sábado, 10 de abril de 2010

ÓRBITAS


Foto by Fernando Campanella


Madrugada,
três vezes canta ainda o galo
em sua órbita assinalado.
Espio o colar de estrelas errantes
contornando o torso da noite -
três vezes, em silêncio,
ainda àquela porta eu bato
e não me atende o coração
do recolhimento indevassável.

Quantas almas e o assombro de um Deus
não terão assim por um instante
se entreolhado!

Fernando Campanella

Nota:

Hoje li uma entrevista concedida pela escritora brasileira Nelida Piñon à revista Isto É, publicação de 24 de fevereiro de 2010. Quando lhe perguntaram qual deveria ser a posição do escritor diante das regras do mercado, esta resposta, muito interessante, foi dada:

"É preciso ter aquela inocência associada à paixão literária. Não importa o que você faça, o que vai valer é a sua decisão. Mesmo que depois você não desperte o interesse do editor. Mas assim exerce a soberania até às últimas consequências. Isso proporciona uma liberdade extraordinária para o artista. Nenhum prêmio substitui esse espírito de liberdade, de não temer o mercado, não temer o leitor descuidado e não temer as livrarias que não querem mais expor o seu livro..."

(Nélida Piñon em entrevista à Isto É, publicação de 24.02.2010)

Lúcidas palavras dessa escritora que foi homenageada recentemente com o prêmio Casa de Las Americas - instituição cubana que apoia e premia escritores latinos - pela obra "Aprendiz de Homero". (Fonte: Revista Isto É)

Música desta postagem: Suite para Violoncelo número 1, Prelúdio, de Bach.

8 comentários:

  1. Antes que o galo cante três vezes, negamos Deus - como Pedro negou Jesus. Há um súbito silêncio - e as almas olham-se, querem compreender o mistério. A própria vida é um mistério.
    Abraços.

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  2. primeiro que essa sua noturna é LINDA D+, né? lembro dela no FLICKR...

    e o poema... bem, é "by fernando campanella" então não se precisa dizer nada!! é perfeito (o poema) em sua morada em nosso coração e alma!

    abçs. amigo. bom domingo!

    R.

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  3. tão lindos, os seus azuis.
    qualquer dia destes apareço aí na sua terra com um gravador de saudades na bagagem.
    lugar mais lindo, sô.
    abração fernando.
    abração do
    roberto.

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  4. Oi Fernando, parabéns pelo blog! Lindas palavras, lindas imagens e lindas músicas! Em relação às imagens, sou um pouco suspeita para falar, pois percorro e vislumbro os mesmos caminhos sinuosos das Minas que você (moro em Itajubá), mas, de resto, sensibilidades parecidas. Quando puder, dê uma olhadinha no meu blogue.
    Abraços

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  5. Concordo inteiramente, meu amigo.
    Tu tens essa inocência...a tua forma de escrita, as tuas fotos lindas e suaves.
    Olha queria estar ali na casinha do teu cabeçalho.
    bjs

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  6. Já li Aprendiz de Homero. Concordo em parte com Nélida.
    Belo poema, bela foto.
    Gostei especialmente do "assombro de um Deus": muito bom.

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  7. A madrugada é a hora do dia que mais amo. Mesmo que o galo não cante...
    Não posso estar mais de acordo com Nelida Piñon.
    Um beijo, meu amigo.

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  8. Igualmente a poeta Graça, madrugada, é prenuncio silencioso de um glorioso iniciar! Perfeito!

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