Foto: São João Damasceno do blogger
Percorro as alas da biblioteca municipal e me vem à memória uma outra biblioteca, longínqua, a da minha iniciação literária. Revive , como por encanto, o adolescente que passava horas descobrindo um mundo de outros ventos.
Surgem nomes como Hoffman, Pirandello, Katherine Mansfield, e mais, muito mais, todos reunidos no “Maravilhas do conto universal”. E os primorosos fascículos, submetidos a posterior encadernação, do “Gênios da Pintura”: Bruegel, Van Gog, Fra Angélico... E, em vinil , a coleção dos compositores clássicos. Imagens de um sonho distante e ainda tão atual, a busca pelo espírito na sensibilidade e na arte.
Que fascínio a biblioteca causava e ainda hoje me causa. Que alimento torna-se a leitura para os mais sensíveis, os introvertidos. “Você que está triste e longe dos seus, leia, sempre que puder, um belo provérbio, uma poesia” dizia Hermann Hesse.
A literatura e a arte, em geral, sempre foram uma salvaguarda, um tipo de contraforte para a sustentação de meu edifício psicológico. Vozes que sempre trouxeram companhia para minha introspecção. Os livros foram, em minha infância e adolescência, uma espécie de forno onde eu me aquecia, útero a formar, lentamente, o irregular embrião de meu espírito.
As bibliotecas estão sendo digitalizadas e num futuro não muito distante livros serão apenas peças empoeiradas, esquecidas aos museus. Elas estarão em todo lugar , e em lugar algum. Teremos toda sabedoria dos tempos, toda arte, ao alcance de nossos dedos,
Melhor, pior? Diferente, talvez. O universo on line veio para ficar, para facilitar nossas vidas. Porém, nada vai apagar a importância do ofício dos copistas que preservaram toda luminosidade cultural do passado, ‘imprimindo’ livros com as próprias mãos. Nada vai desfazer a curiosidade que sentimos por uma biblioteca como a de Alexandria, pelos papiros, e pela própria invenção da imprensa.
Das brumas de meu tempo, saltam páginas e mais páginas, tomos antigos ‘na roupagem que seus séculos usavam’, como disse a poeta Emily Dickinson. A biblioteca de minha adolescência foi meu tesouro da juventude, meu mundo das mil e uma noites. Aqueles silêncios na descoberta de universos afins selaram meus anos de formação intelectual
Naquele contato com os livros eu criava tempos mais sutis, protegia minha alma de mim mesmo, do meu mundo adverso, de minha barbárie.
“ Um prazer, um prazer em mofo
É encontrar um livro antigo
em vestes que seu século usava...”
Surgem nomes como Hoffman, Pirandello, Katherine Mansfield, e mais, muito mais, todos reunidos no “Maravilhas do conto universal”. E os primorosos fascículos, submetidos a posterior encadernação, do “Gênios da Pintura”: Bruegel, Van Gog, Fra Angélico... E, em vinil , a coleção dos compositores clássicos. Imagens de um sonho distante e ainda tão atual, a busca pelo espírito na sensibilidade e na arte.
Que fascínio a biblioteca causava e ainda hoje me causa. Que alimento torna-se a leitura para os mais sensíveis, os introvertidos. “Você que está triste e longe dos seus, leia, sempre que puder, um belo provérbio, uma poesia” dizia Hermann Hesse.
A literatura e a arte, em geral, sempre foram uma salvaguarda, um tipo de contraforte para a sustentação de meu edifício psicológico. Vozes que sempre trouxeram companhia para minha introspecção. Os livros foram, em minha infância e adolescência, uma espécie de forno onde eu me aquecia, útero a formar, lentamente, o irregular embrião de meu espírito.
As bibliotecas estão sendo digitalizadas e num futuro não muito distante livros serão apenas peças empoeiradas, esquecidas aos museus. Elas estarão em todo lugar , e em lugar algum. Teremos toda sabedoria dos tempos, toda arte, ao alcance de nossos dedos,
Melhor, pior? Diferente, talvez. O universo on line veio para ficar, para facilitar nossas vidas. Porém, nada vai apagar a importância do ofício dos copistas que preservaram toda luminosidade cultural do passado, ‘imprimindo’ livros com as próprias mãos. Nada vai desfazer a curiosidade que sentimos por uma biblioteca como a de Alexandria, pelos papiros, e pela própria invenção da imprensa.
Das brumas de meu tempo, saltam páginas e mais páginas, tomos antigos ‘na roupagem que seus séculos usavam’, como disse a poeta Emily Dickinson. A biblioteca de minha adolescência foi meu tesouro da juventude, meu mundo das mil e uma noites. Aqueles silêncios na descoberta de universos afins selaram meus anos de formação intelectual
Naquele contato com os livros eu criava tempos mais sutis, protegia minha alma de mim mesmo, do meu mundo adverso, de minha barbárie.
“ Um prazer, um prazer em mofo
É encontrar um livro antigo
em vestes que seu século usava...”
( Em uma biblioteca – Emily Dickinson , em livre tradução)
Texto por Fernando Campanella
Amigo, impressionante como o livro ocupou e ocupa, em minha vida, um espaço semelhante ao que aconteceu com você.
ResponderExcluirCom um livro, estamos sempre acompanhados e viajamos e sonhamos.
Eu tenho uma relação sentimental com o "livro", gosto de bibliotecas, livrarias e sebos. Uso a internet, mas não consigo (ainda)
substituir os meus "queridos" livros.
Com certeza, poeta/cronista, um livro é um livro, e por mais que a evolução e a tecnologia nos alcancem, eles sempre serão que de mais fascinante podemos ter manuseado para nossa cultura... Linda crônica!! Parabéns mais uma vez... Ahhh as ilustrações são magnas...
ResponderExcluirBoa noite, minha querida amiga. Esta crônica foi uma tentativa de resgate de minha adolescência. Na época eu não via minha iniciação literária como tão bonita. Há um pouco de nostalgia, sim, um pouco de romantismo também. Tenho três livros de crônicas do Hesse, de sebo mesmo, que são livros de cabeceira, sempre recorro a eles, pois sinto uma grande identificação com ele. Agora, poesia eu vejo on line mesmo. Eu me adaptei a este mundo virtual, e sinto que vc tb. Mas os livros, as bibliotecas merecem nossa homenagem, não? Grande abraço, minha querida amiga. Obrigado pela visita.
ResponderExcluirObrigado, Antonio Carlos. Esta imagem é de São João Damasceno, parece uma iluminura. Então, as bibliotecas são douradas, assim, também pra mim. O passado e seus tesouros. Grande abraço, volte sempre aqui, tua visita é muito importante pra mim.
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