sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

MIL-CORES


Mil-cores
Foto by Fernando Campanella

esta luz
que entra em meu quarto
resvala nas sombras

me distende os neurônios
apazigua meus mortos

toca o eterno
na cela da hora

afaga as mil cores
e faz de minha alma
uma casa feliz

Fernando Campanella, 2006

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

DIÁLOGO


Foto by Fernando Campanella

Abaixo, uma montagem que fiz com alguns poemas meus e os comentários de meu amigo Brandão, (http://poesiacronica.blogspot.com/ ) aos mesmos.
Um diálogo com um tema tão gasto/tão novo como um ano que finda e outro que inicia.

Os segundos, as horas, os anos,
lá se vai mais um dia
do tempo que inventamos....

(Fernando Campanella)

Criamos o tempo, que nos destrói, mas a beleza nos salva. A beleza é de tal forma essencial que a forma mais sublime de Santo Agostinho referir-se a Deus foi na apóstrofe: "Ó Beleza antiga e sempre nova!"

(José Carlos Mendes Brandão)

por que moer
a mesma pedra?

por que a mesma esfera
sobre ossos
ad nauseam a girar?

nada mesmo de novo
sob o sol parece haver -
salvo um olhar

(Fernando Campanella)

Nada de novo - nem o sol, nem a pedra. Conservemos o olhar virgem, olhemos para as coisas como se as víssemos pela primeira vez, o que é bem Alberto Caeiro, mas sempre vale. Tudo já foi dito, não há nehuma ideia nova. Somente o olhar é novo. Eu disse em mais de um poema algo como: "Vazei os meus olhos / para ver."

(José Carlos Mendes Brandão)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

AO QUE FINDA, AO QUE INICIA


Foto by Fernando Campanella

Um brinde
à santa paciência dos homens de boa vontade, à inclusão do amor, ao coração breve, à equanimidade, à noite escura que pressente a madrugada, ao Espírito que nos aquece, ao alívio da dor, aos amigos, aos que nos cercam – e um perdão aos que nos ferem , aos que nos esquecem...

Bebamos à saúde
de Bagdá, Telavive, Palestina e Nova Iorque, das Áfricas de sul a norte, da Europa, Ásia e Islândia, dos Lamas, do cordeiro de Deus, do papa, das madrassas, dos avatares, dos babalorixás, da boa política de todos os credos, das Américas de toda sorte, do continente australiano, das ilhas, dos oceanos, dos pingüins da Antártida, dos ursos do Pólo Norte...

Uma saudação
aos judeus, cristãos e mulçumanos, aos mouros, hindus e budistas, aos celtas, índios , beduínos, esquimós, pigmeus, ( aos eventuais alieníginas), aos místicos, aos peregrinos, aos românticos, aos ateus, aos poetas errantes, aos bem resolvidos e aos que sofrem – os do mundo excluídos, os encarcerados, os terminais e delirantes - ao velho e à criança, aos grandes e pequeninos...

Loas
aos pássaros de toda plumagem e canto, aos insetos, répteis e sapos, à dança da chuva, à alquimia do sol, às folhagens, ao pólen, aos cristais de quartzo, aos riachos, à lua, aos céus, ao solo, aos planetas, aos meteoritos e pirilampos, aos buracos negros e às intransponíveis galáxias – e à arte maior que a tudo abraça e que de tudo se encanta...

Uma libação
aos vivos e aos mortos, ao ano que se desmancha, e ao que principia, à Terra, à nossa espoliada casa, ao dia-após-dia, à boa palavras, à nossa jornada, à luz da ciência, ao protocolo de Kioto, a Você, a Mim, à nossa imensa família, aos vários sexos e raças, às nossas diferenças e igualdade, à utopia, a um novo milênio , à esperança de um novo mundo com mais LUZ e TOLERÂNCIA, a um DEUS, enfim, maior à nossa própria imagem, às cores, à boa palavra, ao arco da nova aliança.

( Fernando Campanella, 31 de Dezembro de 2006)

UM FELIZ ANO NOVO A TODOS OS AMIGOS .

