quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

ANTíQUA


Foto by Fernando Campanella

Meu coração tem o lirismo rude
das charnecas (acridoce palavra).
Chegam os ceifeiros e o cortam,
arrancam –lhe capins e piolhos
mas traz a teimosia,
a suave resistência dos restolhos
(bela palavra).

Tosa-me o tempo ,
retrocedo, tudo me desaba
mas o que me podam é o que cresço.


Fernando Campanella



Há momentos de uma certa melancolia em mim. Não é algo avassalador, que possa inibir-me as fontes da vida, da alegria. É como o cair de uma chuva, uma sonoridade antiga de pingos nos telhados, um ar frio, e a alma querendo abrigo.

São momentos de interiorização, de uma solidão aliada ao espírito da arte para um certo concerto do mundo. Hoje, reencontro John Dowland, o músico, alaudista, inglês da Renascença, que traz a melancolia em suas obras. Em uma de suas mais famosas canções, 'Flow my tears', seus versos dizem:

"Flow my tears, fall from your springs,
Exiled for ever let me mourn
Where night's black bird her sad infamy sings,
There let me forlorn.."

Tradução aproximada:

"Desçam, minhas lágrimas, caiam de suas fontes,
Exilado para sempre, deixem-me lamentar
Onde a sombria ave noturna seus males canta,
Lá solitário deixem-me ficar..."

John Dowland


(Ouçam no youtube a peça escolhida de John Dowland para esta postagem, 'Lady Clifiton's spirit)




São nesses momentos de interiorização que buscamos a melhor companhia. Dowland é um mais que feliz reencontro.

9 comentários:

  1. "Tosa-me o tempo ,
    retrocedo, tudo me desaba
    mas o que me podam é o que cresço"

    Amei!

    A música eu não conhecia.

    Adorei!

    Falando de Hesse:
    Toda a sua vida foi uma série de fugas e revoltas; contra a casa paterna, o cristianismo, a escola, a vida burguesa, a guerra, o nacionalismo... os casamentos...
    rs...

    Falando assim dele poeta, sei q o conhece, mas para quem não... passa até uma imagem de bonzinho conformado.
    Rrsrsrsrsrsss....
    Admiro ele e respeito também... convivi com alguem parecidinho...ai... ai...

    Tudo continua lindo por aqui!
    Bjus!

    *.*

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  2. Gostei de conhecer um pouco de John Dowland, Campanella.
    São necessários esses momentos de melancolia - que prefiro chamar de intimismo, encontro com nós mesmos, com nosso eu mais profundo, ou mais delicado, com mais poesia. A vida é desconcertante; precisamos concertá-la. Camoões lamentava o desconcerto do mundo, mas com o equilíbrio de sua arte.
    Abraços.

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  3. São muito fortes esses momentos de interiorização... sempre muito frutíferos e profícuos. Penso neles exatamente assim: como uma poda necessária para florir de novo.
    John Dowland foi uma grata descoberta!

    Bjs.

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  4. Belos versos! "Tosa-me o tempo", isto é belo.

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  5. Lindo: o poema, a tradução, a música...o ambiente criado por este post!
    bj

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  6. Tudo já foi dito!
    Estas em bom tempo, amigo do coração!
    Tempo para criar e encantar!
    Kisses

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  7. Fernando,

    Não sei se você já ouviu “Jacinto Chiclana” ( milonga), música de Astor Piazzolla e letra de Jorge Luis Borges (Orquesta Astor Piazzolla , cantor Edmundo Rivero, do selo Polydor, Buenos Aires 1965).

    Segue, pois,

    JACINTO CHICLANA


    Jorge Luis Borges


    Me acuerdo, fue en Balvanera,
    en una noche lejana,
    que alguien dejó caer el nombre
    de un tal Jacinto Chiclana.
    Algo se dijo también
    de una esquina y un cuchillo.
    Los años no dejan ver
    el entrevero y el brillo.

    ¡Quién sabe por qué razón
    me anda buscando ese nombre!
    Me gustaría saber
    cómo habrá sido aquel hombre.
    Alto lo veo y cabal,
    con el alma comedida;
    capaz de no alzar la voz
    y de jugarse la vida.

    (Recitado)
    Nadie con paso más firme
    habrá pisado la tierra.
    Nadie habrá habido como él
    en el amor y en la guerra.
    Sobre la huerta y el patio
    las torres de Balvanera
    y aquella muerte casual
    en una esquina cualquiera.

    Sólo Dios puede saber
    la laya fiel de aquel hombre.
    Señores, yo estoy cantando
    lo que se cifra en el nombre.
    Siempre el coraje es mejor.
    La esperanza nunca es vana.
    Vaya, pues, esta milonga
    para Jacinto Chiclana.


    Um abraço,
    Pedro.

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  8. Versos divinos! Parabéns!! Demais passar p aqui, p deliciar a alma c belos escritos!

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