segunda-feira, 14 de junho de 2010

PRESENTES DE MINHAS AMIGAS (PRESENTS FROM MY FRIENDS)


Trabalho com foto/poemas por Leila Laderzi

Trabalho realizado e ofertado por minha amiga Leila Laderzi com minhas fotos e meus poemas em inglês. Uma vez aberta uma foto individual, clique no lado direito do mouse e vá a
'Go full screen' (Tela grande) para melhor visualizar o belíssimo trabalho de minha querida amiga.

Muito obrigado, Leila.


(Webdesigning work done and offered to me as a present by my friend Leila Laderzi with my poemas written in English. Once you open an individual photo, press on the right side of the mouse and go to 'Full screen' for a better, enlarged view.

Tks a lot, Leila.)

domingo, 13 de junho de 2010

RESPONSO (A SANTO ANTÔNIO)


Foto by Fernando Campanella

...Vereis fugir o demônio
E as tentações infernais...
(Responsório de Sto. Antonio, popular)

a bênção, meu 'véio' Antônio,
de Pádua, de Lisboa
do amparo, dos montes
das tentações infernais

(da minha estrela
da minha noite primeira)

do Itaim
do meu berço

das entranhas
das Minas Gerais

Fernando Campanella


Ouça Maria Bethania cantando 'O que seria de mim sem a fé em Antonio?'.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

LUZ CADENTE


Folhas de Outono
Foto por Fernando Campanella

...as folhas mortas com a pá recolhidas...

e o vento do Norte as leva

dentro da fria noite, esquecidas...

(As folhas mortas, Jacques Prévert)


Serão miragens
aqueles tons em cobre
ondulando em folhas na tarde?
Meus olhos devem andar poéticos
ou delirantes
ou mais febril a minha percepção
que entende que os animais respondem
às nuances que a luz da tarde concede.

Luz e folha devem ter naturezas atadas
em delicado, intraduzível elo
que traça o pássaro ao ninho.
Não sei.

O que para as aves deve ser
algo como arbóreas núpcias
em mim é um degredo em ecos,
um vago ruflar de um sentido.

Minha razão nada pode
contra a luz cadente
que vela e desvela
aquele tom amêndoa -
ferrugem quase dor
quase leve -
que a alma agora consente
e que de volta
à presciência do mundo
ao ninho da terra
vai me cumprindo.

Fernando Campanella, 2006


Duas opções de música para esta postagem, duas leituras sobre o mesmo tema:



sábado, 5 de junho de 2010

EM SEDA, BACH E A LUA DE LI PO


Foto by Fernando Campanella


EM SEDA

Por esta luz que me alumia
e me inventa em seda a estrada

entre a arte, alívio da memória,
e o mais trêmulo aceno do nada

- se com o mundo me acertei,me dasavim
já nem sei -

sou o que perdidamente
tomou rumo de mim.


Fernando Campanella, 2010




Há uma implacável dinâmica no tempo que nos faz eternos perdedores do presente, tecelões e ao mesmo tempo desfiadores da memória. E a memória se presta a isto: a desfilar seus fantasmas. Por isso ela é melhor rediviva na arte. A arte que, para mim, é a sìntese, a reconstrução possível, a recuperação sonhada, e eu diria , quase, a felicidade, mas esse conceito me escapa. Fico com a satisfação interna, com a possibilidade.

(Fernando Campanella)

A LUA DE LI PO

(BEBO SOZINHO AO LUAR)


Entre as flores há um jarro de vinho.
Sou o único a beber: não tenho aqui nenhum amigo.
Levanto a minha taça, oferecendo-a à Lua:
com ela e a minha sombra, ja somos três pessoas,
Mas a Lua não bebe, e a minha sombra imita o que faço.
A Sombra e a Lua, companheiras casuais,
divertem-se comigo, na primavera.
Quando canto, a Lua vacila.
Quando danço, a minha Sombra se agita em redor.
Antes de embriagados, todos se divertem juntos.
depois, cada um vai para a sua casa.
Mas eu fico ligado a esses companheiros insensíveis:
nossos encontros são na Via-Láctea.


