quinta-feira, 20 de agosto de 2009

EMILY DICKINSON, UMA TRADUÇÃO*


Sempre-viva, foto by Fernando Campanella

Pink, small, and punctual.
Aromatic, low,
Covert in April,
Candid in May,

Dear to the moss,
Known by the knoll,
Next to the robin,
In every human soul,

Bold little beauty,
Bedecked with thee,
Nature forswears
Antiquity.

(Emily Dickinson Complete poems,
1924, Part Two: Nature)

(A UMA SEMPRE-VIVA)

Rósea, minima, e pontual.
Rasteira e aromática,
Secreta em abril,
Em maio desperta,

Querida aos musgos
Conhecida dos montes,
Vizinha dos tordos
Presente nas almas
dos homens...

Adornada de tua majestade,
Oh, delicada beleza,
A natureza renega
A antiguidade.

Livre tradução de Fernando Campanella
(18/08/2009)

* Poesia não se traduz, dizia uma mestra de Literatura Inglesa em meu curso de Letras. Fazia coro, creio, com o poeta Robert Frost que afirmava que 'poesia é o que se perde na tradução'.
Há um tanto de verdade nisso. Rima, sonoridade, ritmo, cultura, vivências, memória linguística - são tão sutis e intrincados os liames entre língua e conteúdo no universo do poema que toda tradução passa a ser, no mínimo, temerária. Porém, como poderíamos sentir a grandeza de um poema do grego Constantinos Cavafis, por exemplo, senão pela tradução?

O poema da Emily acima tanto me encantou que senti a necessidade de traduzir tal encanto, a sua atmosfera, para a nossa língua. Que me perdoe a mestra, e a própria Emily, mas não resisti.

Tomei a liberdade de colocar um título ( Emily jamais os colocava em seus poemas). Outros expedientes de que me utilizei foram mencionar 'Sempre-viva' quando li que ela se referia, no poema, a um 'Arbutus' (uma espécie de Sempre-Viva), assim como sacrificar a palavra 'bold' do original, que significa algo como 'audaciosa', 'corajosa', substituindo-a por 'majestade', que traz a idéia de coragem, destemor, facilitando, assim, a rima com antiguidade. Para uma melhor compreensão, traduzi, também, a palavra 'robin' por 'tordo', uma vez que aquele é uma espécie deste último e a palavra 'robin' não teria uma tradução para o português.

Pode haver algo, ou muito, de mim na tradução do poema da Emily, isso é inevitável, afinal é um pouco do universo da poetisa visto através de meus olhos, de minha sensibilidade. Ademais, poetas só traduzem poetas com quem têm afinidade.

Espero que a essência e a beleza de sua poesia estejam em minha tradução preservadas.
Fernando Campanella

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