Amor
O Amor deu-me boas vindas, porém retraiu-se
minha alma, em pó e pecado eivada.
Mas o Amor, de olhar sagaz, observando-me
recuar àquela minha primeira entrada,
achegou-se de mim, suave, indagando
se algo me faltava.
“Um hóspede,” disse-lhe, “em mérito de entrar à vossa casa."
Falou o Amor, “Tu o serás.”
“Eu, o ingrato, o desamável? Ah, não sou digno
de a Vós erguer os olhos, meu amado.”
O Amor tomou minha mão e, sorrindo, retorquiu,
“Quem, senão eu, teria os olhos criado?
“Verdade, Senhor; mas eu os turvei; deixai minha desonra
tomar o rumo que lhe caiba.”
“Acaso não sabes”, diz o Amor, “quem toda humana culpa assumiu?”
"Meu querido, serei de vossa mesa, assim, o servo."
“Deves sentar-te,” diz-me o Amor, “e de minha carne provar.”
Então sentei-me, e de sua carne provei.
(Poema de George Herbert, tradução de Fernando Campanella)
George Herbert, nascido no País de Gales, (1593-1633) foi um poeta, orador, e sacerdote anglicano. Escreveu poemas religiosos, caracterizados por precisão de linguagem, versatilidade métrica, e inventivo uso de metáforas. Insere-se na Escola Metafísica de Poetas, expressão cunhada pelo crítico literário Samuel Johnson para descrever um grupo de poetas ingleses do século dezessete, cujos trabalhos primavam pelo uso de conceitos e pela especulação sobre temas como amor e religião.
Considerado um expoente da literatura inglesa, sua poesia tem sido colocada em música por vários compositores, como Ralph Vaughan Williams, Lennox Berkeley, Benjamin Britten, Judith Weir, Randall Thompson, William Walton, e Patrick Larley.
(Fonte: Wikipedia)
Love
LOVE bade me welcome; yet my soul drew back,
Guilty of dust and sin.
But quick-eyed Love, observing me grow slack
From my first entrance in,
Drew nearer to me, sweetly questioning 5
If I lack'd anything.
'A guest,' I answer'd, 'worthy to be here:'
Love said, 'You shall be he.'
'I, the unkind, ungrateful? Ah, my dear,
I cannot look on Thee.' 10
Love took my hand and smiling did reply,
'Who made the eyes but I?'
'Truth, Lord; but I have marr'd them: let my shame
Go where it doth deserve.'
'And know you not,' says Love, 'Who bore the blame?' 15
'My dear, then I will serve.'
'You must sit down,' says Love, 'and taste my meat.'
So I did sit and eat.
(George Herbert)
quarta-feira, 30 de maio de 2012
domingo, 20 de maio de 2012
EFEMÉRIDES (MAIO)
sábado, 12 de maio de 2012
IN MEMORIAM
quarta-feira, 25 de abril de 2012
VENTOS DO LESTE
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Foto por Fernando Campanella |
Com folhas de salgueiros
a vossa cortesia.
(Matsuo Bashô)
Esta viração de outono
me traz versos de Bashô.
Revolve memórias da terra -
aromas, pastos, rastelos -
traz também o viés da vida -
lume e cinza,
pétala ressequida.
Esta aragem nos salgueiros do leste
tocou poetas longínquos
e hoje ressoa minhas hastes -
já não sou o grande pária do mundo,
ave dispersa na serrania.
Este sopro, de mais longe,
de outros píncaros e ares,
traduz-se agora em coisas minhas,
em paisagens do quintal
(e com folhas de laranjeiras
minha vez então a pagar
por tão primaz cortesia).
Fernando Campanella
quarta-feira, 28 de março de 2012
REPASTOS

Foto por Fernando Campanella
Penso nas vacas como num mundo cifrado -
a cosmogonia circunscrita das vacas.
Mas que sei de universos fechados?
Eu, que suposta ciência tenho da alma,
dissipo noites, a cismar.
Sei que os bezerros às vezes param, e me observam,
quando por sobre o muro de silêncio os contemplo -
uma súbita luz, então, elide o tempo.
Depois nada mais acontece
a não ser um delicado ruminar de bezerros
absolvendo a tarde de metafísicas inúteis.
Fernando Campanella
sexta-feira, 16 de março de 2012
ASSIM NA TERRA...
domingo, 11 de março de 2012
JUBILAÇÃO

Foto por Fernando Campanella
Deus me deu um amor na madureza...
(Carlos Drummond de Andrade)
Concedeu-me Deus um amor aos cinquenta
quando Eros põe as barbas de molho
já transposto o vale das primícias
e das tormentas;
estendeu-me para leito o alvo linho,
acercou-me dos anjos de Jó,
deu-me calhas, de anteparo, para a tempestade.
Coroou-me de alvíssaras, no retorno,
e de minhas cismas fez um Éden redivivo -
pôs a arder em mim a chama exata
dos que não tomam o santo nome do tempo
em vão.
Para o gozo deu-me fruto e serpente,
e a vontade infinda, a fome grata de menino.
Fernando Campanella
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