMAGEM DO DIA


Foto by Fernando Campanella


... ali onde tantos se afogam
eu escrevo nas águas...

Fernando Campanella

terça-feira, 17 de novembro de 2009

EM UM JARDIM (TRÊS POEMAS E UM FRAGMENTO)


Foto by Fernando Campanella

... os grilos agora tilintam
e a luz da lua
impregna as árvores de um bálsamo...
(Fragmento de um poema by Fernando Campanella)

I
- solitário cri de um grilo
que acasala outros cris
e crispa de amorosa eternidade
a sonolência úmida do jardim -

II
Dança comigo, dama da noite,
inebria-me do sono do mato
ali conspiro com os trevos
à boca miúda
ali a estridência dos grilos
eu acato.

III
Insetozinho mudo
que passas por minha janela
vê, agora não me escapas:
a mesma luz que nos aproxima
em certo ângulo nos fecha.
Abre o jogo, meu amigo,
também não te perguntas
por que Deus se finge em acaso
por que tudo se veste de nada?

Fernando Campanella

domingo, 15 de novembro de 2009

CAIXA-PRETA ( TUDO ESTÁ DITO)



Obras de poesia Concreta e Neoconcreta:
'Caixa-preta', 1975 e 'Tudo está dito',1974,
por Augusto de Campos e Julio Plaza

Tudo está dito
o dito pelo não dito
tudo ainda está
por se dizer.
(Fernando Campanella)

Sejamos tão somente amigos, minha querida. Evitaremos, assim, a dolorosa espiral de ciúmes, as armadilhas em que nos enfurnamos neste doce labirinto chamado amor.

Eu não mais por ti suspirarei, nem tu por mim. Nem mais estragaremos uma tarde mais-que-perfeita por uma palavra impensada, mal-dita. Não nos enredaremos na desgastante lavagem da roupa suja, na infinita listagem de nossos bravos atos em nome de nosso abnegado e sofrido amor, o saldo sempre posititivo para o próprio lado.

Eu me esquecerei de telefonar, de enviar aquelas flores, tão óbvias e comerciáveis. Viajarás com mais frequência, fruindo mais a vida, sem mim. Dormiremos até mais tarde, em quartos distantes, e prosearemos mais longa e languidamente com nossos outros amigos, sem posterior prestação de contas de onde estivemos , por onde andamos, etc. etc.... Retomaremos o fio rompido de nossa individualidade.

E, sobretudo, seremos mais pacientes , perdoaremo-nos mais sabiamente as omissões e os erros. Abriremos o coração, sem escrúpulos. Amigos até o final de nossos tempos, na alegria e na dor.

Melhor ficarmos assim, então, o que me pouparia até de escrever-te e mails melosos, esdrúxulos como este . Amigos com transparência de alma, como água na luz. Poderíamos abrir sem dedos nossas caixas-pretas, com a mais grata certeza de incondicional compreensão.

Mas assim sendo, suplico-te, somente não me fales de teu novo amor, eu não suportaria detalhes de tua outra alegria.

P.S. Pensando melhor, fica o dito pelo não dito, deixemos nossas caixas-pretas em um mar profundo, lá na fossa das Marianas, ou de Mindanau. E que por lá fiquem, seladas, emudecidas. Ou desapareçam, misteriosamente no triângulo das Bermudas, para todo o sempre.

P.S.II Ah, ia me esquecendo, adoro enviar-te e mails ridículos, dizer-te o já-tão- dito, sempre, amado amor.

Fernando Campanella

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

DESIDERATA


Foto by Fernando Campanella


A poesia, se um dia de mim se for,
que eu não a renegue, nem de meus poemas
eu diga, ‘ah um dia isto tresloucado eu fiz’.

Quando o tempo da mais morna sensatez
ao chão me puxar , como um laivo de razão
a ensombrar os deuses, e as horas
vierem despidas, desfolhados na vastidão ,
que eu não cerre as pálpebras
e mumure, ' consummatum est,
foi tudo desvio e dissipação’.

