terça-feira, 31 de agosto de 2010

SUAVE É A NOITE


Foto por Fernando Campanella


(...Suave é a noite
logo a rainha-lua sobe ao trono e luz
com a legião de suas fadas estelares...)
Keats


As estrelas espiam de longe
e o caracol ao ciciar da brisa
arrasta seus passos.
Meu amor dorme - suave é a noite
em seu silêncio de longos braços.

Fernando Campanella


sábado, 28 de agosto de 2010

YELLOW MOON (LUA AMARELA)


.
..Night is but a wondrous, sounding chance...

(...A noite é apenas uma assombrosa e sonora
chance...)


Fotos por Fernando Campanella


YELLOW MOON


Don't mourn over past lovers, yellow moon,
for you have preserved your charms
and enticed mortals to your feet
since generations of old.
Don't cry, though we're lone wanderers
and you last so much longer than I.
Night is but a wondrous, sounding
chance - take my hand, thus,
leave your seat - shall we dance?

Fernando Campanella


LUA AMARELA


Não lamentes idos amores, lua amarela,
pois ainda preservas teus encantos
envolvendo mortais com tua trança
desde gerações imemoriais.
Não chores, embora solitários errantes
sejamos, e sobrevivas tão mais a mim.
A noite é apenas uma assombrosa
e sonora chance - dá-me tua mão, assim,
sai de teu canto - e que comigo dances.



Fernando Campanella



Recebi o youtube abaixo de meu amigo Jairo de Brito. Trata-se de gravação, por Ravi Shankar e família, de uma música de George Harrison 'I am missing you'. O ex-beatle a compôs em homenagem a Krishna, divindade hindu.
Os versos iniciais da canção dizem: ' Sinto falta de ti, Oh, Krishna, onde estás?'
Conta-se que Srila Prabhupada, um mestre espiritual da India, ao ouvir essa bela canção teria dito que se George continuasse a compor música assim ele avançaria rapidamente na vida espiritual.



Um trecho do Bhagavad Gita:



"...Krishna havia se retirado para a floresta e estava em meditação embaixo de uma árvore, quando um caçador, na penumbra da floresta, o confunde com um antílope e o fere na planta do pé. Mesmo ferido de morte, aceita-a com grande serenidade."



"Inevitável é a morte para os que nascem; todo morrer é um nascer - pelo que não deves entristecer-te por causa do inevitável."



(Krishna)



Fontes de pesquisa:
1) ISKCON NEWS
2) WIKIPÉDIA



sexta-feira, 20 de agosto de 2010

REVISITANDO (INTERLÚNIO)


Foto por Fernando Campanella


...de onde esta concha
que verbaliza os pássaros?

este azul
que esfuma os montes
e inventa um céu

meu poder de ficção

meu sonho
que paira tão alto
e para sempre me escapa...

Fernando Campanella (Trecho do poema Interlúnio)

Galen Smith, que canta e toca 'Scarborough fair ' no vídeo feito para um projeto escolar, abaixo, nos diz que essa canção, popularizada por Simon and Garfunkel no final de década de sessenta, é na realidade uma balada tradicional folclórica inglesa. Sua criação remonta pelo menos a duzentos anos.
Os versos, segundo algumas pesquisas, eram para ser cantados em dueto, alternadamente, onde um amante imporia ao outro tarefas impossíveis de serem cumpridas. Pela realização das mesmas, provariam que verdadeiramente amavam, merecendo do mesmo tanto ser amados.
Uma outra interpretação da letra da música aponta para a desilusão de alguém que pelo amor traído impõe tarefas absurdas à pessoa amada para que esta reconquiste sua confiança.
Qualquer que tenha sido a motivação inicial, o tema dessa melancólica, e ao mesmo tempo bem-humorada canção, parece ser a dúvida acerca da existência de um verdadeiro e eterno amor. Mais a sensibilidade, a dor de um sentimento desacreditado, e a quase impossibilidade de recuperação. No final da letra, após a enumeração das difíceis tarefas, temos estes belos versos:

"... o amor impõe impossíveis tarefas
mas não mais que qualquer coração peça..."

Deixo aqui a tradução de uma estrofe onde podemos sentir o grau de dificuldade, a impossibilidade, mesmo, do cumprimento da exigência imposta:

"...Vocé está indo para a feira de Scarborough?
Salsa, sálvia, rosmaninho e tomilho...
Diga a ela para fazer-me uma camisa de cambraia...
Sem costura nem o bom trabalho de uma agulha
Então ela será o verdadeiro amor de minha vida..."

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

À CURVA DE DEUS


Foto por Fernando Campanella

...escrevo por linhas tortas
(Deus me ensina)...
Fernando Campanella

Perco o mundo
ganho a palavra.
O que me fica
senão como as viúvas
escandir meus mortos
- à curva de Deus
orar a poesia?

