Trabalho realizado e ofertado por minha amiga Leila Laderzi com minhas fotos e meus poemas em inglês. Uma vez aberta uma foto individual, clique no lado direito do mouse e vá a
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Muito obrigado, Leila.
(Webdesigning work done and offered to me as a present by my friend Leila Laderzi with my poemas written in English. Once you open an individual photo, press on the right side of the mouse and go to 'Full screen' for a better, enlarged view.
EM SEDA Por esta luz que me alumia e me inventa em seda a estrada entre a arte, alívio da memória, e o mais trêmulo aceno do nada - se com o mundo me acertei,me dasavim já nem sei - sou o que perdidamente tomou rumo de mim. Fernando Campanella, 2010
Há uma implacável dinâmica no tempo que nos faz eternos perdedores do presente, tecelões e ao mesmo tempo desfiadores da memória. E a memória se presta a isto: a desfilar seus fantasmas. Por isso ela é melhor rediviva na arte. A arte que, para mim, é a sìntese, a reconstrução possível, a recuperação sonhada, e eu diria , quase, a felicidade, mas esse conceito me escapa. Fico com a satisfação interna, com a possibilidade.
(Fernando Campanella)
A LUA DE LI PO
(BEBO SOZINHO AO LUAR)
Entre as flores há um jarro de vinho.
Sou o único a beber: não tenho aqui nenhum amigo.
Levanto a minha taça, oferecendo-a à Lua:
com ela e a minha sombra, ja somos três pessoas,
Mas a Lua não bebe, e a minha sombra imita o que faço.
A Sombra e a Lua, companheiras casuais,
divertem-se comigo, na primavera.
Quando canto, a Lua vacila.
Quando danço, a minha Sombra se agita em redor.
Antes de embriagados, todos se divertem juntos.
depois, cada um vai para a sua casa.
Mas eu fico ligado a esses companheiros insensíveis:
És, sim, algo qualquer, um pó errante, um limão de que eu bebesse o sumo só para fruir o teu azedo instante.
Nem mesmo vês que agora sou como tu, um cego de ti, uma bela viola, um falso diamante.
Fernando Campanella, 2006
II
FAC- SÍMILE
Estrela, minha Alfa Centauro, ou uma outra qualquer a inumeráveis anos-luz de indiferença, sou um terráqueo instável , nem me sabes, mas gosto de à noite deitar-te em meus olhos, cansado das luzes nervosas onde me lavro.
Estrela, meu astro reinventado, por que assim enternecido de ti me enamoro, na funda noite exorcizado ?
Serias como humanos que de longe nos encantam trazendo de perto o cheiro de entranhas, o encadeamento dos hábitos?
...E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas Uma sombra medra sob esta rocha escarlate. (Chega-te à sombra desta rocha escarlate)...
(T. S. Eliot, trecho de 'A terra desolada', tradução de Ivan Junqueira)
e quando dei por mim vi um molusco arrastando nos ombros o tempo da casa vi um monge rondando em ócio - o hábito a chama e a mariposa alucinada folhas caducas espectros (os ecos, os ecos) a roda tocada à memória - vi a turbulências das moscas - a lava e a concha sonhando a asa - quando cheguei ao limbo de mim e o vento seguiu senti um abandono e uma distância sem fim pesei o silêncio e o mundo certo que perdi vi a pedra chamando a água Fernando Campanella, 2006