sexta-feira, 10 de outubro de 2014
NOVELOS
Ora dois flamingos bordados,
ora teias despidas de luz,
teus olhos lembram tramas
e desfechos - infinito costurar
e desfazer da paixão.
O azul que me chama na tarde
logo são galhos que entrançam -
labirintos por onde enredo -
teus olhos que me adentram,
esses novelos dispersos.
Fernando Campanella
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
"ANTHONY ADVERSE"
Meu pai, foto tirada por mim. |
Meu pai, em seus momentos de ternura, tem me chamado de "Antoní Adverso". Meu nome completo é Antonio Fernando, nascido em 13 de junho, dia de Santo Antonio. Minha família me chamava de Toninho em minha infância, mas a partir do primeiro grau na escola assumi o nome de Fernando.
Mas, Antoní Adverso? Por que meu pai, com 93 anos de idade, vem me chamando assim ultimamente, brincando? (Coloquei acento no "ni" porque ele pronuncia a palavra como uma oxítona).
Após seu banho ontem, ele repetiu o "apelido" carinhoso. Sua cuidadora perguntou-lhe por que me chamava dessa maneira e ele respondeu: porque ele é contrário a mim. Rimos todos e ela tomou minha defesa dizendo-lhe que eu estava do lado dele, não contra.
Bom, ontem decidi encontrar a razão desse "Antoní Adverso", intuindo que de algum lugar deveria ter vindo tal denominação. E graças à internet tive a resposta. Trata-se do nome de um filme norte-americano, de 1936, dirigindo por Mervyn LeRoy, com Olivia de Havilland no elenco. Baseado em novela homônima, o épico em preto e branco foi uma super produção para os padrões da época, indicado ao Oscar de melhor filme do ano, mas vencedor do prêmio em algumas outras categorias. No Brasil recebeu o nome de "Adversidade".
Meu pai, com quinze anos de idade na época, deve ter assistido a esse filme, uma vez que era apaixonado por cinema.
As coisas realmente não vêm do nada. A memória afetiva está sempre presente, como renitente farol, mesmo quando os neurônios castigam e endurecem os idosos. Foi uma agradável surpresa para mim descobrir a razão do "Antoní Adverso", apesar de o adjetivo trazer uma conotação de "contra", "contrário".
Mas, como minha amiga Helen Drummond sabiamente comentou após ler minha crônica, "O amor é sempre doce e suave. Algumas asperezas (adversos?) acontecem apenas para lhe extrair o sumo".
E como uma homenagem à terceira, melhor, idade, ao meu pai, aos avós e bisavós, a todos que já viveram, ou ainda vivem, uma longa história, deixo aqui uma reflexão que encontrei no site da UOL:
"Os idosos não são uma categoria à parte, todos nós continuamos a nos desenvolver, envelhecemos dia após dia e aos jovens cabe saber que devemos oferecer o carinho a atenção aos mais velhos. O mundo está pronto para os jovens porque existiram outros jovens que hoje estão em outra fase da vida, a velhice. E ela um dia nos terá. É inevitável o curso da vida."
Fernando Campanella
Parte da trilha sonora e vídeo promocional do filme de 1936
https://www.youtube.com/watch?v=Ss7ONnzv--U
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