aquelas gotas de chuva nas folhas pesam, pesam... e se tornam leves quando não são mais tempo e caem
Fernando Campanella
...Um brinde aos vivos e aos mortos, ao dia-após-dia, ao ano que se desmancha, e ao que principia, à Terra, à nossa espoliada casa, à nossa jornada, ao protocolo de Kioto, à física quântica, a Você, a Mim, à nossa imensa família, aos vários sexos e raças, às nossas diferenças e igualdades,
à utopia, à boa palavra, a um novo milênio, à esperança de um novo mundo, com mais respeito e tolerância, a um Deus, enfim, maior à nossa própria imagem, às cores, ao arco da nova aliança.
Fernando Campanella, passagem do ano de 2006
FELIZ ANO NOVO A TODOS MEUS QUERIDOS AMIGOS DA BLOGOSFERA.
UM FELIZ NATAL A TODOS AMIGOS QUE ME VISITAM, QUE SEMPRE DEMONSTRARAM CARINHO E APRECIAÇÃO PELO MEU TRABALHO. O ESPÍRITO DA ARTE (EM DEUS, ACIMA DE TODA HUMANA ARTE) NOS IRMANA.
(Nunca esquecerei que à entrada daquela mata, sob a chuva, tinha um tronco e que nele brotou o encanto de cogumelos azuis.)
Fernando Campanella
No vídeo abaixo, minha grande amiga Marialba Matos de Castro, professora de flauta doce e teoria de música em nosso conservatório, e em em faculdade de São Paulo, criadora do grupo de música antiga 'Le Bizarre', canta 'Besame' de Flávio Venturini.
assim na terra abro as comportas da criação (e que o espírito da arte me proteja)
Fernando Campanella
Fotos por Fernando Campanella
"Para os gondes, do estado de Madhya Pradesh, na Índia central, a arte é uma forma de prece, eles acreditam que a fortuna cabe àqueles que conseguem uma boa imagem." Para mim, ela é a forma que encontro de abordar, de intuir a Deus.
(Fernando Campanella)
Fonte: Resenha do livro, A vida secreta das árvores, da editora Martins Fontes.
(Pinacoteca Nacional, São Paulo, enviado por minha amiga Ruby)
Fotos por Fernando Campanella
A casa nas fotos acima não é uma casinha de palha, parece abandonada ao pé de alguma serra de Minas, não tem baunilha nem manacás, mas em agosto/setembro fica toda juncada de flores de ipê amarelo. Nela, como em tantas outras, minha alma habita quando me faltam as palavras e a memória me fala.
Minha homenagem ao grande seresteiro e poeta do Norte de Minas, Godofredo Guedes, pai de Beto Guedes, com sua 'Casinha de Palha', no vídeo abaixo:
(Fernando Campanella, trecho do poema de dezembro de "Efemérides")
...aqui está mais profundo segredo a todos velado
(aqui está a raiz da raiz e o botão do botão
e as alturas das alturas de uma árvore chamada vida; que cresce
para além do que a alma pode esperar ou o pensamento esconder)
e é esta a maravilha que mantém as estrelas separadas
Trago o teu coração (guardo-o dentro do meu coração)
(Trecho de um poema de e.e.cummings, tradução de Manuel Anastácio, gentilmente enviado por minha amiga Gerana Damulakis, do blog http://leitoracritica.blogspot.com/)
A árvore da vida é um mito, um tema recorrente em várias culturas e religiões, na literatura, na música, na pintura, etc. O trecho do belo poema de e.e.cummings, acima, é um exemplo de tal recorrência, assim como a música 'The tree of life', da trilha sonora do filme 'The Fountain", no vídeo abaixo.
meus versos em uma garrafa ou em uma barca vazia - meu remador é o vento e alguma ilha a utopia
Fernando Campanella
"...A ficção (a arte) não é a vida, senão uma réplica da vida, que a fantasia dos seres humanos tem construído, dando-lhe algo que a vida não tem: um complemento ou dimensão que é precisamente o 'fictício' da ficção, o propriamente 'novelesco' de uma novela, aquilo de que a vida real carece e que desejamos que tivesse..."
(Mario Vargas Llosa, El Viaje a la Fición, parênteses com adendos meus)
"Escreve-se (cria-se arte) para preencer vazios, para fazer separações contra (e ao mesmo tempo reintegrar) a realidade, contra as circunstâncias."
