quinta-feira, 10 de junho de 2010

LUZ CADENTE


Folhas de Outono
Foto por Fernando Campanella

...as folhas mortas com a pá recolhidas...

e o vento do Norte as leva

dentro da fria noite, esquecidas...

(As folhas mortas, Jacques Prévert)


Serão miragens
aqueles tons em cobre
ondulando em folhas na tarde?
Meus olhos devem andar poéticos
ou delirantes
ou mais febril a minha percepção
que entende que os animais respondem
às nuances que a luz da tarde concede.

Luz e folha devem ter naturezas atadas
em delicado, intraduzível elo
que traça o pássaro ao ninho.
Não sei.

O que para as aves deve ser
algo como arbóreas núpcias
em mim é um degredo em ecos,
um vago ruflar de um sentido.

Minha razão nada pode
contra a luz cadente
que vela e desvela
aquele tom amêndoa -
ferrugem quase dor
quase leve -
que a alma agora consente
e que de volta
à presciência do mundo
ao ninho da terra
vai me cumprindo.

Fernando Campanella, 2006


Duas opções de música para esta postagem, duas leituras sobre o mesmo tema:



5 comentários:

  1. Muito bom. A música reinou na 1ª estrofe (repare, até li 2 vzes, gostei demais). E volta na última estrofe.

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  2. a melhor coisa que poderia ter lido hoje, além de um pedacinho do zweig, nesse niver, foi o seu e-book...

    inspiração, sonhos, palavras... imagens...

    adoro lê-lo! obrigada!

    ruby

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Um post lindo: o poema; a música e a belíssima fotografia.
    Beijinho

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  5. Campanella, há mais razões sob as estrelas do que sonha a nossa vã filosofia - as razões das estrelas, a iluminação da poesia. Ficamos sem palavras diante da beleza. Contempla. Poesia é contemplação.
    Abraços.

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