domingo, 5 de abril de 2009

KATHERINE MANSFIELD



http://www.nzetc.org/etexts/
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"Sou tão aferrada à idéia de todas as mulheres terem um futuro definido... A idéia de sentar-me e esperar por um marido é absolutamente revoltante e é realmente a atitude de muitas mulheres..." (Katherine Mansfied, citação tirada do site 'The New Zealand Edge')


Katherine Mansfield teve uma grande importância em minha iniciação literária. Seu conto ‘ A lição de Canto’ foi dos primeiros que li, com que me identifiquei, referência e suave presença ao longo dos anos.

Nascida em Wellington, Nova Zelândia, em 1888, suas primeiras estórias aparecem no jornal do colégio quando ainda menina. Mudou-se para Londres em 1903 para completar sua educação no Queen’s College. Sentiu-se mais atraída pela música, de início, era uma talentosa violoncelista. Retorna à Nova Zelândia em 1906 quando começa a escrever seus primeiros contos. Não se readaptando, tem permissão do pai para voltar à Inglaterra e nunca mais retornou à sua terra natal. Publica seu primeiro livro de contos, ‘Em uma pensão alemã’, em 1919.

Com ‘The Garden Party e Outras Estórias’, publicado em 1922, obteve grande aclamação da crítica. Nesse ano divisor de águas do Modernismo, a escritora, com esse livro, segundo o New Zealand Edge, ao lado de James Joyce (Ulysses) , T.S.Eliot (The Waste Land) e Rilke (Duino’s Elegy), ampliou o alcance da literatura ao tratar de problemas de consciência individual.

Nos contos de Katherine Mansfield que li temos esse fluxo de consciência tomando as rédeas de uma narrativa quase sem acontecimentos, carente de trama. O ambiente externo, as paisagens e os outros personagens dos contos aparecem mais como projeção, ou contraponto a um estado de espírito, de ânimo, da personagem central. O fluxo de consciência é a própria narrativa.

Em ‘A Lição de Canto’, os acontecimentos são mínimos. Miss Meadows, uma professora de música de um colégio de meninas, caminha para sua aula matinal ‘com o desespero – um desespero rude, lancinante – cravado fundo no coração, como um punhal cruel’. Com trinta anos, solteirona, arrumara um pretendente, Basil, de quem ficara noiva. Seu desespero ao se dirigir à sala de aula foi provocado por uma carta recebida em que o amante lhe anuncia a desistência do noivado. O desespero poderoso, que se alia a um frio dia de outono, influencia a escolha da música para o ensaio das alunas, e a essas contamina. Um telegrama do noivo que ela recebe quase ao final da aula provoca toda iluminada transformação em seu estado emocional.

Em ‘A Felicidade (Bliss), o estado de espírito da personagem central dá o tom. Bertha Young, uma mulher casada, de trinta anos, “... tinha momentos... em que sentia uma vontade louca de sair correndo, ao invés de andar normalmente, de ensaiar passos de dança pela calçada, de rodar aro, jogar uma coisa para cima e apanhá-la outra vez, ou ficar parada e rir de ... nada...” E o conto se desenvolve sob o efeito da extrema felicidade dessa esposa que organiza um jantar para o marido e alguns amigos. Mrs. Young flutua nesse êxtase até que um acontecimento cruel, inesperado, faz sua alma despencar dolorosamente ao solo.

Em ‘A Casa de Boneca’ , para mim um dos grande contos da literatura universal, Katherine Mansfied tece a estória em torno da chegada de uma casa de boneca no quintal de uma família de classe média alta, e da excitação das crianças com o novo brinquedo. Duas meninas do bairro, irmãs, de classe social mais baixa, são proibidas pelos adultos da casa de visitar aquela maravilha, aquela casa tão real que mais parecia um sonho. E nas entrelinhas do conto o que se lê é toda a crueldade do mundo infantil, alimentado pelas neuroses e preconceitos do mundo adulto.

Páginas e páginas poderiam ser escritas sobre Katherine Mansfield. Há, além dos contos que escreveu, suas cartas, seu diário, poemas, e a tentativa de uma novela. A escritora teve uma vida tumultuada, um casamento desfeito no dia seguinte à cerimônia, um constante busca de cura para a tuberculose em spas, centros místicos, sem sucesso. Foi vitimada pela doença em 1923, aos trinta e quatro anos.Optei por uma biografia sucinta, priorizando comentários sobre alguns de seus contos que li.

