Foto by Antonio Carlos Januário
Suspiram os saudosistas pelos antigos carnavais. Pura nostalgia! Cada um vive o carnaval de sua época. E cada época tem sua cota de encantos e decepções.
Para os foliões de hoje, o carnaval-espetáculo, os trios-elétricos, a música da Bahia, os grandes palcos montados para os shows de rua, e até o funk, falam na linguagem que entendem, e os motivam para a celebração festiva dos quatro dias.
Porém, se eu fosse criar um enredo para uma escola de samba, o tema seria ‘Maria-fumaça, me leva para os antigos carnavais de Minas’. Uma homenagem à grandeza local, fora dos grandes circuitos, do eixo das noticiadas folias do Momo pelo país.
A frente de uma comprida locomotiva seria o abre-alas, em formato de uma máscara estilizada, de onde se desprenderiam empuxos de fumaças de confetes em várias cores. As alas do comboio seriam vagões, com nomes de antigos blocos, ranchos, cordões e escolas de samba de cidades de todo o estado. Nomes como ‘Sossega, leão’, ‘Bando da lua’, ‘Caricatos de Araxá' , e mais e tais, puxariam este encantado trem da memória dos carnavais de Minas.
Dentro dos vagões, viriam os participantes, com as indefectíveis fantasias: arlequins, malandros, espanholas, pierrôs, colombinas, gondoleiros de Veneza, baianas, índios... Todos vestindo a camisa dos seus blocos, entoando as respectivas marchinhas, sambas-enredo, nas mil e uma noites de imersão na euforia.
Pessoas de Santa Rita do Sapucaí apontariam para o vagão de sua cidade, com os blocos arqui rivais, Ride Palhaço e Democráticos’, comentando: 'este desfile de meu bloco foi o melhor carnaval de todos os tempos.’ Uma senhora de Mariana se encantaria com o tradicional bloco do Zé Pereira, seu vagão apinhado dos bonecos que há 155 anos alegram o carnaval local. E habitantes de Leopoldina se divertiriam com seus ‘blocos dos sujos’, com o mestre Vitalino Duarte, que nos carnavais antigos saía pelas ruas da cidade com uma uma burrinha, cantando:
'Arranjei uma burrinha,
Para brincar no carnaval,
Ai, ai, ai!
Ai, ai, ai!
A orelha era de palha
E o rabo de jornal...'
Juiz de Fora veria um de seus empolgantes carnavais, o de 1966, quando uma escola de samba apresentou o enredo ‘Mascarada Veneziana', colocando na avenida seu primeiro carro alegórico, uma piscina com uma gôndola a flutuar. Belo horizonte teria seus ‘corsos’ representados, carros conversíveis enfeitados com serpentinas, bandeirolas, transportando, belas mulheres e figuras da sociedade local.
Cada um dos assistentes traria para sua cidade um imaginário, merecido troféu de melhor carnaval do mundo, na mais saudável , disputada, alegria.
O enredo teria como costura estas celebrações já idas de gerações e gerações, a explosão dos sentidos manifestando-se nos mais remotos , mineiros grotões.
Estaria, certamente, fora da mídia esta minha inusitada escola. Os grandes jornais e a TV não teriam interesse no carnaval de uma Capelinha, ou de uma Santa Maria de Itabira, por exemplo. Não importa. Minha locomotiva passaria como a vida que em todos os cantos acontece, e passa. Vida que no carnaval se disfarça, de si própria escapa, dando seu grito de alegoria.
A comissão de frente puxaria o desfile , cantando:
‘Maria fumaça, ô, ô,
me leva pra folia de Minas,
pro bloco do Uai,
pro esquindô, esquindô...’
Fernando Campanella, 20 de Fevereiro de 2009
Fontes de Pesquisa: 1) Site: 'Brasil: História e Ensino', 'Uma breve história do carnaval', por Natania Nogueira. 2) Site: rota do samba.com , 'Carnaval em Juiz de Fora', por Renan Alexandre Ligabo de Carvalho e Victor de Oliveira Rosa, com citações da Revista 'Em Voga', e Coimbra (1994).
Suspiram os saudosistas pelos antigos carnavais. Pura nostalgia! Cada um vive o carnaval de sua época. E cada época tem sua cota de encantos e decepções.