(Li Po, tradução de Cecília Meireles)




terça-feira, 1 de junho de 2010

ESTRELA DA TARDE, DOIS MOMENTOS


Foto by Fernando Campanella

I
NATUREZAS

Já não me iludes,
estrelinha mimada e arredia,
não me sabes, nem me sentes,
por que então na toca da noite
eu , romântico, te buscaria?

És o mesmo que qualquer coisa,
que tanto fez, como tanto faz,
qualquer dia que já tarde indo
nenhum trato outro dia me traz.

Tens das formigas a natureza alheia
e, malgrado tua luz, a inconsciência fria.

És, sim, algo qualquer, um pó errante,
um limão de que eu bebesse o sumo
só para fruir o teu azedo instante.

Nem mesmo vês que agora sou como tu,
um cego de ti, uma bela viola,
um falso diamante.

Fernando Campanella, 2006
II

FAC- SÍMILE

Estrela, minha Alfa Centauro,
ou uma outra qualquer
a inumeráveis anos-luz de indiferença,
sou um terráqueo instável , nem me sabes,
mas gosto de à noite deitar-te em meus olhos,
cansado das luzes nervosas onde me lavro.

Estrela, meu astro reinventado,
por que assim enternecido de ti me enamoro,
na funda noite exorcizado ?

Serias como humanos
que de longe nos encantam
trazendo de perto o cheiro de entranhas,
o encadeamento dos hábitos?

Apascentarias ovelhas à tua órbita?
Saberias da duração de tua glória?

E se eu te tocasse
e te dissolvesses em absurdos ares?

Se eu te devorasse , terias de mim próprio
a consistência mesmíssima de um pó,
a fragilidade de um pirilampo
- tudo tão simples fac-símile de tudo,
tão em si mesmo desmitificado?


(Estrela, tua terna esfinge me basta.)

Fernando Campanella, 2007


quarta-feira, 26 de maio de 2010

EMILY DICKINSON, DIÁLOGO & TRADUÇÃO


Foto by Fernando Campanella

quantas mortes incorporo
- sobrevida -
para palpar a leveza
de uma folha caída

(Poema inspirado pelo poema
de Emily Dickinson, abaixo, por Fernando Campanella)

Há uma certa inclinação da luz
em tardes invernais
que oprime como o peso
dos tons dos hinos nas catedrais.

Celestial ferida nos impõe,
nenhuma cicatriz incita
salvo interna diferença
onde o significado habita.

Ninguém nada pode lhe ensinar,
ela é o selo-desespero,
uma aflição imperiosa
enviada a nós do ar.

Quando chega, a paisagem atenta,
as sombras cessam o respirar,
quando parte, é como a distância
no olhar da morte a se alongar.

(Emily Dickinson, tradução de Fernando Campanella)

Dedico a Emily esta peça do compositor britânico Henry Purcell (1659-1695), The Hole in the Wall.




There’s a Certain Slant of Light,
Winter Afternoons —
That oppresses, like the Heft
Of cathedral Tunes —
Heavenly Hurt it gives us — 5
We can find no scar,
But internal difference,
Where the Meanings, are — None may teach it — Any —
’Tis the Seal Despair — 10
An imperial affliction
Sent us of the Air —
When it comes, the Landscape listens —
Shadows — hold their breath —
When it goes, ’tis like the Distance 15
On the look of Death —

(There's a certain slant of light, Emily Dickinson)


domingo, 23 de maio de 2010

ASSIM PASSA... (SIC TRANSIT...)


Foto by Fernando Campanella


...E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate)...

(T. S. Eliot, trecho de 'A terra desolada',
tradução de Ivan Junqueira)


e quando dei por mim
vi um molusco
arrastando nos ombros
o tempo da casa

vi um monge rondando em ócio
- o hábito
a chama
e a mariposa alucinada

folhas caducas
espectros
(os ecos, os ecos)
a roda tocada à memória -

vi a turbulências das moscas -
a lava
e a concha sonhando a asa -

quando cheguei ao limbo de mim
e o vento seguiu
senti um abandono
e uma distância sem fim

pesei o silêncio
e o mundo certo
que perdi

vi a pedra chamando a água

Fernando Campanella, 2006