segunda-feira, 31 de julho de 2017

NO JARDIM

Foto por Fernando Campanella

Percebo neste inverno, no meu jardim, que um broto de ixora (Ixora Coccinea) recebe a luz do sol diretamente sobre seu corpo pouco depois das 4 da tarde. São alguns minutos de uma transformação que corteja o milagre. A planta parece namorar aqueles raios tão fugazes, ainda que intensos.
E a simbiose se afirma, tudo fica mais bonito, embora a sombra logo se imponha, com o peso do frio das noites de julho.
Acredito que, passada a estação das águas, a raiz fincada na terra, este broto encontra na gratidão, na plena entrega à luz por tão rápidos minutos, a força e a alegria para medrar por aqui.
Esta é a expressão da beleza a que consigo chegar. Gostaria de ir mais adiante, entender as razões, os porquês desta alquimia arbórea, porém, como diz o poeta norte-americano, Robert Frost, "alguma coisa tem que ser deixada para Deus".
(Fernando Campanella)
 
 

segunda-feira, 24 de julho de 2017

UM TUDO QUASE NADA


 
 
um tudo quase nada
um mínimo de luz
sobre um grão de mostarda
 
(Fernando Campanella)
 
 


sábado, 22 de julho de 2017

UMA SUPERLUA

(Foto por Fernando Campanella)


 
 Às vezes travo um solilóquio com a morte
com a dor inapelável
dos que não escapam ao fim.
De repente uma superlua
(ou teu olhar?) 
desponta entre as ramagens sombrias
e parece me dizer baixinho:
sossega, eu ainda estou aqui.
(Fernando Campanella)




domingo, 16 de julho de 2017

RIBALTA

                                           
 

Tua vida foi mais um palco
As luzes cessaram
Os aplausos minguaram -
 
E agora, e agora, irmão?
 
Agora que apenas te resta
Desfazer as dobras
Tatear as sombras
Do rosto de Hades
 
Dançando ao som
Da brisa leve
Soprando a vela acesa
Na palma de tua mão.
 
(Fernando Campanella)