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

IMAGEM DO DIA, E CAEIRO


Foto by Fernando Campanella

...E a criança tão humana que é divina
é esta minha quotidiana vida de poeta,
e é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta
sempre,
e que o meu mínimo olhar
me enche de sensação,
e o mais pequeno som,
seja do que for,
parece falar comigo...

(Alberto Caeiro, 'O Guardador de Rebanhos', poeta VIII.
Heterônimo de Fernando Pessoa)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

FELIZ NATAL


Foto by
Fernando Campanella

...Aqui também bate o sineiro
um sino doce, pequenino
e da branca torre, no natal,
todo ano como num encanto
desce do Deus menino
um soprinho.

(Fernando Campanella,
Versos finais do poema 'Sinos'
Dezembro de 2007)

Abaixo, quatro das canções de natal que muito me comovem. Algumas delas são voltadas ao silêncio da contemplação do mais belo mistério revelado miticamente aos homens. Outras expressam a alegria das duas vertentes humanas que se tocam nesta data: o sacro e o profano.

A todos os amigos que por aqui passam, meus votos de um sereno, feliz natal.







"Adeste fideles,
laeti triumphantes,
Venite, venite in Bethlehem!

Natum videte,
Regem angelorum
Venite adoremus"


( Venham fiéis
alegres e triunfantes
venham todos a Belém.

Venham e o contemplem,
Venham, adoremos
o deus dos anjos nascido)



quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

OS RIOS DE NOSSAS ALDEIAS


Rio Mandu, de Pouso Alegre, MG
Foto by Fernando Campanella


Quando mostrei a foto acima a um conhecido, ouvi algo como: 'Quem diria, não dá para reconhecer nosso velho, poluído, mal-cheiroso Mandu.'

O comentário me deixou feliz, por um lado, pois nele estava implícito um certo elogio à imagem do meu rio que eu registrara. Por outro, é triste constatar como nos distanciamos de coisas 'banais' como a natureza, dando as costas para suas manifestações que, para dizer o mínimo, nos viram nascer, e nos sobrevivem.

Às vezes, experimento, também, a estranha sensação de ser um Quixote, um romântico, anacrônico, vendo coisas que não existem, em fotos que crio, as quais parecem não corresponder à crua realidade dos fatos.

O rio em questão, por exemplo, já perdeu quase toda sua mata ciliar, é depósito de esgoto ( uma ' cloaca a céu aberto') e vem sofrendo acúmulo de entulhos e início de favelização às suas margens. Não faço vista grossa a essa realidade, jamais. E tudo isso, proveniente da inconsciência e do descaso, ainda mais me entristece. Mas insisto em buscar a beleza, anacrônico ou não, esteja ela onde estiver, ou onde meus olhos a virem, um projeto de alma.

Em um tempo de alarme ecológico, da babel de conferências do clima, e ainda com referência ao rio de minha, e de todas as aldeias, deixo aqui um pensamento, uma límpida frase, que muito me tocou nesta semana: 'A várzea pertence ao rio', da geógrafa, professora da USP, Odette Seabra.

As várzeas pertencem aos rios, os glaciares aos polos, as fragatas ao mar... Teremos que rever nosso insensato processo de urbanização, nossa relação com o ambiente, se buscamos a sobrevivência de nossa espécie. E artistas, afinal, à frente dos ecologistas, há muito vêm expressando isso na beleza 'ínútil' de sua arte.

Fernando Campanella




terça-feira, 15 de dezembro de 2009

VITRAIS


Foto by Fernando Campanella

(Eis o teu sol da meia noite
eis a luz transfigurada,
benditos os que vivem em bom termos
com o hóspede imaginário,
com a 'louca da casa'.)

(Fernando Campanella,
Versos finais da crônica 'O Sol da Meia Noite'.)

STAINGLASS WINDOWS

Why do I write?
Why do I sometimes
into my hands clasp the light
only to spread it,
a thousand gasping wings
probing the sideless skies -

and the universe
suddenly dresses bright
and a stainglass window
in a chapel then reflects
my heart…

Fernando Campanella

VITRAIS

Por que escrevo?
Por que em minhas mãos
às vezes a luz retenho
apenas para estendê-la -
mil asas ofegantes
sondando os céus
sem beirais –

e de repente o universo
se faz luzente
e uma capela
reflete então
meu coração
em seus vitrais...

Fernando Campanella