Foto por Fernando Campanella |
Um anjo desceu à terra
em lusco-fusco nutrido
cometa de um céu ausente
carente feito a loucura fria
(se eu voasse nessas asas
pleno não sei de que plenitudes
e em algum presépio aterissasse
talvez uma fenda se abrisse
para um deus infante buscado).
Baixou à terra um anjo sujo
sintético da agonia
anjo não denominado
desfeito em penas
em fiapos de graça esgarçado.
Porém a terra azulou
casebres iluminaram
a mãe pôs lenha no fogo
o pai trouxe a carne mais tenra
e o cheiro de carne e vinho
tornou a noite especial.
Crianças, anjos mais definidos,
espiaram frestas
antecipando mimos de natal.
E o pacto de corações ilhados
firmou-se então em alívios.
Anjo roto, neurótico,
anjo todas as dores
porém ainda anjo
infinitamente alegria -
belo anjo revisitado.
(Fernando Campanella, 1988)