sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

SAGRA



colhe a palavra
senão cai de madura
ou leva o melhor a ave

- sangra a boca
de seus implícitos favos
sagra a língua
da inconsciente doçura -


sol a pino
é solstício
é verão

Fernando Campanella


ACEROLA
Fotos por Fernando Campanella


domingo, 13 de fevereiro de 2011

REVISITO A ANTIGA CAPELA



e a sombra da antiga opressão
resvala para a luz
em arte

Fernando Campanella



Capela de Santa Dorotéia
Fotos por Fernando Campanella


domingo, 6 de fevereiro de 2011

O EU CONFESSO (FRAGMENTOS)



FOTOS DE UMA TELA,
TIRADAS POR FERNANDO CAMPANELLA

aos trancos e barrancos
pensam-me meus pensamentos

quisera não ser a mim propenso
não fazer de céus plúmbeos
um certo espelho de meu tormento -

ter no fim o meu começo
ser uma porca (ou parafuso)
ao avesso
Fernando Campanella

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

SOB A LUA



à flor de minhas longínquas águas
(a lua como um barco)
remava o lendário Li Po

Fernando Campanella


Fotos por Fernando Campanella

(templo de meus ruídos secos
e de meus ouvidos gastos,
eis vosso silêncio onde mergulho,
poetas que adoto, a metáfora
singrando o mar enigmático)

Fernando Campanella



Eis a tradução do poema do poeta chinês Li Po, declamado no vídeo acima:

BEBENDO SOZINHO COM A LUA

De um pote de vinho entre as flores,
Bebo solitário. Ninguém me acompanha...

Até que, erguendo minha taça, pedi à lua brilhante
Para trazer-me minha sombra e para que fizéssemos três.

Ai de mim, a lua era incapaz de beber
E minha sombra me acompanhava despreocupada;

Mas ainda por um momento tive dois amigos
Para me alegrarem já no fim da primavera...

Cantei. A lua me encorajava.
Dancei. Minha sombra espojava-se no chão.

Tanto quanto me lembro fomos bons companheiros.
E depois fiquei bêbado e nos perdemos um do outro.
...A boa vontade deverá ser sempre mantida?

Fiquei olhando a longa estrada do Rio das Estrelas.

(Li T'ai Po)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

TEATRO DE SOMBRAS



Fotos por Fernando Campanella

Entremos em acordo,
sombra minha,
brindaremos, à noite,
às mariposas
e sobre as Três Marias
tomaremos um porre
de dracenas e jasmins;

serei, assim, teu servo,
a face que buscares:
o pária, o deserdado -
os medos que arquitetam a noite -
o fantasma que bem quiseres.

Mas, ouve-me, quando a lua
após sua mais discreta vênia
sonolenta se afasta,
e assim que os galos cantem
validando a madrugada,
já de ti desvio os olhos
e não mais te enxergo.


Recolherás tua cauda, então,
saciada e quieta, sombra minha,
e adormecerás nossa ressaca,
atrás, bem atrás, de mim.

(Fernando Campanella)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

E AOS NINHOS RETORNAM...


Foto por Fernando Campanella

Tarde de maio,
sou o que vaga...
(e as aves, sonolentas,
retornam à casa...)

(Fernando Campanella, colagem poética com verso do poema 'Vias Errantes', pelo autor)

domingo, 16 de janeiro de 2011

FLOR DE UM DIA


Foto por Fernando Campanella

gosto de imaginar-te
como capricho de um verão
qual pequenina estrela
que para meu dia refulge
e tão logo, num suspiro,
esvaece -

ah, delicada surpresa
de que o mundo me existe
me estremece

Fernando Campanella

(Transitorius...

Fotografei em macro a pequenina flor acima hoje de manhã. Agora à tarde, após intensa chuva, retornei ao quintal para vê-la, mas ali não mais se encontrava. Por isso, e desconhecendo seu nome científico ou popular, prefiro chamá-la 'Flor-de-um-dia'... ou de algumas horas.)