(Mario Vargas Llosa, parênteses com adendos meus)
Vídeo: 'Rema na Canoa', cantiga das destaladeiras de fumo de Arapiraca, Alagoas.
Vídeo feito por Diana Liz Duque Sandoval, da Estação Experimental Caparo, Venezuela
o luar sobre a lagoa
cada amor em meu lugar
e já não há metáforas:
o belo para mim
é também o sapo.
(Fernando Campanella)
Obs. Os versos acima já foram aqui postados alguns meses atrás. Porém hoje encontrei um vídeo por Diana Lis Duque Sandoval no site de fotografias FLICKR e me veio a ideia de uma repostagem do poema, visto que finalmente encontrei sua perfeita ilustração.
Meus parabéns e minha admiração à Diana pelo belo trabalho. Vejam sua página no Flickr, onde se apresenta como Lizduquesa:
Meu caro eu, meu poeta obscuro, se as portas se fecham, acalma o coração que o Todo deseja. Deixa supurar o mar da fúria. Eu sou essa fúria espalmada, aquele caracol que de teu limbo escapa. Um ângulo da alma, um certo abismo que te chama. Mas não te deixes sorver por essa força que te toma. Aceita, escreve... E lembra-te: lesmas, abelhas, abismos não são propriamente aos quinze minutos de fama destinados.
Se a poesia te chama, empenha-te em colocá-la para fora com as ferramentas que te servem. E aos ouvidos que te pedem, fala...
Entra em bons termos com a mágoa. E que tua alma acolha mais e mais a dor dos elefantes...
Achega-te a mim, a tua secreta verdade...
Sente como é bom pernoitar no coração dos amigos que te acolhem, te apalpam. São eles teus termômetros, tuas asas.
Vai ao teu jardim, ama tuas flores, observa aquela luz que as ilumina e se transfigura em tua alma. A beleza são esses achados, um certo conciliar entre o sentido que enxerga e as inesgotáveis manifestações da alteridade. É o paradoxo encantado, ilusão que nos diz que não existimos sem o mundo, e este não vive sem nossos olhos. Expressa essa beleza que é essência, que ao espírito remete.
No mais, os dias passam, o sol diminui no ocaso seu passo. E tudo volta, com o novo dia, ao seu antigo hábito.
Ah, escreve para os elefantes. Dizem que eles não esquecem. Assim tua alma inteira irá se aquientando em tua casa...
Fernando Campanella
Tradução do trecho de Demian, de Hermann Hesse, apresentado em italiano no vídeo acima:
"... E me contou uma estória de um adolescente que estava enamorado de uma estrela.
Junto ao mar, estendia os braços para ela, adorava-a, sonhava com ela e lhe dedicava todos os seus pensamentos. Mas sabia, ou pensava saber, que um homem não pode alcançar uma estrela. Imaginava que seu destino era amá-la sempre sem esperanças e construiu sobre essa ideia toda uma vida de renúncia e de dores, muda e fiel, que devia purificá-lo e enobrecê-lo. Uma noite estava de novo sentado junto ao mar, no alto de uma escarpa, contemplando a amada, ardendo de amor por ela. E num instante de profundo anseio, saltou no vazio para alcançar a estrela. Mas ainda não pensou na possibilidade de alcançá-la e caiu, arrebantando-se contra as rochas. Não sabia amar. Se no momento de saltar tivesse força de alma bastante para crer fixa e seguramente na obtenção de seu desejo, teria voado para o ceu para encontrar sua estrela.
Gosto de pensar na fotografia como a perfeita arte da miniatura, onde comprimimos o mundo, e o universo, por extensão, para que caibam dentro de nossos sonhos.
Fernando Campanella
Foto by Fernando Campanella
(I like to think of photography as the perfect art of miniature, where we compress the world, and the universe, by extension, so that they fit into our dreams.)
Foto por Fernando Campanella ...em algum lugar de um tempo que só me sabe a memória... (Fernando Campanella) Candeeiro à beira da estrada paisagens de neblinas e comas - cheiram mimos de melissa dormem casas sombreadas pupilas noturnas voam. Coração circunspecto de Minas, bate em noite, bate em dia, abre uma artéria em mim.
Sr. Romildo, do alto de S.Domingos.
Foto (concedida) por Fernando Campanella
(Coração circunspecto de Minas,
bate em noite, bate em dia,
abre uma artéria em mim.)