E se não mais me vibrarem os tímbalos
e de mim restarem tão somente
o silêncio imune e a cinza amorfa,
que de mim eu me lembre
como um acendedor de palavras,

e que eu me leia, na noite,
como se lêem os mosaicos dos sonhos,
os versos, o melhor de meus atos,
a mais sublime, libertária , rendição.

Fernando Campanella, Novembro de 2008

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

LUSÓFONOS*


Laranjas do Alentejo
Foto by Emilio Moitas
http://www.flickr.com/photos/emoitas/page2/

Transcrevo aqui o belo texto que a escritora e professora portuguesa Ana Tapadas escreveu em uma postagem que fez ontem com meus textos 'Capela dos Ossos', e 'Mares nunca d'outrem navegados', em seu blog.

"Publico, hoje, para os meus amigos, um «post» de
Fernando Campanella. Aqui vos deixo a prova viva de que a lusofonia traz num fio da memória a Língua que somos e nos dá um rosto trazido de algures...lá onde nasceram os mitos. Bacia serena de algum mar interno, por onde andámos, velhos persas sem rumo, gregos por ruas de Alexandria quando a cidade vivia um apogeu antigo e rumávamos a Rodes, sabendo que Ítaca estava distante.
Que rumor é este que trazemos na nossa Língua?"

(Ana Tapadas)

Link para o blog da Ana onde está a postagem:


Muito obrigado, minha amiga.


*Lusofonia é o conjunto de identidades culturais existentes em países, regiões, estados ou cidades falantes da língua portuguesa como Angola, Brasil, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e por diversas pessoas e comunidades em todo o mundo.

Segundo Michaelis:
LUSÓFONO:----1- Diz-se do, ou o indivíduo que fala português. 2 Diz-se do, ou o indivíduo ou povo que, não tendo o português como seu vernáculo, fala-o por cultura ou por adoção como língua franca, tal como acontece em regiões africanas e asiáticas que sofreram influência dos antigos colonos portugueses. Ver: lusófone

Fonte:

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

DA AMIZADE*


Foto by Fernando Campanella


"Não caminhe atrás de mim; eu posso não liderar. Não caminhe na minha frente; eu posso não seguir. Simplesmente caminhe a meu lado e seja meu amigo."
(Albert Camus)

Às vezes eu me quedo em certo alheamento do mundo, em uma espécie de mínima entropia, não com um sentimento de tristeza que às vezes nos torna amargos e fechados ao novo, mas com um recolhimento nostálgico, quase sereno , eu diria .

É quando desengaveto cartões postais antigos ( tenho o hábito de guardá-los) e neles reencontro aquelas palavras mágicas, carinhos de amigos distantes que em algum momento, não importa quão longe estivessem, lembraram-se de mim, e me escreveram. E atingiram meu coração com uma doce seta iluminada .

Tenho agora, em minhas mãos, e na memória mais grata, uma dessas mensagens que numa época talvez mais solitária de minha existência, chegou-me de alguém. Em alguns trechos dizia :

“... o frio é intenso, e a chuva constante atrapalha minhas andanças ... Ontem fiquei um tempão parado na Champs Eliysées, abrigado da chuva. Mas o que poderia se tornar um inconveniente, transformou-se em pura magia com as folhas que caíam em movimentos espiralados, a água nas largas calçadas refletindo as luzes de decoração natalina, o vai-e-vem das pessoas em seus modelões variados numa babel de cores e raças, e me peguei refletindo sobre muitas coisas ..”

e mais adiante:

“...mas quero principalmente agradecer a Deus por tudo o que Ele me proporcionou até agora.... saiba que entre tantos agradecimentos, um dos mais importantes foi por ele ter colocado você na minha vida. Acho que nunca te falei, mas eu te amo!”

Amizade é o elo 'achado' na escala da evolução. Mais que os presentes que eventualmente amigos nos ofertem, um certo olhar que pede pouso em nossas almas é o que de melhor recebemos de quem nos ama.

