terça-feira, 6 de abril de 2010

CAMPO DE TREVOS


Foto by Fernando Campanella

O coração em vinho tinto
as pedras lisas
e ao dobrar de cada esquina
um dragão.
Vamos, me dê a mão,
no amor em seus labirintos
nos percamos com cuidado -
ah, este risonho campo de trevos
minado.

Fernando Campanella


Ouça no yoututube, abaixo, a Gymnopédie No.1 de Erik Satie, escolhida para esta postagem:

sábado, 3 de abril de 2010

EFEMÉRIDES (ABRIL)


Tela by Craigie Aitchison*
Guardian, El dado del arte
3.bp.blogspot.com/.../Cypress+Tree+and+Dog.jpg

abril são céus azuis
em ciprestes longos
agulhados

e uma brisa
um quase olfato
de outros jardins
submersos
não decodificados -

aves breves
bicam leve
a eternidade

Fernando Campanella

* Comentário extraído do blog ambitosproprios.blogspot.com, a respeito da obra de Craigie Aitchison, cuja tela (acima) ilustra esta postagem:
Na pintura a expressão poética tem sua própia rima e sua própia maneira de seduzir. E em algumas ocasiões, quando é um fiel reflexo da natureza do pintor, chega a tocar o centro de gravidade da sensibilidade coletiva. Este homem (Aitchison) e suas cores são um bom exemplo.
(Javier)

Ouça, abaixo, o Choro número 1 de Heitor Villa-Lobos, escolhido para esta postagem.


segunda-feira, 29 de março de 2010

À NOITE SONHAMOS


Lua nova
Foto by Fernando Campanella

...À noite sonhamos em um céu de metáforas
onde a mínima lua é unha que arrepia segredos
estrelas são hangares pequeninos
e a sombra, um lobo dócil que nos chama.

À noite rompemos degredos
volvemos aos ninhos
somos meninos -
infância distraída de seus medos.

Fernando Campanella


Notas:
1) Devo estar em uma fase lunar, realmente. Mas, revisitando meus poemas, percebo que há no que escrevo quase sempre uma lua, vaga ou explícita, a tocar minhas palavras.

2) Agradeço à minha amiga Maria Madalena que desde o início de nossa amizade acreditou no poema acima, e o adotou, tornando seus esses meus versos.

3) Ouça,abaixo, a Berceuse Op 57 de Chopin, tocado por Arthur Rubinstein.


domingo, 28 de março de 2010

VÓRTICE


Foto by Fernando campanella

carente
é juba sem pente
dente sem osso

fosso

mundo girando
em vórtice fundo

dentro sem beira
tempo sem flora
quando sem quando

alma que mente
boca que tudo piora

céu sem relento
buraco negro
estrela sem glória

amor indigente
serpente
que a cauda enrola

ora pro nobis

esfinge
que se devora

Fernando Campanella


Vídeo escolhido para esta postagem: Trecho da suíte para piano Op 25, primeira parte, de Arnold Schoenberg, executada por Glenn Could.



Nota: O compositor austríaco, Arnold Schoenberg, 'compôs obras que hoje classificamos como "atonalismo livre". Este conceito tenta dar sentido a uma prática que abandonou as hierarquias tonais. Não mais uma família de 7 notas centradas na polarização entre tônica e dominante. Agora o total cromático de 12 notas passava a ser usado como se todas tivessem a mesma importância...'

(Informação transcrita do blog 'Página de Cultura, por André Egg, link abaixo.)

quarta-feira, 24 de março de 2010

CONTOS DA LUA

Lua crescente
Foto by Fernando Campanella

lua, lua, lua,
três vezes giro
para retornar à fria
estática de teu silêncio
(Fernando Campanella)

I

após a chuva
a lua em bruma
expele um halo

e na lagoa rasa
passo a noite
engolindo os sapos

II

a lua banha o rosto
na lagoa

- peixes miúdos
transparecem
nesse oceano ralo

III

resguardo os amantes
estanco as ondas
e as marés -

no conto da lua
esta noite
claramente eu não caio

Fernando Campanella


Vídeo escolhido para esta postagem: 'Autum moon over the calm lake' (Lua de outono sobre o lago calmo), canção tradicional chinesa.

quinta-feira, 18 de março de 2010

POR ENTRE NUVENS COMPARTIDAS


Foto by Fernando Campanella


... a uma luz inclinada
por um certo sopro de outono
às vezes a tarde me quer voo
em transparências de azul
por entre as nuvens compartidas...

Fernando Campanella

- Ontem enxerguei um belíssimo arranjo de nuvens no céu ( foto acima). Registrei a imagem e quando a transferi para o computador vi que seria uma perfeita ilustração para o poema da postagem anterior , 'A tarde às vezes me convida'. Um pouco atrasado, mas não tão tardiamente assim, pois sempre há tempo para nova postagem e a outra imagem está em harmonia com o poema que ilustra. Disponho das duas, pois, e o trabalho fica completo.

- Oficialmente, o outono começa daqui a alguns instantes, às 14.33 de hoje, 20 de Março de 2010.

Época de muitos significados... Retiro então do baú deste blog uma poema apresentado nesta estação, no ano passado. Fica o mesmo como boas-vindas a esse tempo que tanto aguça minhas percepções, que me remete ao poeta antigo, intimista, o qual teima em existir, fala-me de suas coisas, e recusa-se a 'bater as botas' dentro de mim.


um estalido
cai uma folha seca
no quintal

factualmente

e o poeta retoma a velha tecla
e bate, bate
todo outono que sente

Fernando Campanella

A TARDE ÀS VEZES ME CONVIDA


Foto by Fernando Campanella

A tarde às vezes me convida
para um volteio nos campos
entre contornos de montes
ante o silêncio de uma ermida

a uma luz inclinada
por um certo sopro de outono
em transparências de azul
às vezes a tarde me quer voo
por entre as nuvens compartidas

- a tarde se esquece às vezes
louca e lindamente
que não tenho o descompromisso
das aves, que sou gente.

Fernando Campanella,

(Poema dedicado à minha amiga Maria Madalena)



Vídeo escolhido para esta postagem, 'Teahouse moon', by Enya