quarta-feira, 28 de março de 2012
REPASTOS
Foto por Fernando Campanella
Penso nas vacas como num mundo cifrado -
a cosmogonia circunscrita das vacas.
Mas que sei de universos fechados?
Eu, que suposta ciência tenho da alma,
dissipo noites, a cismar.
Sei que os bezerros às vezes param, e me observam,
quando por sobre o muro de silêncio os contemplo -
uma súbita luz, então, elide o tempo.
Depois nada mais acontece
a não ser um delicado ruminar de bezerros
absolvendo a tarde de metafísicas inúteis.
Fernando Campanella
sexta-feira, 16 de março de 2012
ASSIM NA TERRA...
domingo, 11 de março de 2012
JUBILAÇÃO
Foto por Fernando Campanella
Deus me deu um amor na madureza...
(Carlos Drummond de Andrade)
Concedeu-me Deus um amor aos cinquenta
quando Eros põe as barbas de molho
já transposto o vale das primícias
e das tormentas;
estendeu-me para leito o alvo linho,
acercou-me dos anjos de Jó,
deu-me calhas, de anteparo, para a tempestade.
Coroou-me de alvíssaras, no retorno,
e de minhas cismas fez um Éden redivivo -
pôs a arder em mim a chama exata
dos que não tomam o santo nome do tempo
em vão.
Para o gozo deu-me fruto e serpente,
e a vontade infinda, a fome grata de menino.
Fernando Campanella
sábado, 3 de março de 2012
O EU CONFESSO (FRAGMENTO)
Foto por Fernando Campanella
...Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha...
(Canção da tarde no campo, Cecília Meireles)
Haverá um dia
em que alguém lerá meus versos
mas neles abstraído já não me acho.
Não um dia como este, de pretensões confessas,
quando tudo que fiz conta, ou não.
Ou não haverá hora e vez
para toda idiossincrasia.
Cria do tempo, escrevo e escapo.
Mas se me buscares, transpõe os versos,
encontra me lá, à fímbria da tarde,
quando pássaros voarem
sobre arrozais em flor.
Fernando Campanella
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