quarta-feira, 2 de março de 2011

ETÉREO*


Foto por Fernando Campanella


como giz de nuvem antiga
ou como céu de anis bleu
tua imagem sempre me

feito efeito urtiga
soprar teu talco blue
tocar teu peito nu

Fernando Campanella

*Etérea é a constituição dos sonhos. Etéreas as nuvens, as artes, a poesia... Etéreo,o poema acima que me foi lido por uma grande amiga num sonho e que ao acordar numa manhã coloquei no papel. Dupla autoria? Talvez, por conta do etéreo.

"Se lá no assento etéreo, onde subsiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste."
(Luís de Camões, Rimas, p. 172)



terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

E ME CHAMA NA ESTRADA


Foto por Fernando Campanella

como alecrim ao molho
ouvir um 'Deus te abençoe'
quando a memória se estende
e me chama na estrada

Fernando Campanella



Parece haver um engano na letra da canção popular 'Alecrim Dourado' no vídeo acima. Acredito que a os versos mais exatos seriam assim:

Alecrim, alecrim dourado
que nasceu no campo
sem ser semeado

Foi meu amor
que me disse assim
que a flor do campo é o alecrim

De qualquer forma, gosto muito de como o instrumentista interpreta a música nesse 'youtube' escolhido para a postagem.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

SAGRA



colhe a palavra
senão cai de madura
ou leva o melhor a ave

- sangra a boca
de seus implícitos favos
sagra a língua
da inconsciente doçura -


sol a pino
é solstício
é verão

Fernando Campanella


ACEROLA
Fotos por Fernando Campanella


domingo, 13 de fevereiro de 2011

REVISITO A ANTIGA CAPELA



e a sombra da antiga opressão
resvala para a luz
em arte

Fernando Campanella



Capela de Santa Dorotéia
Fotos por Fernando Campanella


domingo, 6 de fevereiro de 2011

O EU CONFESSO (FRAGMENTOS)



FOTOS DE UMA TELA,
TIRADAS POR FERNANDO CAMPANELLA

aos trancos e barrancos
pensam-me meus pensamentos

quisera não ser a mim propenso
não fazer de céus plúmbeos
um certo espelho de meu tormento -

ter no fim o meu começo
ser uma porca (ou parafuso)
ao avesso
Fernando Campanella

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

SOB A LUA



à flor de minhas longínquas águas
(a lua como um barco)
remava o lendário Li Po

Fernando Campanella


Fotos por Fernando Campanella

(templo de meus ruídos secos
e de meus ouvidos gastos,
eis vosso silêncio onde mergulho,
poetas que adoto, a metáfora
singrando o mar enigmático)

Fernando Campanella



Eis a tradução do poema do poeta chinês Li Po, declamado no vídeo acima:

BEBENDO SOZINHO COM A LUA

De um pote de vinho entre as flores,
Bebo solitário. Ninguém me acompanha...

Até que, erguendo minha taça, pedi à lua brilhante
Para trazer-me minha sombra e para que fizéssemos três.

Ai de mim, a lua era incapaz de beber
E minha sombra me acompanhava despreocupada;

Mas ainda por um momento tive dois amigos
Para me alegrarem já no fim da primavera...

Cantei. A lua me encorajava.
Dancei. Minha sombra espojava-se no chão.

Tanto quanto me lembro fomos bons companheiros.
E depois fiquei bêbado e nos perdemos um do outro.
...A boa vontade deverá ser sempre mantida?

Fiquei olhando a longa estrada do Rio das Estrelas.

(Li T'ai Po)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

TEATRO DE SOMBRAS



Fotos por Fernando Campanella

Entremos em acordo,
sombra minha,
brindaremos, à noite,
às mariposas
e sobre as Três Marias
tomaremos um porre
de dracenas e jasmins;

serei, assim, teu servo,
a face que buscares:
o pária, o deserdado -
os medos que arquitetam a noite -
o fantasma que bem quiseres.

Mas, ouve-me, quando a lua
após sua mais discreta vênia
sonolenta se afasta,
e assim que os galos cantem
validando a madrugada,
já de ti desvio os olhos
e não mais te enxergo.


Recolherás tua cauda, então,
saciada e quieta, sombra minha,
e adormecerás nossa ressaca,
atrás, bem atrás, de mim.

(Fernando Campanella)