sábado, 5 de dezembro de 2009

ANTIQUALHA


Rádio Philips, modelo B5R76-A, 1959



Vejo em um museu alguns modelos bem antigos de rádio, simpáticos dinossauros já descartados pela evolução da espécie. Não sei se ainda tocam, ou, se o fazem, algum ouvido os ouve.

Mas aqueles aparelhos, ali em exibição, alimentaram sonhos e sonhos lares adentro. Pelos anos de fabricação, 1939, 41, etc. foram ouvidos em plena era do rádio, iniciada oficialmente no Brasil em 1936, com a inauguração da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Todo o país se distraía, se informava, através deles, com as novelas, as notícias & amenidades do mundo, e os famosos cantores e cantoras do rádio.

Minha infância e adolescência foram vividas em outros tempos, já com a febre da TV : a era da imagem. Mas o som de rádios e eletrolas ainda exerceu seu poder de encantamento sobre mim.

Acompanhei , pelo rádio, várias ondas musicais como o rock, a jovem-guarda, concomitantes aos grandes temas musicais da era de ouro do cinema romântico americano. Dancei ao som dos 'Ritmos de boate', programa do saudoso DJ e radialista Big Boy, pela rádio Mundial. Sem me esquecer da febre italiana e francesa com canções que ocupavam os primeiros lugares nas paradas dos programas de domingo. Tudo coroado pela grande explosão dos Beatles.

Todo aquele fascínio eu vivi, através de antiqualhas como aquelas, antigos rádios que ainda tocavam. Em especial por um Philips, modelo B5R76-A de 1959, onde eu sintonizava a BBC de Londres e os programas das rádios MEC e Cultura que me iniciaram nos clássicos da música.

Através dele tive meus primeiros contatos com obras luminares como a “Paixão segundo São Mateus” , de Bach, a “Pastoral” de Beethoven. Suas ondas calmas trouxeram-me a beleza do canto gregoriano em um programa apresentado pelo monge-poeta Dom Marcos Barbosa, cujos versos vez ou outra eu ouvia:

“Vós, que amais a natureza,é preciso vir para vê-la,recém-brotada das águas,como no céu uma estrela!...”( A flor no tanque, Dom Marcos Barbosa)

Eras tão rápidas, fugidias. Nem gosto de pensar que em dinossauro talvez esteja eu próprio me tornando, tão antigo em minhas memórias. Mas, se, diferente daqueles modelos de rádio do museu, ainda toco essas lembranças, quem as ouviria?

Preservem os pré-históricos o seu encanto. E Deus me resgate de todo saudosismo e nostalgia. Bem-vinda a era da informática que tudo integra, que possibilita toda música, inclusive a erudita, e toda notícia , pela internet.

Porém , algo me chama a render uma justa homenagem a tudo que me fez bem, que contribuiu para o melhor do que sou.

Aquele rádio, meu bom, velho Philips, ainda toca... E eu, agradecido , o ouço.

(Fernando Campanella, 03 de outubro de 2008)

3 comentários:

  1. Somos memória, Campanella. Quando se apagarem as imagens e sons e cores e cormas que guardamos, estaremos mortos.
    Somos memória e a memória é um hino à vida.

    Abraços.

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  2. Os ventos que as vezes tiram
    algo que amamos, são os
    mesmos que trazem algo que
    aprendemos a amar...
    Por isso não devemos chorar
    pelo que nos foi tirado e sim,
    aprender a amar o que nos foi
    dado.Pois tudo aquilo que é
    realmente nosso, nunca se vai
    para sempre...

    Bob Marley


    Excelente semana prá ti..........Beijosssssss

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  3. Ai que saudades dos dias da rádio!
    Beijinhos

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