quinta-feira, 26 de março de 2009

CARTAS DE AMOR


'Mulher escrevendo carta', tela de Johannes Vermeer
i2.photobucket.com/.../escrever/vermeer1.jpg


http://www.youtube.com/watch?v=xBsFACFJkZY


CARTA

Ouso dizer-te, meu amor,
que tua ausência
é uma distância implícita de mim.

Nossos eus se emaranham
e já não sei
em que ponto me quedo,
em que ponto te levantas.

A que limite
sou eu que te busco,
ou tu que me alcanças?

Quando prosa ritmada,
ou verso sem pé?

Faca ou colher?

Quando manha, quando ferida?
Onde pecado, onde pudor?

Em que berço
com teus sonhos me deito?
Com meus sonhos
te despertas em que leito?

Cara ou metade?
Lucidez ou enfermidade?

Se memória de ti,
Se esquecimento de mim,
já o que importa?

Onde defeito ,
um mais que perfeito,
um efêmero,
um querer-te comprido,
sem fim....

(Fernando Campanella)




Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

(Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa)



CARTA
Carlos Drummond de Andrade

Há muito tempo, sim, não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelhecí: olha em relevo
estes sinais em mim, não das carícias
(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que a sol-posto
perde a sabedoria das crianças.
A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
“Deus te abençoe ”, e a noite abria em sonho.
É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.



5 comentários:

  1. Cartas de amor... ridículas e necessárias!
    É tãaaaaaaaaaaao... bommmmmmmmmm........

    *Mari*

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  2. Sim, ridículo, como diz o Pessoa, é quem nunca escreveu uma carta de amor, rs....Bjos.

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  3. Eu, quando criança tinha na mente carta de Drumond. hoje senti saudades de ler e me deparei com seu Blog. Fiquei feliz por encontrar também as ridícular cartas de pessoa e, que como ele também sou ridícula e por fim a sua . parabéns!!! Quando puder, dá uma espiadinha no meu Blog, embora seja sobre depreção e transtornos associados, também posto poesias . http://sentimentoaflordapele.blogspot.com
    claudiab.flordelotus@gmail.com

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  4. Só quem não escreveu uma carta de amor é que é ridículo... devíamos escrever mais cartas assim, mais poemas lindos como esse seu...

    Bjs.

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  5. Escrever cartas de amor, Flor, jamais foi ridículo, pelo contrário, quando as escrevemos nos sentimos vivos. Bjos.

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