Fernando Campanella


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

ADÉLIA PRADO, UM ANTIGO POEMA E UMA CARTA


Foto do blog:
http://um.buraco.na.sombra.netsigma.pt


No Caderno 2 do jornal O Estado de São Paulo de domingo passado, uma matéria, por Ubiratan Brasil, sobre o lançamento de 'A Duração do Dia, novo livro de poesia de Adélia Prado após um jejum de onze anos. E uma entrevista concedida ao jornal pela poeta por e-mail, de Divinópolis, MG, onde cuida de sua delicada saúde.

Da entrevista, destaco algumas considerações da escritora sobre o seu processo poético:

"A poesia, a 'beleza', é epifânica sempre. É uma aparição oracular pedindo corpo por via da palavra. Não a invento, eu a recolho. Como? Ainda não se descobriu o maravilhoso caminho da criação de um poema, estranho ao próprio autor. Ao fim, a arte é maior que o artista. Sem esta convicção (e se equivoca bastante) não deve vir a público. A beleza exige obediência restrita."

"...cada um de nós tem a terra e o céu para lhe inspirar."

"(a poesia) é energia porque é viva, pulsa, tem sangue e alma divina."

E a reportagem nos traz em primeira mão este maravilhoso poema, do novo livro de Adélia:

ALVARÁ DE DEMOLIÇÃO

O que precisa nascer
aparece no sonho
buscando frinchas no teto,
réstias de luz e ar.
Sei muito bem
do que este sonho fala
e a quem pode me dar
peço coragem.

(Adélia Prado, A Duração do Dia, editora Record)

Transcrevo aqui, com muita alegria, uma pequena grande carta que Adélia me enviou em 1989, respondendo a uns poucos poemas que lhe enviei para apreciação através de um aluno meu, de Divinópolis, que a conhecia:

Antônio Fernando,
tive imensa alegria ao ler os seus textos, pois são de um poeta! Não se dá conselhos a poetas. Escreva, escreva, escreva, para sua e nossa alegria.

Por que não manda seus originais para este editor?: ............................

Pentecostes está chegando. Feliz incêndio pra você! Que a poesia te inunde. Como fiquei feliz!

O abraço da Adélia Prado.

Divinópolis, 26 de abril de 1989.

PS - Não se esqueça de mim quando fizer seu primeiro livro. Não fique ansioso. Deus quando dá o dom, dá os meios. Aguarde.

Muitos anos depois, fiz um blog, e enviei o 'link' para Adélia, pois o considero como um livro que realizo. Infelizmente ela não pôde acessá-lo devido a problemas de saúde, segundo me informou seu marido. Mas ficam aqui meu agradecimento e meu carinho por essa poeta que em algum tempo de sua vida teve a delicadeza de responder, em uma carta escrita à mão, aos meus poemas incipientes, e de me incentivar.

Eu enviara a ela cinco poemas, dos primeiros que escrevi. Escolhi um deles, que aqui transcrevo:

CAIXAS DE MÚSICA

Feito experimentar a dor
de uma fome
que nada satisfaz
ou consegue saciar
é perceber sonoridades
de caixas
onde pequenos dançarinos
se esmeram
em esfuziante acrobacia.
Cortem-lhes o instante das cordas
- plunct -
e são silêncios opacos,
são fundos e frios.

A nós, o dom
e a maldição de sonhar.

(Fernando Campanella, 1983)





terça-feira, 10 de agosto de 2010

QUE DIFERENÇA FAZ ÀS FLORES....


Foto por Fernando Campanella

Que diferença faz às flores
se por um segundo as contemplo?
Nem sei se algo no mundo
precisa de meu olhar assim atento.
Se me procuras, em teu espelho
por um tempo me reflito.
Depois ao cálice de mim retrocedo.
Eu sou o velho vinho que me bebo
de minha embriaguês me contento.

Fernando Campanella, O Eu Confesso, XXX.

sábado, 7 de agosto de 2010

CADA AMOR


Foto por Fernando Campanella

O luar sobre a lagoa
cada amor em meu lugar
e já não ha metáforas - o belo
para mim é também o sapo.

Fernando Campanella

BELO, BELEZA

Perguntai a um sapo o que é a beleza, o supremo belo, o to kalon. Responder-vos-á ser a sapa com dois olhos exagerados e redondos encaixados na cabeça minúscula, a boca larga e chata, o ventre amarelo, o dorso pardo...

(Voltaire, Dicionário Filósofico)



segunda-feira, 2 de agosto de 2010

NEM BEM ENTRA AGOSTO....



Agosto não é bem rima



nem bem desgosto



é quase um quê de mim



em ipês amarelos e roxos

Fernando Campanella (Efemérides, Agosto)

(Fotos por Fernando Campanella)