Foto por Fernando Campanella |
Outro dia, ouvi o termo
“bagageiro”, referente a uma carroça transportando pessoas numa pequena cidade
aqui da região, e foi como se um eco de algo longínquo
houvesse batido em mim. Esse vocábulo
traz a semântica da minha infância, a sépia das fotografias de meus
avós, de um velho retrato de Minas guardado nos meandros da memória.
A palavra foi pronunciada por um dos membros de uma família que viera da roça às compras naquela cidadezinha. E aquela cena, dos pais e cinco filhos naquele veículo, era tão evocativa, tão plena de significados, que merecia uma foto. Eu trazia comigo uma câmera de bolso e perguntei aos pais se poderia tirar um retrato deles, da família inteira, ali juntinhos.
A palavra foi pronunciada por um dos membros de uma família que viera da roça às compras naquela cidadezinha. E aquela cena, dos pais e cinco filhos naquele veículo, era tão evocativa, tão plena de significados, que merecia uma foto. Eu trazia comigo uma câmera de bolso e perguntei aos pais se poderia tirar um retrato deles, da família inteira, ali juntinhos.
Para minha alegria, consentiram. E como já haviam apeado, retornaram a seus assentos no bagageiro para se organizarem.
Com a
intenção de conseguir uma imagem mais natural possível, conversei com eles,
indagando sobre onde moravam, o que produziam ou plantavam, o que faziam ali, e
coisas assim, para distraí-los e
registrá-los no melhor momento, sem as
estereotipadas poses de álbuns de
família.
Durante
a conversa, com o visor em mira, fiz três fotos do grupo. Em seguida, ao olhar na pequena tela da
câmera para ver o resultado, espantei-me
quando não vi a mãe em nenhuma das imagens. Que falta de atenção aos
detalhes, pensei, como é que eu não havia percebido aquilo na hora do
enquadramento?
- Cadê
a mãe? – perguntei-lhes, decepcionado – ela não aparece aqui.
Um
dos meninos desatou a rir, cutucou o
outro... E foi uma gargalhada geral.
- Ela
escondeu atrás do bagageiro– respondeu uma das garotas, timidamente, tampando
os olhos com a mão.
E não
foi mesmo que a senhora estava lá, escondidinha atrás de uma das rodas. Após a filha “entregá-la” ela se levantou um tanto embaraçada, com ar de
poucos amigos, dizendo-me que não gostava de sair em fotos. Respeitei sua decisão, não lhe pedindo que se juntasse à família para
nova rodada de imagens.
Por
sorte, a senhora havia se ocultado tão bem que realmente não deu pra perceber
seu vestígio na foto baixada em meu computador.
Por outro lado, lamentei o fato de ela não ter aparecido no quadro de tão bela família, embora, cá
entre eu e eles, soubéssemos que de alguma maneira ela se encontrava ali.
Eu me
senti como um antigo fotógrafo lambe-lambe ao registrar aquela cena da família, pioneiro, desbravando a vida essencial das ruas, das praças e dos campos de
antigamente. Na contramarcha da modernidade, a Minas do meu retrato, de sua
gente simples, dos bagageiros, das bodegas e capelas, estava ali, inteira, com
toda dureza e ternura, seu espírito
circunspecto, recatado, povoando as
calçadas e estradinhas de chão batido de seu interiorzão.
Fernando Campanella
Que delícia ler a sua crônica, Fernando. Fiquei aqui imaginando a cena. Essas imagens nos fazem voltar no tempo.
ResponderExcluirA foto também ficou uma beleza.
Grande abraço.
Gostei da foto e então loi a crônica. A linguagem está muito boa, cria aos poucos o cenário, os personagens, que se tronam cada vez mais vivos. Valeu a pena.
ResponderExcluirAbraços.