quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O QUE É QUE A BAIANA TEM?



Foto do Flickr ( Galeria de Iñigo Garcia)

Cem anos de vida estaria completando Carmen Miranda nesta semana de fevereiro de 2009. Justas homenagens são prestadas na mídia a esta que foi, talvez, junto de Pelé, a maior representante do Brasil mundo afora.

A portuguesinha do distrito do Porto, com alma de brasileira, como ela própria se definia, veio a ser um fenômeno de alegria e brasilidade. Seus detratores podem argumentar que ela, com seus turbantes, balangandãs e salto plataforma, tenha contribuído para um estereótipo de nosso país, uma nação que não é séria , na visão do estadista britânico francês Charles de Gaulle. Mas foi como nosso espelho, nos mostrando a nossa melhor face, nossas cores e sensualidade, sem modéstia ou falsos pudores. Longe do estigma de uma certa política corrupta, mostrou um Brasil que pode e deve se amar, se enfeitar, celebrando o viver.

Dos vários epítetos com que lhe aclamaram, de Pequena Notável a ‘Brazilian Bombshell’, ( algo como 'explosão brasileira') , rejeitou o de Embaixatriz do Samba, que considerava avacalhação. Talvez porque seu repertório contemplasse não só o samba, mas toda uma riqueza de gêneros musicais nacionais como samba canção, chorinho, marcha, marchinha de carnaval, cateretê , chegando à rumba e ao tango.

E fez escola esta inigualável artista, este mito, com seus sons e movimentos esfuziantes, irreverentes, sua pitoresca indumentária. Vivendo em época de alfaiates e modistas, onde nem se sonhava com design de moda, tem exercido influência em gerações e gerações de modernos estilistas, cantores... Madonna confessa ter se inspirado em seu estilo na composição de seus adereços. Escolas de samba, museus, peças de teatro, biografias e musicais sempre a revisitam e lhe rendem as honras que merece.

A pequena-grande notável fez muito por nossa cultura popular. Cantou na linguagem da mulher simples, do homem do povo, do 'malandro' carioca. Gravou composições de ícones de nossa música, como Ari Barroso, Joubert de Carvalho, Synval Silva ( a maravilhosa ‘Adeus, Batucada’) Lamartine Babo e Dorival Caymmi, e tantos outros. E levou para o mundo o que aqui existe de genuinamente bom, diferente dos que se curvam a fetiches de primeiro-mundismo. Nada como sua arte, para vermos, restaurado, o saudável orgulho de sermos uma terra pródiga em nossos próprios frutos, e não uma republiqueta de bananas.

O Brasil de Carmen era essencialmente tropical. E tropical era, para ela, uma palavra ‘quente’, segundo a jornalista e amiga Dulce Damasceno de Brito. Palavra que ‘simboliza todo o espírito de nós, latinos, principalmente em época de carnaval’. Nossa alma, tão assim latinamente assumida, e revelada, agradece.

Seu falecimento em 1955 foi como um apagar de uma chuva de meteoros que eletrizaram por vários anos o Brasil e o mundo. O sepultamento no Cemitério de São João Batista teve, nas palavras do jornalista e historiador Abel Cardoso Junior(1938-2003), o acompanhamento mais concorrido de toda a história do Rio de Janeiro. O Brasil que Carmen tanto amou e representou lhe rendeu homenagens de grandes líderes da História.

Fernando Campanella, 09 de Fevereiro de 2009

4 comentários:

  1. Simplesmente maravilhoso! E quem é q ñ tem um pouco de Carmen Miranda no sangue e no coração? Ah, só se não for um autêntico Brasileiro! Parabéns Fernando, maravilhoso escrito! Carmen Miranda recebe de vc, uma justa e linda homenagem! Fantástico!

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  2. Obrigado, dearest friend, pelo carinho da visita. Apareça sempre pois vc sabe o quanto é importante para mim. Grande abraço.

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  3. Sou portuguesa, faço parte naturalmente da grande maioria dos portugueses que conhece Cármen Miranda através das suas canções, dos homenagens dos media, das referências feitas à artista no mundo do espectáculo mas li hoje aqui, pela 1ª vez, um comentário muito interessante, ou seja uma visão que me pareceu muito genuína e sentida sobre o que ela realmente representou e representa ainda hoje para o povo brasileiro!
    Aproveito também para lhe dar os parabéns pelas suas belíssimas fotos.
    A sua máquina pode ser muito boa e certamente que o é, mas o grande mérito está certamente no seu olhar especial sobre o mundo que o rodeia!
    Teresa

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  4. Muito prazer em ter este contato com vc, Teresa. E muito obrigado pelo lindo comentário. Escrevi esta crônica sobre a Carmen movido pela emoção, ouvindo algumas marchinhas dela , como, 'Camisa Listrada' e 'Adeus, batucada', que tanto me tocam. Houve um trabalho de pesquisa, também. Mas, realmente, o que mais me inspirou foi a 'alegria da latinidade' que ela tanto expressou mundo afora. Volte sempre aqui, minha amiga, fiquei muito feliz com tua visita.

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