Sejam do nosso convívio físico, diário, ou os virtuais, sejam almas de poetas nos livros que lemos, ou vozes e imagens queridas dos que já nos deixaram, ou mesmo árvores, bichos, amigos transcendem as horas. São filamentos, extensões de anjos que abraçam a terra de pólo a pólo , e por cujas mediação e presença nossos 'ombros suportam o mundo'.

Fernando Campanella, 04 de janeiro de 2007


*Escrevi o texto na data acima. Quatro dias mais tarde tive a notícia do falecimento do amigo, nele referido, em condições trágicas. Aqui, minha gratidão, saudosa memória.

sábado, 7 de novembro de 2009

POEMAS ANTIGOS (ORÁCULO)


2.bp.blogspot.com/.../s320/sibila+de+delfos.jpg
Sibila de Delfos, by Miguelangelo*

A sibila traçou um dia uma estrela
na palma de minha mão.
Vais longe - dizia-me
quando em meu ouvido
profetizava.
Depois em túneis de brumas densas
desapareceu.

Em seu rastro, promessas de portos -
o prurido do tempo
e a auto-gravitação.

Fernando Campanella, 1989.

1) * Foto: Sibila de Delfos na Capela Sistina. Detalhe do afresco do pintor renascentista Miguelangelo. Rafael, outro pintor do Renascimento, também pintou sibilas na Capela de Chigi , da Igreja romana Santa Maria della Pace.

A iconografia católica renascentista manteve as sibilas gregas pois, por serem dotadas da capacidade de prever o futuro, teriam anunciado a vinda de Cristo.

(Informações obtidas no Wikipedia)

2)Veja o vídeo do youtube 'Cant de la Sibilla - Sibilla Latine':

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

EFEMÉRIDES (NOVEMBRO)


Guapuruvu, foto by Fernando Campanella

Novembro lava a alma
e as flores do guapuruvu
respingam na tarde.
Logo, a lua dá o ar da graça
e entre os galhos da árvore
amorosamente se enrosca.

(Que as estrelas embalem então
a noite, e os pássaros
sonhem abóbodas iluminadas.)


Fernando Campanella

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

MEMORIAL


Foto by Fernando Campanella*


Crucifixo à porta, detalhe da casa.
Foto by Fernando Campanella*


Aqueles túmulos me contam
que meus mortos vivem comigo,
que apenas deixaram seus invólucros

por algum tronco, suas vestes
pela estrada.

Um dia cantaremos também

como as cigarras, na memória.
Fernando Campanella


* Dez anos correram desde que primeiro vi esta casa das fotos, à beira de uma estrada em Heliodora, sul de MG. De sua atmosfera, da visão do crucifixo à sua porta, brotaram apenas, na época, estes versos:

Candeeiro à beira da estrada
Paisagens de neblinas e comas
Cheiram mimos de melissa
Dormem casas sombreadas...

E o poema permaneceu assim, inacabado, por anos. Em 2006 veio o seu arremate:

Candeeiro à beira da estrada
Paisagens de neblinas e comas
Cheiram mimos de melissa
Dormem casas sombreadas
Pupilas noturnas voam.

Coração circuspecto de Minas,
Bate em noite, bate em dia,
Abre uma artéria em mim.

No sábado passado, 31/10/2009, tive a oportunidade de revisitar o local. Com minha câmera à mão, pensei que seria uma excelente oportunidade para completar com um registro fotográfico esse ciclo de minha criação.

Parece haver uma lei tácita que determina aos poetas, assim como aos artistas, em geral, não discorrerem sobre suas obras. Cabe ao leitor encontrar seu caminho no labirinto de um poema, chegando, ou não, a uma luz final. Acredito, porém, que haja alguns segredos concernentes à poiesis ( neste caso o fazer, o criar poético) que, se revelados, acrescem o encanto dos versos que se criam.


Outros segredos permanecem, e, mesmo a quem escreve, talvez nunca sejam descerrados.

Fernando Campanella