O pai me chamou na sala e perguntou: cadê tua mãe?
- A mãe? - perguntei, em resposta, com incredulidade e espanto, pois já haviam se passado quase doze anos desde o falecimento dela.
- A mãe? - perguntei, em resposta, com incredulidade e espanto, pois já haviam se passado quase doze anos desde o falecimento dela.
Outro dia eu pensara em como os neurônios castigam, amargam a longevidade, pela própria perda deles, ou outros fatores, mas hoje, diante da pergunta de meu pai, na dureza e glória de seus 93 anos, consegui perceber um veio de ternura em sua voz. Momento de solo absoluto, em que o touro, frágil, torna-se ave, e a memória faz seu ninho. Indagar por alguém que já partira há tantos anos, como se a presença física da pessoa amada, com quem convivera por bem mais de meio século, ainda rondasse os aposentos da casa, e sua voz se fizesse ouvir da varanda, da cozinha, é algo, no mínimo, resplandecente, rompendo os grilhões de ferrugem, a tirania dos hábitos, dos medos que a solidão procria.
Os seres, embora imbuídos em categorias e espécies, desde as casas que habitamos, as árvores, as flores, os animais de estimação, até os nossos entes queridos, são únicos, insubstituíveis, mas passei a mão no cabelo branco de meu pai como para dizer: eu estou aqui, mesmo com toda ausência, toda falta que o senhor possa sofrer. E o senti mais leve, pois de alguma maneira eu intuía que a mãe estava ali entre nós.
Fernando Campanella
O seu texto me comoveu até às lágrimas, meu querido amigo. Bem haja por partilhá-lo aqui.
ResponderExcluirUm beijo.
Que linda mensagem de amor, meu prezado amigo Fernando. Eu acredito tanto neste amor, num casamento assim....que a morte separa o corpo, porém, jamais pode separar a alma. E essa presença compartilhada... "beijando a imagem dela, dizendo baixinho: minha eterna companheira" .. isso tocou fundo no coração. Obrigado pela linda mensagem, meu grande amigo e poeta do coração.
ResponderExcluirQue lindo, Fernando!
ResponderExcluirAs pessoas se vão, mas o amor permanece.
Grande abraço.
Senhor Fernando,cheguei até este blog por uma foto do senhor que vi na fã page no Facebook Por ai Lugares, coisas, causos e pessoas de Minas Gerais.Então fui procurar para ver se o senhor tinha mais fotos de Minas,terra que amo imensamente.Com os resultados cheguei até o seu Facebook e de lá parei aqui nesse texto.Não consigo exepressar em palavras a beleza,a doçura,a lucidez descritas nessas palavras.Estou em lágimas e emocionada.Que amor lindo dos seus pais,me lembrei dos meus amados avós,mineiros,que tambem partilhavam um amor assim, o verdadeiro amor eterno.
ResponderExcluirNo mais... desejo saúde para o ambos, o senhor e seu pai,tudo de bom e que este texto sirva de exemplo para esquentar os corações frios desses tempos modernos.
Um abraço
Stephanita Villanova
Muito lindo. Momentos que só algumas pessoas conseguem aproveitar nesta vida. Deus abençoe vocês.
ResponderExcluirQue lindo ...que lindo ...que lindo !!! BEijos para sei PAI ... pra você.
ResponderExcluirpalavras mágicas para descrever um momento emocionante.... Deus abençoe vocês, amigo!
ResponderExcluirBoa noite, Campanella, que lindo texto; você contou de uma maneira doce, sensível o inevitável, infelizmente acontece.
ResponderExcluir"eu estou aqui, mesmo com toda ausência, toda falta que o senhor possa sofrer. E o senti mais leve, pois de alguma maneira eu intuía que a mãe estava ali entre nós."
Emocionou, parabéns, um grande abraço, a gente se perde um pouco dos antigos amigos, rs.