domingo, 16 de agosto de 2009

SINOS DE MINAS


Foto by Fernando Campanella


SINOS

Dois sinos tocam ao finado,
um maior, como que do céu
chamando,
e a alma melancólica
respondendo
‘já vou indo, meu pai’,
é o sino menor dobrado.

Outro sino
nove vezes na tarde badala
ad aeternum evocando a chegada
do antigo anjo dos mitos .

Aqui, sinos
não celebram grandes impérios
nem cataclismos rememoram
nem por isto menos sino se torna
o eco do longínquo que sentimos.

Aqui também bate o sineiro
sinos doces, pequeninos

e da branca torre, no natal,
todo ano como num encanto
desce do Deus menino
um soprinho.

(Fernando Campanella,
Dezembro de 2007)




Talvez o que mais me evoque o coração de Minas sejam os sinos que tangem, suave dobrar de um bronze que ecoa nos refolhos da alma.


São eles um patrimônio religioso, cultural, monumentos de um espírito coletivo.Casam-se com uma quase tristeza,uma leve cor, indecisa entre dor e alegria , presente nos pastos, nas capelas à beira das estradas, nas árvores, nos bichos e nos homens, na própria luz do sol que por entre nós perpassa, no silêncio anilado do céu - o espírito mineiro vibrando em singela, eterna circunspecção.

Parecem, os sinos, ter sido inventados, criados para Minas; são a impressão mais bem guardada de seu encanto e mistério. Alguns maiores, outros mais pequeninos, sinos para o Deus grande, para o Deus-menino, toques melancólicos que anunciam a passagem para a morada encantatória do Pai, toques mais festivos para páscoas, ou mais sublimes, para o ângelus, a visita do Anjo a Maria... Sinos para toda solenidade e ocasião.

Mas os sinos são , acima de tudo, o toque renovado, universal, de um necessário Deus a evocar o natal no coração dos homens.

Fernando Campanella



2 comentários:

  1. "... e da branca torre, no natal,
    todo ano como num encanto
    desce do Deus menino
    um soprinho..."
    Demais... Belo... abraço...

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  2. Que Deus nasça todo dia nos nossos corações!
    Toquem os sinos, toquem os sinos!
    A fé move as montanhas e os sinos.

    Você despertou um sino dentro de mim, Campanella.

    Aquele abraço.

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