quarta-feira, 9 de julho de 2014

"VEXAME" NACIONAL

Foto por Fernando Campanella

Levantei hoje como após um pesadelo, sentindo a derrota da nossa seleção para a Alemanha. Mas logo lembrei que haviam batido à porta da minha casa algumas horas antes, às quinze pras cinco da manhã. Batidas fortes, insistentes, que me acordaram. Fui olhar pela janela da sala (nao tenho interfone) e eram policiais perguntando se aqui morava um vizinho meu. Desculparam-se e me disseram que precisavam informar a ele, o vizinho, que haviam prendido os assaltantes de seu estabelecimento comercial. O assalto, fiquei sabendo depois, havia ocorrido após o término do jogo de ontem.

Tenho que passar no escritório da CEMIG (Centrais Elétricas de Minas Gerais) para reclamar que há três meses a conta de luz não chega à minha casa, meu direito de consumidor. E infinitas pequenas coisas para administrar no meu dia, com um tempinho para editar minhas fotos e postar esta crônica aqui. 

Não vou mais pensar na derrota, decidi. Está mais que na hora de pendurar as chuteiras deste ópio tão cegante, tão manipulado, que é o nosso futebol. Afinal, nenhum membro da seleção perderá seus contratos, seus milhões. A FIFA arrecadou milhões também, e quem for campeão nesta Copa vai ter seus dias de glória, como já tivemos, as redes sociais vão continuar ridicularizando nosso "vexame"... Além disso, há preocupações mais urgentes, como as sócio-econômicas, as referentes à Educação e Saúde públicas, à violência, e (escrevam) à chuva que não vem, escassa em níveis alarmantes, com a perspectiva de um racionamento de água e energia nunca visto antes no Sudeste. 

Cá entre nós, esses problemas tão mais sérios, cruciais, o partidarismo nacional não soluciona. (É aquele eterno blablablá de farpas mútuas, conchavos vergonhosos, demagogia e corrupção.) Nem o futebol. Mas, como disse um amigo, vamos continuar hasteando a bandeira nacional nas instituições, nas casas, nos carros, dentro de nós. Foram atos execráveis os que vi pelos noticiários de torcedores queimando nosso símbolo mais sagrado, vital. Deu vontade de  dizer a eles - companheiros, expressem toda esta indignação nas urnas, não confundam nação com futebol.    Afinal, com ou sem este, e sem a vitória na Copa, temos uma Pátria, precisamos dela, e ela precisa de nós. 

Fernando Campanella  




4 comentários:

  1. Sofri com o Brasil, meu amigo...
    Um beijo.

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  2. Provavelmente muitos dos que queimaram as bandeiras, não irão às urnas se a isso não forem obrigados por lei.
    Aqui pelo menos é assim. Levam 3 ou 4 anos a xingar o governo, a fazer manifestações, e na hora certa trocam a ida às urnas pela ida à praia, As abstenções andam sempre acima dos 60%. Entende-se este povo?
    Um abraço e uma ótima semana

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  3. A triste realidade vai além de uma desilusão com o futebol...É evidente,que a grande desilusão é pensar que antes e depois da Copa, os problemas sociais estavam e continuam a se agravar...É inacreditável que a desigualdade, a corrupção, o desrespeito em geral, passem desapercebidos durante e depois da Copa e que, lastimavelmente, não alteram a situação do país. Lastimável, também, é a indisponibilidade das pessoas em analisar os perfis dos candidatos, mas a maioria, conhece muito sobre futebol. Eu, como professora do ensino fundamental I, contribuo estimulando o gosto pelo esporte, sobretudo, oportunizando a conscientização sobre o poder do povo e a necessidade da "lucidez" e de se utilizar desse poder, racionalmente, em defesa dos direitos dos cidadãos...em defesa de um país que não vai nada bem...

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  4. Muito lúcido , o seu texto. A Copa já foi, e apesar de todas as manifestações públicas, não chegou a causar um grande estrago. Vamos ver agora as eleições se serão do mesmo jeito.

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