Virginia Wolf, escritora de seu círculo de amizades, declarou que Katherine Mansfield produziu a única escrita de que foi invejosa. Com a expansão da vida interior de seus personagens em suas narrativas, Katherine pode ter exercido algum tipo de influência sobre a criadora de
‘Orlando’.

Com a valorização do conto, nos anos posteriores à sua morte, Katherine foi aclamada como revolucionária neste gênero, alçada à posição de grande escritora da literatura universal.

À época em que escreveu ‘Prelúdio’, estória com uma base autobiográfica, ela nos deixa, em uma carta que escreveu, esta sensível descrição impressionista de sua terra natal:

“... eu tenho uma perfeita paixão pela ilha onde nasci. Bem, no comecinho das manhãs por lá eu me lembro de ter sentido que esta pequena ilha submerge no mar azul-escuro à noite para surgir novamente apenas ao raiar do dia, toda suspensa por lantejoulas brilhantes e gotas resplandecentes...
Fontes de pesquisa:

1) The New Zealand Edge ( http://www.nzedge.com/heroes/mansfield.html)

2) Aula de Canto, Katherine Mansfield, tradução de Edla Van Steen e Edu-
ardo Brandão, Global Editora, 1985.

3) Vídeo com dados biográficos da escritora, e a adaptação de seu conto 'Miss Brill' (A Senhorita Brill) em filme:

http://www.youtube.com/watch?v=NtpKpKb7inM

6 comentários:

  1. Interessante Fernando...

    Adorei esse seu jeito manso de dizer q admira essas mulheres... é raro um homem admitir q uma mulher teve importância em sua vida, mesmo q essa importância seja apenas literária.

    Qto a citação de Katherine... sobre as mulheres se sentarem para esperar um marido...
    rs... penso q hoje muitas nem se sentam... ñ dá tempo... rs... isso está até virando meio de vida para jovens e adolescentes.

    Sinceramente ñ consigo imaginar o q seja isso.
    As coisas p/ mim aconteceram tão naturalmente q
    qdo vi já estava namorando (um namoro quase infantil) de verdade. Depois qdo dei por mim já estava casada. Avvvvvvvvvvvv.........
    Existem coisas q já estão traçadas na nossa vida e q simplesmente acontecem.
    Nem senti... e ñ criei minha filha para ser dona de casa, muito ao contrário, mas ela é
    e gosta, tem uma profissão e curte administrar o lar.
    _Oh my God! Pq estou dizendo tudo isso?
    _Apenas pq senti vontade, ora, ora, pois, pois.
    Rsrsssss.........

    Um bacio a tutti!

    *Mari*

    *.*

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  2. Oi, Mari, eu entendi o que vc quer dizer. O que está acima é um pensamento de Katherine, que, em minha opinião, mostra uma certa aversão à vida no lar. Ela foi uma escritora maravilhosa mas teve uma vida tumultuada e curta. Ficou grávida e teve aborto natural. Teve um casamento desfeito horas após a cerimônia. Casou-se com um editor, mas tiveram idas e voltas fenomenais. E teve um casinho esporádico com um namorado mais antigo. Acho que ela não encarava a idéia de ter um lar não. Teve uma vida emocional um tanto quanto complicada, até existe rumor de uma certa bissexualidade. Bom, apesar de tudo isso, ou por isso mesmo, o que me encanta é o ser especial que ela foi, deixando contos tão lindos que a colocam como mestra do conto universal. Bjos, adoro quando vc expõe os pontos de vista aqui.

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  3. É uma pena haver tão poucas traduções em portugues da obra de Katherine...

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  4. Oi, Flor, acredito que os contos que ela escrever, pelo menos, está todos traduzidos para nossa língua. Quanto às cartas, e ao diário, nunca encontrei tradução do que ela escreveu. Uma pena? Grande abraço.

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  5. Olá Fernando, queria saber se tem alguma tradução para o conto "The Young Girl" dela, porque eu estou precisando fazer um trabalho sobr ele, e não o encontro em lugar nenhum' Poderia me ajudar ?

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