terça-feira, 20 de julho de 2010

UM MUNDO, ENFIM...


Foto por Fernando Campanella

Se nascemos para o amor
para a celebração não oficial
da vida
não deixe, Deus, que eu me afogue
nas emboscadas de meus dissídios.
Venha a mim a energia das criaturas

simples e primitivas -
a centelha exata que relumbra
e inebria os pântanos e os párias -
um mundo, enfim,
sem ilhas nem mágoas.


Fernando Campanella, 1998




Clássico é clássico, ultrapassa toda pompa e circnustância. E tão bem nos diz isso o poeta metafísico inglês, John Donne (1572-1631), com sua meditação XVII. A mesma, em associação com a foto acima, me inspiraram hoje a palavra "ilha" inserida no poema "Um mundo, enfim", escrito em 1998.

Eis um excerto dessa belíssima meditação:


"...Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um teu amigo, ou o teu próprio. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes indagar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."

(John Donne, excerto da Meditação 17, tradução de Paulo Vizioli)



O vídeo escolhido para esta postagem apresenta-nos a música de Orlando Gibbons (Silver Swan), contemporâneo de John Donne. Gibbons, inclusive, e mais John Dowland e William Corkine, colocaram em música o poema 'Break of day', de Donne.




6 comentários:

  1. Um mundo sem ilhas nem mágoas. Mas cada um de nós é uma ilha tantas vezes magoada, em que cada instante é a metamorfose de uma asfixia interior...Gostei do teu poema. Mando-te um beijo.

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  2. fernando,
    qualquer dia passo pelo sul de minas pra um curso intensivo de "olhar" as coisas.

    deu vontade de me exilar nessa ilhota. um mundo com ilhas, sim... e sem mágoas, por certo.

    ô, sempre fui fascinado por ilhas. acho que cada uma delas (mesmo as de água doce) possuem tesouros escondidos por piratas.

    beijão, poeta!

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  3. Uma poesia que infunde um clima de esperança, na busca de um resultado buscado desde a renascença. De que tudo está interligado e sofre influências múltiplas. Gostoso ver a renascença aparecer por aqui. Relembre qualquer dia de William Byrd, também mestre e amigo de John Donne. Um grande abraço.

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  4. Uma oração tão bela que precisei ler de novo, com o tom, enfim, de quem está rezando.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Ahhhhhhhhh... assim não vale...

    Fui eu que falei primeiro que o poema é uma oração.

    Assim num brinco mais. rs...

    Hehehehehehhh.......


    *.*

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