sexta-feira, 16 de julho de 2010

MÍNIMOS


Foto por Fernando Campanella


um sopro
‘ninguém viu
de onde vem
ninguém sabe
aonde vai’

um vírus
quase
nada

um
ponto
na
enseada

um quantum
envieza o olhar

uma artéria
e Roma não tem bocas
e Inês é folha morta

um dedo de luz
na chuva oblíqua
um arco de cores
instala

um vôo desanda a rota

ninhos desovam

um triz
frio polar
oceanos que resvalam

torres se movem
pés desarvoram

espelhos que descamam
não consigo me achar

um mínimo
e já não me sou

de repente
algo me sonha

Fernando Campanella


Pássaro solitário

As condições de um pássaro solitário são cinco:
. Primeiro, que ele voe ao ponto mais alto;
. Segundo, que ele não anseie por companhia,

nem mesmo de sua própria espécie;
. Terceiro, que dirija seu bico para os céus;

. Quarto, que não tenha uma cor definida e
. Quinto, que tenha um canto muito suave.
(San Juan de La Cruz, Dichos de Luz y Amor.)


Vídeo: Loreena Mckennitt cantando 'The Dark Night of the Soul',
versos de São João da Cruz.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Beleza, Fernando. Senti um eco de Clarice, diálogo maravilhoso que vc estabelece com ela (intencional ou não).

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  3. Que lindo, Fernando! Há tempos não passo por aqui (nem por lugar nenhum que não seja o das obrigações e do trabalho...). Fico sempre sem saber que espetáculo é melhor: se o das imagens para os olhos, o das palavras para a alma, o da música para os ouvidos, enfim...
    Abraços

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  4. Campanella, estive ocupado com o lançamento do meu livro "Memória da terra" (ainda estou) e sem tempo para visitar os amigos.
    Gsotei deste poema aqui, soa espontâneo, como se a poesia fosse natural. A poesia deve sempre soa natural.
    Abraços.

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