domingo, 7 de março de 2010

QUADRO (SOB A CHUVA)


Pintura de Salvador Dali
http://tattooa1000.blogspot.com/2009/12/
mediumnistic-paranoiac-image-1935.html


Na chuva falava-me a louca
''meu marido me diz
que não valho uma cabaça d'água''
e juntava as mãos em concha,
rindo a não mais poder.

E dançava, gritando
''vai cum Deus meu fio''
quando dela me afastei.

Sob aquelas águas quis dizer-lhe algo,
uma expressão que ouvira na infãncia,
''não valemos mais que um fumo picado''
mas apenas voltei -me e lhe acenei com as mãos
''vamos todos cum Deus, Senhora''.

Fernando Campanella

Música para esta postagem:
Da trilha sonora de 'Amarcord' de Federico Felini, 'Orchestral suite' 1/3 de Nino Rota.

11 comentários:

  1. vamos com Deus, poeta....
    e, sim, não valemos mais do que um fumo picado...

    viver é foda, amigo.
    um ofício.
    abraço de admiração do

    roberto.

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  2. A música lembra os pingos da chuva, hein???

    E se de loucos todos nós temos um pouco por que não dançar e gritar na chuva também?

    Bjs.

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  3. Lindo, como sempre.
    A escolha deste quadro de Dalí encaixa plenamente.
    bj

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  4. Gostei tanto. E a composição com a tela, perfeito.

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  5. "O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
    O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
    Aviso: não confundir bobos com burros."

    "Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

    - Clarice Lispector
    em...
    "Das Vantagens de ser Bobo"
    Que poderia ter sido...
    "Das Vantagens de ser Louco"
    [b]
    C'est la même chose

    Parabéns poeta!
    Qto mais se vive mais se aprende...
    Sucesso procê!

    Trago-lhe uma lembrança de outro adorável louco aqui:-

    http://www.cranik.com/images/dancandonachuva7.jpg

    *.*

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  6. Fernando,

    Uma beleza a pintura de Dali, e também a música de Amarcord, do Mestre Felini (Orchestral suite 1/3 de Nino Rota). E, também, não esqueçamos de dizer, o teu poema.

    Forte abraço.

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  7. Um poema belíssimo! Sob a chuva sentimo-nos mais orfãos de um gesto maternal e invocamos Deus como uma absolvição...
    Um beijo, meu amigo Fernando.

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  8. Acabei de ler o seu e-book. Fiquei encantado. "Comunhão" aé excelente. Metáfora também. Interessante como, no conjunto, os poemas se valorizam. Parabéns.
    E gostei da sua louca. Os loucos nos ensinam muito. A vida é um milagre - e milagres são loucura.
    Abraços, meu amigo.

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  9. Campanella, desculpe. Não sei por que escrevi "Comunhão". Estava pensando no poema "Jogo" - gosto especialmente deste poema.

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  10. Meu nome è Maria, sou italiana morando no Brasil. Com meu blog
    http://ocaminhodafloresta.blogspot.com/
    estou tentando de entender os simbolos e as tendencias do Brasil
    atual.Seu blog me està ajudando muito. Obrigada!
    Maria

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  11. Campanella,
    Na adolescência, tenra idade, comecei um poema assim:
    "Dali, aqui em meu peito..."
    O resto do poema se me perdeu da memória. Mas o primeiro verso teima em resistir num cantinho empilhado de lembranças, por isso o trouxe aqui, suscitado pelo quadro, poema e Fellini: belíssima sua postagem.

    Abraço mineiro,
    Pedro Ramúcio.

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