se abro minhas cartas como nervuras ao tempo não se engane que sou frágil ou transpareço - vão meus comboios ao relento eu retardo há em mim silêncios de esfinge sou o cristal que me guardo Fernando Campanella
como giz de nuvem antiga ou como céu de anis bleu tua imagem sempre me feito efeito urtiga soprar teu talco blue tocar teu peito nu
Fernando Campanella *Etérea é a constituição dos sonhos. Etéreas as nuvens, as artes, a poesia... Etéreo,o poema acima que me foi lido por uma grande amiga num sonho e que ao acordar numa manhã coloquei no papel. Dupla autoria? Talvez, por conta do etéreo.
"Se lá no assento etéreo, onde subsiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste."
(Luís de Camões, Rimas, p. 172)
colhe a palavra senão cai de madura ou leva o melhor a ave - sangra a boca de seus implícitos favos sagra a língua da inconsciente doçura - sol a pino é solstício é verão
à flor de minhas longínquas águas (a lua como um barco) remava o lendário Li Po
Fernando Campanella
Fotos por Fernando Campanella
(templo de meus ruídos secos e de meus ouvidos gastos, eis vosso silêncio onde mergulho, poetas que adoto, a metáfora singrando o mar enigmático) Fernando Campanella
Eis a tradução do poema do poeta chinês Li Po, declamado no vídeo acima:
BEBENDO SOZINHO COM A LUA De um pote de vinho entre as flores, Bebo solitário. Ninguém me acompanha... Até que, erguendo minha taça, pedi à lua brilhante Para trazer-me minha sombra e para que fizéssemos três. Ai de mim, a lua era incapaz de beber E minha sombra me acompanhava despreocupada; Mas ainda por um momento tive dois amigos Para me alegrarem já no fim da primavera... Cantei. A lua me encorajava. Dancei. Minha sombra espojava-se no chão. Tanto quanto me lembro fomos bons companheiros. E depois fiquei bêbado e nos perdemos um do outro. ...A boa vontade deverá ser sempre mantida? Fiquei olhando a longa estrada do Rio das Estrelas. (Li T'ai Po)