Para os foliões de hoje, o carnaval-espetáculo, os trios-elétricos, a música da Bahia, os grandes palcos montados para os shows de rua, e até o funk, falam na linguagem que entendem, e os motivam para a celebração festiva dos quatro dias.
Porém, se eu fosse criar um enredo para uma escola de samba, o tema seria ‘Maria-fumaça, me leva para os antigos carnavais de Minas’. Uma homenagem à grandeza local, fora dos grandes circuitos, do eixo das noticiadas folias do Momo pelo país.
A frente de uma comprida locomotiva seria o abre-alas, em formato de uma máscara estilizada, de onde se desprenderiam empuxos de fumaças de confetes em várias cores. As alas do comboio seriam vagões, com nomes de antigos blocos, ranchos, cordões e escolas de samba de cidades de todo o estado. Nomes como ‘Sossega, leão’, ‘Bando da lua’, ‘Caricatos de Araxá' , e mais e tais, puxariam este encantado trem da memória dos carnavais de Minas.
Dentro dos vagões, viriam os participantes, com as indefectíveis fantasias: arlequins, malandros, espanholas, pierrôs, colombinas, gondoleiros de Veneza, baianas, índios... Todos vestindo a camisa dos seus blocos, entoando as respectivas marchinhas, sambas-enredo, nas mil e uma noites de imersão na euforia.
Pessoas de Santa Rita do Sapucaí apontariam para o vagão de sua cidade, com os blocos arqui rivais, Ride Palhaço e Democráticos’, comentando: 'este desfile de meu bloco foi o melhor carnaval de todos os tempos.’ Uma senhora de Mariana se encantaria com o tradicional bloco do Zé Pereira, seu vagão apinhado dos bonecos que há 155 anos alegram o carnaval local. E habitantes de Leopoldina se divertiriam com seus ‘blocos dos sujos’, com o mestre Vitalino Duarte, que nos carnavais antigos saía pelas ruas da cidade com uma uma burrinha, cantando:
'Arranjei uma burrinha,
Para brincar no carnaval,
Ai, ai, ai!
Ai, ai, ai!
A orelha era de palha
E o rabo de jornal...'
Juiz de Fora veria um de seus empolgantes carnavais, o de 1966, quando uma escola de samba apresentou o enredo ‘Mascarada Veneziana', colocando na avenida seu primeiro carro alegórico, uma piscina com uma gôndola a flutuar. Belo horizonte teria seus ‘corsos’ representados, carros conversíveis enfeitados com serpentinas, bandeirolas, transportando, belas mulheres e figuras da sociedade local.
Cada um dos assistentes traria para sua cidade um imaginário, merecido troféu de melhor carnaval do mundo, na mais saudável , disputada, alegria.
O enredo teria como costura estas celebrações já idas de gerações e gerações, a explosão dos sentidos manifestando-se nos mais remotos , mineiros grotões.
Estaria, certamente, fora da mídia esta minha inusitada escola. Os grandes jornais e a TV não teriam interesse no carnaval de uma Capelinha, ou de uma Santa Maria de Itabira, por exemplo. Não importa. Minha locomotiva passaria como a vida que em todos os cantos acontece, e passa. Vida que no carnaval se disfarça, de si própria escapa, dando seu grito de alegoria.
A comissão de frente puxaria o desfile , cantando:
‘Maria fumaça, ô, ô,
me leva pra folia de Minas,
pro bloco do Uai,
pro esquindô, esquindô...’
Fernando Campanella, 20 de Fevereiro de 2009
Fontes de Pesquisa: 1) Site: 'Brasil: História e Ensino', 'Uma breve história do carnaval', por Natania Nogueira. 2) Site: rota do samba.com , 'Carnaval em Juiz de Fora', por Renan Alexandre Ligabo de Carvalho e Victor de Oliveira Rosa, com citações da Revista 'Em Voga', e Coimbra (1994).
Maravilhosa! Linda, poética, informativa, profissional! Congratulations, Cronista! Perfeição pura!! Jóias raras cintilando por aqui. Abraço
ResponderExcluirObrigado, meu grande amigo. Coloquei as fontes de pesquisa abaixo, fica um trabalho ético. Grande abraço.
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