sábado, 20 de novembro de 2010

E ME ALIVIA....


Foto por Fernando Campanella

Eu me alegro
à terra firme
sob meus sapatos
surrados

refaço as pedras
retomo as insanidades
do meio dia

- irrelevantes agora
a velha praga da horta
e os ratos
da minha cozinha -

acaricio as ranhuras
da minha porta

ajoelho, beijo o solo
da alma reencontrada.

(No eco das sombras
já não havia ternura
e podaram-se os jardins
das palavras)

Até que à fria gosma dos musgos
eu me confunda
e a surda ausência me destitua,
amor, me toma, e me alivia.

Fernando Campanella, 2006


domingo, 14 de novembro de 2010

COMO NOS CÉUS



assim na terra
abro as comportas da criação
(e que o espírito da arte me proteja)

Fernando Campanella


Fotos por Fernando Campanella

"Para os gondes, do estado de Madhya Pradesh, na Índia central, a arte é uma forma de prece, eles acreditam que a fortuna cabe àqueles que conseguem uma boa imagem."
Para mim, ela é a forma que encontro de abordar, de intuir a Deus.

(Fernando Campanella)

Fonte: Resenha do livro, A vida secreta das árvores, da editora Martins Fontes.

(Meus agradecimentos a Djabal (http://djabalmaat.blogspot.com/) que me enviou a informação sobre os gondes, e a José Carlos Brandão (http://poesiacronica.blogspot.com/) que fez uma homenagem a mim em seu blog com seu poema sobre a árvore da vida.)

domingo, 7 de novembro de 2010

QUANDO ME FALTAM AS PALAVRAS...




"As palavras correm de mim algumas vezes...
Aí me refugio nas imagens!!"
(Pinacoteca Nacional, São Paulo, enviado por minha amiga Ruby)


Fotos por Fernando Campanella
A casa nas fotos acima não é uma casinha de palha, parece abandonada ao pé de alguma serra de Minas, não tem baunilha nem manacás, mas em agosto/setembro fica toda juncada de flores de ipê amarelo. Nela, como em tantas outras, minha alma habita quando me faltam as palavras e a memória me fala.
Minha homenagem ao grande seresteiro e poeta do Norte de Minas, Godofredo Guedes, pai de Beto Guedes, com sua 'Casinha de Palha', no vídeo abaixo:

domingo, 31 de outubro de 2010

A ÁRVORE DA VIDA


Foto por Fernando Campanella

...Eu insisto em um Deus
que se projeta em tronco
e esparrama os braços
para acolher os seus.

(Fernando Campanella, trecho do poema de dezembro de "Efemérides")

...aqui está mais profundo segredo a todos velado
(aqui está a raiz da raiz e o botão do botão
e as alturas das alturas de uma árvore chamada vida; que cresce
para além do que a alma pode esperar ou o pensamento esconder)
e é esta a maravilha que mantém as estrelas separadas

Trago o teu coração (guardo-o dentro do meu coração)

(Trecho de um poema de e.e.cummings, tradução de Manuel Anastácio, gentilmente enviado por minha amiga Gerana Damulakis, do blog http://leitoracritica.blogspot.com/)

A árvore da vida é um mito, um tema recorrente em várias culturas e religiões, na literatura, na música, na pintura, etc. O trecho do belo poema de e.e.cummings, acima, é um exemplo de tal recorrência, assim como a música 'The tree of life', da trilha sonora do filme 'The Fountain", no vídeo abaixo.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ALGO NAS FLORES


Foto por Fernando Campanella

há algo de óbvio nas flores -
eu o admito, mas reincido -
a beleza requer exercício

Fernando Campanella

domingo, 17 de outubro de 2010

BARCA DO NORTE


Sulcos
Foto arte por Fernando Campanella

meus versos em uma garrafa
ou em uma barca vazia -
meu remador é o vento
e alguma ilha a utopia

Fernando Campanella

"...A ficção (a arte) não é a vida, senão uma réplica da vida, que a fantasia dos seres humanos tem construído, dando-lhe algo que a vida não tem: um complemento ou dimensão que é precisamente o 'fictício' da ficção, o propriamente 'novelesco' de uma novela, aquilo de que a vida real carece e que desejamos que tivesse..."
(Mario Vargas Llosa, El Viaje a la Fición, parênteses com adendos meus)

"Escreve-se (cria-se arte) para preencer vazios, para fazer separações contra (e ao mesmo tempo reintegrar) a realidade, contra as circunstâncias."

(Mario Vargas Llosa, parênteses com adendos meus)

Vídeo: 'Rema na Canoa', cantiga das destaladeiras de fumo de Arapiraca, Alagoas.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

...É TAMBÉM O SAPO



Vídeo feito por Diana Liz Duque Sandoval, da Estação Experimental Caparo, Venezuela

o luar sobre a lagoa

cada amor em meu lugar

e já não há metáforas:

o belo para mim

é também o sapo.

(Fernando Campanella)

Obs. Os versos acima já foram aqui postados alguns meses atrás. Porém hoje encontrei um vídeo por Diana Lis Duque Sandoval no site de fotografias FLICKR e me veio a ideia de uma repostagem do poema, visto que finalmente encontrei sua perfeita ilustração.

Meus parabéns e minha admiração à Diana pelo belo trabalho. Vejam sua página no Flickr, onde se apresenta como Lizduquesa:

http://www.flickr.com/photos/diana_duque/