quarta-feira, 28 de agosto de 2013

PRIMEIROS POEMAS (ENSAIO)

Foto por Fernando Campanella

Ensaio

Da mais obscura cela,
dos impenetráveis confins,
um reles mortal, o que vê? 
Aos vermes, o limite da terra,
aos peixes, o lençol do mar,
mas a mim, o que vem?
Minha janela esboça o contorno
de um infinito rasgado de céu...
Inútil ensaio.
Seria este o consolo, 
vislumbrar, somente, 
o que há tanto pedi?
(As asas,
onde as esqueci?)

Fernando Campanella, poema de 1988.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

À NOITE



À noite seguimos descuidados,
por árvores em renques de aromas
entre pétalas em sono de orvalho.

À noite sonhamos em um céu de metáforas
onde a mínima lua
é unha que arrepia segredos,
estrelas são hangares pequeninos,
a sombra, um lobo dócil que nos chama.

À noite, rompemos degredos,
volvemos aos ninhos,
somos meninos –
infância distraída de seus medos.

Fernando Campanella


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

EFEMÉRIDES (AGOSTO)

Foto por Fernando Campanella

Trânsfuga de agosto -
um prurido rouco -
quase um quê de mim
em ipês amarelos e roxos. 

Fernando Campanella

sábado, 3 de agosto de 2013

LA CAMPANELLA

Foto por Fernando Campanella

Aquela senhora tem um piano
Que é agradável mas não é o correr dos rios
Nem o murmúrio que as árvores fazem...
(Alberto Caeiro)


Aquela senhora toca um piano na tarde,
as teclas ágeis ondulando em mimos,
em vibrantes sinos delicados.
Imersos cada qual em sua dor, em sua história,
uma sintonia, de repente,  nos toma
e o murmúrio das árvores nos chora –
uma arte – rio profundo, sem corte –
um outro azul que nos sonha.

Fernando Campanella