Vídeo: Beto Guedes cantando 'Noite sem luar', canção de seu pai, Godofredo Guedes.
Ao buscar uma ilustração para esta postagem, deparei-me com o blog de Andréa, 'Por um triz', onde vi este texto, assinado por ela, que, acredito, de alguma forma enquadra-se no poema acima:
"Para os antigos gregos, Mnemósyne era a deusa da memória, a mãe das nove musas que inspiraram os artistas. Seu simbolismo define que a memória precisa ser criada pelas artes. Numa civilização oral, como foi a grega, nada mais compreensível que a divinização da memória.
A memória é a mãe das artes, por meio delas é que mantém sua existência. Por isso ela presidia a poesia, permitindo ao poeta saber e dizer o que os "outros" não sabiam.
Que a memória seja mãe das musas significa que a lembrança é a mãe da criatividade. Na filosofia dinstinguiam-se dois modos de rememoração: Mneme, arquivo disponível que se pode acessar a qualquer momento e Anamnese, memória que está guardada em cada um e pode ser recuperada com certo esforço. A primeira envolve um registro consciente, enquanto a segunda manifesta o que há de inconsciente. A memória era a deusa que permitia a conexão com os mortos, com o que passou, inclusive com o que poderia ter sido, com o que, para sempre, não mais nos pertence... "
. ..Night is but a wondrous, sounding chance... (...A noite é apenas uma assombrosa e sonora chance...)
Fotos por Fernando Campanella
YELLOW MOON
Don't mourn over past lovers, yellow moon, for you have preserved your charms and enticed mortals to your feet since generations of old. Don't cry, though we're lone wanderers and you last so much longer than I. Night is but a wondrous, sounding chance - take my hand, thus, leave your seat - shall we dance?
Fernando Campanella
LUA AMARELA
Não lamentes idos amores, lua amarela, pois ainda preservas teus encantos envolvendo mortais com tua trança desde gerações imemoriais. Não chores, embora solitários errantes sejamos, e sobrevivas tão mais a mim. A noite é apenas uma assombrosa e sonora chance - dá-me tua mão, assim, sai de teu canto - e que comigo dances.
Fernando Campanella
Recebi o youtube abaixo de meu amigo Jairo de Brito. Trata-se de gravação, por Ravi Shankar e família, de uma música de George Harrison 'I am missing you'. O ex-beatle a compôs em homenagem a Krishna, divindade hindu.
Os versos iniciais da canção dizem: ' Sinto falta de ti, Oh, Krishna, onde estás?'
Conta-se que Srila Prabhupada, um mestre espiritual da India, ao ouvir essa bela canção teria dito que se George continuasse a compor música assim ele avançaria rapidamente na vida espiritual.
Um trecho do Bhagavad Gita:
"...Krishna havia se retirado para a floresta e estava em meditação embaixo de uma árvore, quando um caçador, na penumbra da floresta, o confunde com um antílope e o fere na planta do pé. Mesmo ferido de morte, aceita-a com grande serenidade."
"Inevitável é a morte para os que nascem; todo morrer é um nascer - pelo que não deves entristecer-te por causa do inevitável."
...de onde esta concha que verbaliza os pássaros? este azul que esfuma os montes e inventa um céu meu poder de ficção meu sonho que paira tão alto e para sempre me escapa... Fernando Campanella (Trecho do poema Interlúnio)
Galen Smith, que canta e toca 'Scarborough fair ' no vídeo feito para um projeto escolar, abaixo, nos diz que essa canção, popularizada por Simon and Garfunkel no final de década de sessenta, é na realidade uma balada tradicional folclórica inglesa. Sua criação remonta pelo menos a duzentos anos.
Os versos, segundo algumas pesquisas, eram para ser cantados em dueto, alternadamente, onde um amante imporia ao outro tarefas impossíveis de serem cumpridas. Pela realização das mesmas, provariam que verdadeiramente amavam, merecendo do mesmo tanto ser amados.
Uma outra interpretação da letra da música aponta para a desilusão de alguém que pelo amor traído impõe tarefas absurdas à pessoa amada para que esta reconquiste sua confiança.
Qualquer que tenha sido a motivação inicial, o tema dessa melancólica, e ao mesmo tempo bem-humorada canção, parece ser a dúvida acerca da existência de um verdadeiro e eterno amor. Mais a sensibilidade, a dor de um sentimento desacreditado, e a quase impossibilidade de recuperação. No final da letra, após a enumeração das difíceis tarefas, temos estes belos versos:
"... o amor impõe impossíveis tarefas
mas não mais que qualquer coração peça..."
