segunda-feira, 4 de maio de 2009

CRUZ DO MELEIRO



Foto by Fernando Campanella

Era uma cruz na crista do morro,
lenho engastado de líquens,
pousio de quero-queros;

um espanta-corisco
para quando a tormenta desce

e um ângelus gravitando as asas
na tarde.

Intersecção, e ainda integração
das grandes águas:

braços para as folgas do mundo,
tronco para a continência do céu.

Vocatus adque non vocatus Deus aderit.*

Fernando Campanella, 1991


* "Invocado ou não invocado, Deus está presente" Carl Gustav Jung, o renomado psiquiatra suíço, esculpiu esta inscrição em latim sobre a porta de sua casa em Kusnacht na Suíça. Em uma carta de 19 de Novembro de 1960, Jung explica que o aforismo foi encontrado em uma cópia da edição de 1563 da Collectaneas Adagiorum, de Erasmus, uma compilação de analectos* de autores clássicos. Trata-se, o dito, de um oráculo de Delfos. O psiquiatra o colocou sobre a porta de sua casa para lembrar aos pacientes , e a si próprio, que "o temor a Deus é o princípio da sabedoria" (Timor dei initium sapiente). Para ele, com esse aforismo em mente, uma novo caminho, não menos importante, começava, uma abordagem , não do Cristianismo, mas de Deus em si próprio, e isso lhe parecia ser a questão fundamental.

*Analectos: coleção de escritos, aforismos ou ditos célebres.

CARROSSEL


Foto by Fernando Campanella

Os braços são mínimos
e o espaço da cabeça
é um atônito girassol.
Ouve, que o coração
resguardado ensaia
e ainda que mil vezes frágil

não há que se abortar.

Fernando Campanella (1986)

sábado, 2 de maio de 2009

ESBOÇO


Foto by Fernando Campanella

Antes, somos sedas a esmo
Projetos- libélula, bichos voláteis.
Antes é o esboço, o mais raso ensaio.
O amor chega no remanso dos ventos,
No ressaca dos atos.
O amor vinga mais tarde.

Fernando Campanella (1986)

quinta-feira, 30 de abril de 2009

QUEBRANTO


Foto by Fernando Campanella

Mira-te encanto traído
Teu vento virado
Na água.

Afasta a dor e o sentido
E lambe as tuas cinco chagas.

Afaga então a pedra
Invoca os deuses
desperta na concha do ouvido
O eco de luas sonhadas.


Corta o quebranto
Na lâmina funda
Da água.

Mira-te agora
Mira-te flor enquanto
Te espalhas em ondas
Na água.

Fernando Campanella

quarta-feira, 29 de abril de 2009

FACTUAL


Foto by Fernando Campanella


um estalido
cai uma folha seca
no quintal

factualmente

e o poeta retoma a velha tecla
e bate, bate
todo o outono que sente...

Fernando Campanella




FUCHSIA 'LA CAMPANELLA'


Fuchsia 'La Campanella'
(Brinco-de-Princesa 'La Campanella)
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terça-feira, 28 de abril de 2009

LA CAMPANELLA


Fulchsia 'La Campanella' *

(Poema dedicado à minha amiga Leila Laderzi)

Aquela senhora
toca um piano na tarde -
La Campanella* - as teclas ágeis
ondulando em mimos,
em vibrantes sinos delicados.
Imersos, cada um em sua estória,
uma sintonia de repente
nos toma, uma arte,
um rio profundo sem corte -

uma flor
em um certo azul que nos sonha.

Fernando Campanella



* La Campanella é o nome dado ao movimento final do Concerto para violino número 2 em B menor, de Paganini, porque o tom era reforçado por um pequeno sino de mão. Franz Liszt tomou emprestado esse tom e compôs várias peças baseadas nele, sendo a mais famosa o terceiro dos seis Grandes Estudos de Paganini, de 1851, também conhecido como La Campanella.

Ouça a peça por Franz Lizst:


* Flor da foto: Fuchsia 'La Campanella'.

"As plantas conhecidas vulgarmente por 'Brincos-de-Princesa pertencem ao gênero Fuchsia, família Onagraceae.

Todas são originárias da América Central e do Sul, excepto três espécies Neo-Zelandesas.
Existem espécies rastejantes, anãs e sub-arbustivas, bem como outras arbustivas de grande porte ( algumas podem atingir os 4 a 5 metros de altura).

Tanto quanto se sabe, os Brincos-de-Princesa foram introduzidos na Europa nos finais do século XVIII. A partir da primeira metade do século XIX, alguns horticultores dedicaram-se a desenvolver híbridos e cultivares destas espécies: o sucesso foi tal que , actualmente, se conhecem e se comercializam centenas de variedades. "
Fonte: htttp://aimagemdapaisagem.nireblog.com