Deixo aqui a tradução de uma estrofe onde podemos sentir o grau de dificuldade, a impossibilidade, mesmo, do cumprimento da exigência imposta:
"...Vocé está indo para a feira de Scarborough?
Salsa, sálvia, rosmaninho e tomilho...
Diga a ela para fazer-me uma camisa de cambraia...
Sem costura nem o bom trabalho de uma agulha
Então ela será o verdadeiro amor de minha vida..."
No Caderno 2 do jornal O Estado de São Paulo de domingo passado, uma matéria, por Ubiratan Brasil, sobre o lançamento de 'A Duração do Dia, novo livro de poesia de Adélia Prado após um jejum de onze anos. E uma entrevista concedida ao jornal pela poeta por e-mail, de Divinópolis, MG, onde cuida de sua delicada saúde.
Da entrevista, destaco algumas considerações da escritora sobre o seu processo poético:
"A poesia, a 'beleza', é epifânica sempre. É uma aparição oracular pedindo corpo por via da palavra. Não a invento, eu a recolho. Como? Ainda não se descobriu o maravilhoso caminho da criação de um poema, estranho ao próprio autor. Ao fim, a arte é maior que o artista. Sem esta convicção (e se equivoca bastante) não deve vir a público. A beleza exige obediência restrita."
"...cada um de nós tem a terra e o céu para lhe inspirar."
"(a poesia) é energia porque é viva, pulsa, tem sangue e alma divina."
E a reportagem nos traz em primeira mão este maravilhoso poema, do novo livro de Adélia:
ALVARÁ DE DEMOLIÇÃO
O que precisa nascer
aparece no sonho
buscando frinchas no teto,
réstias de luz e ar.
Sei muito bem
do que este sonho fala
e a quem pode me dar
peço coragem.
(Adélia Prado, A Duração do Dia, editora Record)
Transcrevo aqui, com muita alegria, uma pequena grande carta que Adélia me enviou em 1989, respondendo a uns poucos poemas que lhe enviei para apreciação através de um aluno meu, de Divinópolis, que a conhecia:
Antônio Fernando,
tive imensa alegria ao ler os seus textos, pois são de um poeta! Não se dá conselhos a poetas. Escreva, escreva, escreva, para sua e nossa alegria.
Por que não manda seus originais para este editor?: ............................
Pentecostes está chegando. Feliz incêndio pra você! Que a poesia te inunde. Como fiquei feliz!
O abraço da Adélia Prado.
Divinópolis, 26 de abril de 1989.
PS - Não se esqueça de mim quando fizer seu primeiro livro. Não fique ansioso. Deus quando dá o dom, dá os meios. Aguarde.
Muitos anos depois, fiz um blog, e enviei o 'link' para Adélia, pois o considero como um livro que realizo. Infelizmente ela não pôde acessá-lo devido a problemas de saúde, segundo me informou seu marido. Mas ficam aqui meu agradecimento e meu carinho por essa poeta que em algum tempo de sua vida teve a delicadeza de responder, em uma carta escrita à mão, aos meus poemas incipientes, e de me incentivar.
Eu enviara a ela cinco poemas, dos primeiros que escrevi. Escolhi um deles, que aqui transcrevo:
Perguntai a um sapo o que é a beleza, o supremo belo, o to kalon. Responder-vos-á ser a sapa com dois olhos exagerados e redondos encaixados na cabeça minúscula, a boca larga e chata, o ventre amarelo, o dorso pardo...
Antes que julho acabe, e as paineiras se esgotem, fica aqui um registro da bela árvore em fotos tiradas no domingo passado.
Julho é essa paineira que se esvai, porém as sementes se espalham, gerando outras árvores, dando seguimento ao capricho vital da natureza.
E em dezembro/janeiro as mesmas árvores, agora secas, estarão novamente carregadas de flores. O que se sente como despedida, ou morte, fica sendo apenas ensaio para renovação.
(Gosto de sentir que as partes não se perdem, que o Todo se mantém - eternidade retomada em ciclos.)
Fernando Campanella
O vídeo abaixo é um belo trabalho realizado por minha amiga Leila Laderzi em outubro de 2008 com fotos que eu tirava de minha região à época. Espero que apreciem.